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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Pressão sem a bola, protagonista com ela: como joga o Uruguai?

De Arrascaeta comemora gol da vitória do Uruguai sobre o Peru pelas Eliminatórias da Copa do Qatar, no Estádio Centenário. - RAUL MARTINEZ/Pool via REUTERS
De Arrascaeta comemora gol da vitória do Uruguai sobre o Peru pelas Eliminatórias da Copa do Qatar, no Estádio Centenário. Imagem: RAUL MARTINEZ/Pool via REUTERS

Gabriel Perecini

19/11/2022 04h45

Neste sábado (19) o Uruguai encerra a sua preparação em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, e parte rumo ao Qatar, onde estreia na Copa do Mundo na próxima quinta-feira (24), contra a Coreia do Sul, às 10h. O técnico Diego Alonso e o preparador físico Óscar Ortega ressaltaram a importância de diminuir a carga de trabalho nessa primeira semana, devido à maratona que os atletas enfrentaram antes de se juntar à seleção. Por isso, a Celeste optou por não realizar amistosos nesse período.

Com ou sem amistoso, o treinador terá alguns quebra-cabeças a solucionar para montar o time que irá a campo. Com Ronald Araújo praticamente descartado para a estreia, Alonso precisará alterar não apenas o 11 inicial, mas parte da estrutura de jogo responsável pela arrancada na parte final das Eliminatórias. Mas, então, como deve jogar o Uruguai?

Sem Plano A

Ronald Araújo é um dos pilares da equipe desde que Diego Alonso assumiu. Por isso foi convocado mesmo em fase final de uma contusão que sofreu em setembro, contra o Irã, e a Associação Uruguaia de Futebol está pagando dois fisioterapeutas do Barcelona para se juntarem à seleção, exclusivamente para acompanhar o camisa 4. Mais que a qualidade técnica, a versatilidade de poder atuar como lateral-direito ou zagueiro tem sido muito utilizada por Alonso. Nas rodadas finais que classificaram o Uruguai para a Copa, Araújo foi lateral-direito, permitindo uma variação para um sistema com três zagueiros durante o jogo, especialmente quando a Celeste tem a bola.

Em amistosos pós-eliminatórias, com a queda física e técnica de Godín, e contusões de Giménez, Araújo jogou como zagueiro, abrindo espaço para Darmián Suárez na lateral. Mas Suárez se machucou e não foi à Copa, então o "Plano A" com Araújo na zaga também não está disponível. Varela larga na frente por essa vaga, mas possui características muito diferentes: é um jogador mais veloz e ofensivo que Araújo e Darmián, mas menos físico e com mais dificuldades de marcação.

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Momento ofensivo com a bola, na estreia de Diego Alonso, contra o Paraguai. Time ficava ligeiramente "torto" para a direita, setor de Araújo, pois havia preferência de saída de bola por ali. Na esquerda, Olivera avançava mais e Valverde, meia aberto no setor, vinha por dentro.
Imagem: Gabriel Perecini

A grande dúvida será achar o equilíbrio pelo setor direito. Pellistri deve ser titular e é o jogador agudo do Uruguai. Varela conseguirá dar o equilíbrio ou será preciso uma atenção redobrada de um volante na cobertura?

4-4-2 ou 4-1-4-1?

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Imagem: Gabriel Perecini

Dificilmente veremos o Uruguai estrear fora de um desses sistemas. É seguro dizer que o mais provável é o 4-1-4-1 e temos alguns fatores que indicam isso. Além da ausência de Araújo, Vecino vive boa fase na Lazio e deve ganhar uma vaga. Outro que chega em ótimo momento é Bentancur, jogando um pouco mais à frente na Inglaterra. A presença de Vecino deixar o jogador o Tottenham com essa liberdade para atuar mais adiantado com a bola. Por fim, desde o fim da Era Tabárez, Bentancur tem sido um grande destaque na pressão sem a bola. É de se imaginar que o atleta possa atuar em uma faixa mais avançada, sem a necessidade de cobrir tanto as costas dos meio-campistas. Aliás, contra Irã, na única derrota em nove jogos de Diego Alonso, o Uruguai mostrou bons mecanismos de pressão pós-perda. Somando à marcação mais adiantada que vimos nos jogos das Eliminatórias, é de se imaginar que essa seja uma marca da Celeste no Qatar.

Arrascaeta e o "curinga" Valverde

De Arrascaeta tem melhorado o desempenho desde a chegada de Diego Alonso, sendo mais participado na seleção. Porém, desde setembro, o jogador admitiu estar sentindo dores e jogando "no sacrifício" devido a uma pubalgia. Não será surpresa se o camisa 10 charrúa iniciar no banco. Mas quem jogaria?

Diego Alonso já deu mostras que, entre Cavani e Suárez, pelo menos um dos dois deve começar sempre. E Darwín Núñez? O jogador do Liverpool briga por uma vaga no ataque em um 4-4-2, mas no 4-1-4-1 jogaria apenas aberto, como já atuou na carreira. E a contusão do jogador do Flamengo pode ser a brecha para iniciar entre os 11.

Diego Alonso tem construído um time com muito fôlego e versatilidade, características que se encaixam perfeitamente com o ex-Benfica. De quebra, assim como Arrascaeta, a movimentação do atacante pode abrir o corredor para Mathias Olivera. Ainda que Darwín faça movimentos mais diagonais, para se juntar ao centroavante, e o flamenguista busque a zona central, para organizar o jogo, alguns mecanismos são mantidos. De quebra, é uma ótima opção no jogo aéreo, especialmente fechando no segundo pau em cruzamentos de Pellistri, pela direita.

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Formação do Uruguai no 4-1-4-1, com Darwín Núñez aberto. Jogador do Liverpool se aproxima do centroavante, abrindo o corredor para o lateral. Do outro lado, Pellistri dá mais profundidade
Imagem: Gabriel Perecini

Correndo por fora, uma alternativa já utilizada no primeiro jogo de Diego Alonso: o "curinga" Valverde ocupando o setor oposto ao que costuma atuar no Real Madrid. Creio que essa opção seria usada apenas em circunstâncias específicas, para não desperdiçar a finalização de média distância do camisa 15 e a intensidade pelo meio do campo. Além disso, essa opção obrigaria a troca para o 4-4-2 ou a entrada de Torreira, adiantando Vecino. Inicialmente, é improvável que Valverde jogue aberto por qualquer um dos lados, salvo, repito, situações específicas, como a necessidade de segurar um resultado ou o desempenho abaixo de Pellistri e um eventual substituto.

Por fim, quem se acostumou a ver um Uruguai mais marcador, como em 2010, ou com muita ligação direta e pouca variação quando Suárez e Cavani não estavam em um bom dia, como em 2014 e 2018, verá uma equipe totalmente diferente. Desde o primeiro jogo, na decisão contra o Paraguai, em Assunção, Tornado Alonso já mostrou que quer um time protagonista, com muita aproximação pelos lados, infiltração dos meio-campistas e trocas de posição constantes. Sem a bola, uma equipe agressiva em buscar da recuperação, em vez de apenas baixar as linhas e esperar. Se conseguir suprir as ausências importantes e seguir o que foi iniciado em janeiro, essa pode ser uma Copa do Mundo promissora para a primeira campeã mundial.

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