Antero Greco: São Paulo e Cruzeiro, dois gigantes em busca de rumo
São Paulo e Cruzeiro são dois gigantes da bola; só não concorda quem torce contra, e isso "pertence ao futebol", como diria Vanderlei Luxemburgo. Ambos colecionam títulos locais, brasileiros e internacionais. Têm torcidas expressivas e a tradição de revelarem talentos. Enfim, para ficar no lugar-comum: possuem camisas que entortam varais.
Até aí, tudo muito lindo e poético. Na prática, há ruídos na vida deles. Os dois há algum tempo saíram do caminho da virtude e das conquistas. Nesse quesito, o Tricolor está pior, pois amarga uma década de secura quase total (tem só a Sul-Americana de 2012). A Raposa no mesmo período ganhou 2 Brasileiros, 2 Copas do Brasil e beliscou taça regional.
O São Paulo vive na base de tentativa e erro, dentro e fora de campo. Entra ano, sai ano, contrata e vende um punhado de jogadores, chama e dispensa treinadores dos mais variados calibres. E chega ao fim de temporada buscando algo positivo no balanço, financeiro e esportivo. Ultimamente se contenta com vaga eventual para a Taça Libertadores.
Não se pode negar que a turma que no momento comanda o futebol são-paulino se esforça para levantar o astral do público. Está aí a chegada de Daniel Alves para comprovar. O regresso à pátria do veterano vencedor funcionou, no plano do marketing, como mola para jogar a esperança do torcedor bem pra cima. Basta ver como o Morumbi lotou na festa de apresentação, ao estilo do que fazem os grandes europeus.
Mas vamos com calma.
Concentrar em Daniel Alves a esperança de que títulos virão, de preferência já no Brasileiro de 2019, é arriscado e exagerado. A presença dele no elenco será importante, do ponto de vista técnico; porém, não é o salvador da pátria. Bom lembrar que havia projeção empolgada com o retorno de Hernanes e Pato; no entanto, não se transformaram em fatores de desequilíbrio para a equipe. São úteis, e não muito além disso.
Mas Daniel Alves é a garantia de plateia e indício de que os cartolas querem se mexer. Isso é ótimo. Coloco nessa conta, também, a aposta em Juanfran, espanhol rodado que atrai, no mínimo, curiosidade para saber o que mostrará. Caberá a Cuca a tarefa de tirar proveito máximo da dupla.
Junto com os demais eles podem fazer o São Paulo brigar pelo bloco principal na Série A. Mais importante é que o clube mantenha para 2020 a base (boa) montada agora e que pare de pisar na bola. O esforço para se reaprumar merece aplauso.
Trilho certo é o que falta - demais - para o Cruzeiro. Depois de anos de destaque, desandou. Os bastidores viraram um pandareco, com dirigentes sob suspeita e com ação da polícia. Por tabela, as finanças entraram em parafuso.
Demorou, mas a crise chegou ao time. E com tudo: com eliminação na Libertadores, com situação delicada na Copa do Brasil e afundado na classificação do Brasileiro. O primeiro a pagar a conta foi Mano Menezes, demitido após a derrota para o Inter, em casa.
Concordo que o ciclo do treinador fechou; ele não conseguia arrancar mais de um grupo de qualidade, porém envelhecido. A média de idade é alta, e isso conta quando são muitos os desafios a vencer. Mano deveria ter pegado o boné na parada para a Copa América.
Para não ter desfecho de ano mais desastroso, precisa driblar o rebaixamento - é esse o desafio do bombeiro a substituir Mano. Banido o fantasma da Segundona, será obrigatório construir base sólida para 2020. E aí vem o perigo: terá recursos para uma reformulação com qualidade no elenco? Vai resolver suas constrangedoras pendências administrativas?
O São Paulo sinaliza com ações mais firmes, em campo. O Cruzeiro preocupa, por dentro e por fora das quatro linhas.
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