Zaidan: Copa Libertadores tem, outra vez, uma semifinal de clássicos
Parece haver, nestes dias, uma necessidade de se eleger o melhor da história nisso ou naquilo. Na Libertadores deste ano, quatro grandes clubes disputarão a semifinal, e há uma expectativa adicional pelo fato de que clássicos nacionais definirão quais times chegarão à final, em Santiago. De um lado, Boca e River; do outro, Grêmio e Flamengo. É realmente sensacional e marcante que haja confrontos assim em um momento decisivo da principal competição sul-americana, o que torna compreensível o rótulo apressado: "Esta semifinal é a maior de todos os tempos!".
Certas coisas não são facilmente mensuráveis. Houve, é claro, outras semifinais de Libertadores no mínimo tão importantes e grandiosas quanto a deste ano. Em 2018, também havia dois grandes do Brasil e dois da Argentina; Boca e River fizeram a inédita final, depois de passarem, respectivamente, por Palmeiras e Grêmio. Em 63, uma das semifinais foi entre Peñarol e Boca, então duas equipes formidáveis, e a outra foi entre Santos e Botafogo, ou seja, um embate direto entre dois fenômenos: Pelé e Garrincha.
O Santos havia vencido tudo no ano anterior: Paulista, Taça Brasil, Libertadores e Mundial; o Botafogo, por sua vez, teve cinco titulares na seleção campeã do Mundo em 62: Nilton Santos, Didi, Zagallo, Amarildo (que entrou no time depois da contusão de Pelé) e Garrincha - o melhor jogador daquela Copa. O Santos passou pelo Botafogo e, na final, venceu o Boca no Maracanã e na Bombonera.
Enfim, não há motivo para comparações de grandeza ou de importância histórica entre a semifinal de 2019 com as do passado. Basta constatarmos que os confrontos deste ano serão, sim, extraordinários, independentemente do quanto os jogos serão tecnicamente bons. Para além da importância inerente a semifinais de Libertadores, a excepcionalidade neste ano está garantida pela grandeza dos clubes, pela rivalidade entre eles e pela qualidade de seus times atuais.
O Boca Juniors tem seis títulos de Libertadores; o River, quatro; o Grêmio, três; e o Flamengo, um. O clássico argentino não precisa de incentivo adicional para ser relevante. Cada encontro, no Monumental ou na Bombonera, ganha ares de definitivo, de conclusivo; parece fazer a Argentina tornar-se alheia ao que se passa no resto do mundo. Mas, desta vez, está claro que torcedores e jogadores do Boca encaram os dois jogos que vêm por aí como a chance de resposta ao que houve na final do ano passado: o empate na Bombonera, a confusão no Monumental, o adiamento, a interferência de Infantino, a decisão em Madri, a virada no jogo e o título do River.
Analisem, se ainda não o fizeram, o atual elenco do Boca; depois, confiram os inscritos pelo River. Convenhamos, não há craques. O River, porém, tem Marcelo Gallardo, que só não é o treinador da seleção argentina porque não aceitou o convite da AFA. Ele foi campeão uruguaio pelo Nacional e, em 2014, foi contratado para recolocar o River em seu caminho natural de conquistas. Para Gallardo, era a volta para casa, o retorno para o clube pelo qual ele havia jogado muita bola. E voltou apenas dois anos depois de o clube emergir da traumática temporada na segunda divisão.
Gallardo é, obviamente, o principal responsável pelo novo engrandecimento do River, o que inclui a conquista de uma Sul-Americana e de duas Libertadores. Gallardo é o trunfo do River. A silenciosa arma do Boca é a ideia de revanche.
Flamengo e Grêmio têm bons times, mas só agora vão abrindo distância para a instabilidade que ambos experimentaram no primeiro semestre. O Grêmio teve momentos difíceis na fase de grupos da Libertadores e um início ruim no Brasileiro. Renato impunha tranquilidade a si mesmo e garantia que o time reagiria. Assim foi. É certo que o treinador nunca fez de conta que estava de olho em todos os títulos; antes, deixou claro que, mais uma vez, trabalharia para vencer Copa do Brasil ou Libertadores; no campeonato nacional, era só questão de evitar a área de risco.
Pois eis que o Grêmio chegou a duas semifinais e não está muito longe de uma boa posição no Brasileiro. O time ainda sofre por ter perdido Grohe, mas está, tecnicamente, cada vez mais próximo do nível que alcançou há dois anos.
O Flamengo melhorou muito desde a chegada de Jorge Jesus. Claro que as coisas ficaram mais fáceis porque também Rafinha e Filipe Luís foram para a Gávea. Mas é fato que Jorge Jesus tem demonstrado as qualidades elementares de um bom treinador: saber utilizar as características e tirar o máximo possível de seus jogadores. Enquanto o Grêmio enxerga a possibilidade de ganhar Copa do Brasil e Libertadores no mesmo ano, o Flamengo parece disposto a jogar tudo o que puder para, nesta temporada, ser campeão nacional e continental. No Brasil, só o Santos conseguiu tal feito; e por dois anos seguidos: 1962 e 63.
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