Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Caso Monark: streamers são uma mídia em formação
Assim que a repercussão sobre a abominável declaração do influenciador Monark sobre o nazismo ganhou as redes sociais, a Federação do Estado do Rio de Janeiro anunciou a suspensão das transmissões do campeonato carioca no Flow Podcast. A parceria estava incluída nos pacotes de tentativas de inovação que o campeonato promove nesta atual edição, em busca de novas audiências.
Tal qual a famosa "live" do Casimiro para promover o lançamento de uma série sobre Neymar na Netflix, o episódio desta semana ajuda a cravar parâmetros novos para plataformas que vêm crescendo, mas ainda não atingiram a escala que as TV têm, seja em alcance, seja em investimento publicitário. Casimiro fez o mercado inteiro falar sobre o quanto o conceito de exclusividade se mostra ultrapassado quando o assunto é estratégia de promoção de um produto. Ou ainda, como bem definiu Mauro Beting "o conteúdo é exclusivo, o produtor do conteúdo, não". Monark, por vias opostas, também criou um marco.
A liberdade que a tecnologia trouxe a produtores de conteúdo é, sem dúvidas, um ganho social. O que ainda precisa ser absorvido são os parâmetros de mediação e responsabilidade que ser um agente de comunicação em massa traz. Isso já tinha sido absorvido pelas mídias antigas e terá que ser pelas mídias novas. Quanto mais crescem, mais se aproximam disso. Uma hora a conta chega - e chegou.
A posição de Monark surpreende um total de zero pessoas que acompanhem a trajetória polemicista do influenciador. Na última década, vivemos no mundo todo os efeitos do "choque como método" para se propagar ideias radicais. Não foi a primeira projeção de Monark na mídia por chocar as pessoas destilando sua estupidez. Dito isso, quem quer que tenha ido ao seu programa ou patrocinado ou escolhido-o como plataforma de transmissão, a essa altura, não pode se dizer surpreso. É preciso assumir as consequências de optar pelo modismo das novas mídias apenas avaliando a audiência que elas já têm.
É um caso que deve estabelecer novo marco cultural em relação à responsabilidade de produtores de conteúdo que não estejam submetidos a uma regulação externa, seja de sindicatos, seja de um corpo de leis. Apesar de não poder alegar desconhecimento, a FFERJ reagiu rápido e se desvinculou do canal imediatamente, minimizando o impacto. Pode afetar a audiência imediata do produto? Sim. Mas profissionaliza mais a gestão de imagem do campeonato e sobe a barra de exigência para que o erro não se repita.
Do ponto de vista dos detentores de direitos esportivos, que gerenciam a distribuição dos mesmos em um mundo menos dependente da TV aberta, é fato que estamos vivendo um ano de grandes experiências. Nessa fase, o importante é testar. Os erros só aparecem porque riscos foram tomados e essa é a única forma de se evoluir o mercado. A visibilidade que estamos dando aos streamers e a repercussão de suas atitudes, para o mal ou para o bem, fala mais sobre os tempos que vivemos e os dilemas que temos como sociedade e mercado de comunicação do que sobre os episódios isolados em si. Muita coisa será aprendida com este lamentável episódio. E não será o último erro. Só não podemos condenar as mudanças e abraçar o retrocesso só por conta dos efeitos colaterais. Como diz Gilberto Gil, "a seta do tempo só anda para frente".
Em tempo: nazismo é crime. Racismo é crime. Homofobia é crime. A dor de quem sofre vale mais do que a opinião de quem oprime. Sem mais.
* Bruno Maia, CEO da Feel The Match e executivo de inovação no esporte. Autor do Livro "Inovação é o Novo Marketing"
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