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Paradoxo uruguaio: com crise contornada, problemas podem ser as soluções

Diego Alonso, técnico do Uruguai, tratou as polêmicas envolvendo Giménez e Cavani como "resolvidas". - PABLO PORCIUNCULA/AFP
Diego Alonso, técnico do Uruguai, tratou as polêmicas envolvendo Giménez e Cavani como "resolvidas". Imagem: PABLO PORCIUNCULA/AFP

Gabriel Perecini

01/12/2022 16h04

Após um ponto em dois jogos, o Uruguai tem um "mata-mata" amanhã (02), contra Gana: quem perder, está eliminado da Copa do Mundo - o empate favorece os Estrelas Negras. Mas mais do que a baixa pontuação e o desempenho ruim nos dois jogos, a Celeste ainda teve que lidar com um princípio de turbulência após a última derrota: as declarações do zagueiro Giménez, ainda no gramado, e do atacante Cavani, na zona mista, foram tratadas como um "recado" para o técnico Diego Alonso.

O defensor disse que "o que aconteceu (contra os lusitanos) foi o mesmo que na estreia: não saímos para ganhar". Já o experiente camisa 21, ao ser perguntado sobre o que estava acontecendo com o time, respondeu que "isso deveria ser perguntado a (Diego) Alonso, que vai poder falar taticamente do que pode acontecer", junto com algumas expressões faciais que podem ser consideradas ambíguas.

Por mais paradoxal que possa parecer, o cenário complicado pode ser justamente a saída para o Uruguai resolver todos esses problemas de uma só vez. O primeiro deles é a performance em campo: com a necessidade de buscar a vitória, o time deverá ser escalado em uma formação mais parecida com o que vimos da Celeste em 2022. Uma equipe mais ofensiva, com jogadores mais técnicos e uma postura mais agressiva com e sem a bola. Conseguir uma eventual classificação dessa forma deixaria as más impressões para trás, com o foco ficando para um provável duelo contra o Brasil.

Em relação aos jogadores, a coletiva de Diego Alonso e Luis Suárez na véspera da partida parece ter deixado claro que todas as arestas foram aparadas. O centroavante afirmou que houve uma conversa com os jogadores ainda no vestiário e que não há mais espaço para dar desculpas: a resposta precisa vir em campo. Já o treinador afirmou que os atletas o procuraram, eles conversaram e que esse é assunto resolvido. El Tornado ainda afirmou que não sente nada diferente do que sentiu no primeiro dia, quando foi totalmente aceito e bem recebido pelo grupo, e que segue acreditando 100% nos jogadores.

Como pista, Alonso disse que todos precisam recuperar a alegria de jogar e que o segundo tempo contra Portugal (com uma formação mais ofensiva, em um 4-4-2) foi o mais parecido com o que o time joga normalmente. Indícios de escalação para o duelo contra os ganeses.

A importância de algumas figuras experientes no elenco se dá também para momentos como esses, de turbulência e instabilidade. Com a saída do Maestro Tabárez, que tinha um prestígio enorme e o respeito máximo dos jogadores, cabe aos mais experientes transmitirem alguns valores. Cavani, apesar do erro no tom da declaração, esclareceu pessoalmente com o treinador e não parece ter deixado cicatrizes no ambiente. Agora, precisa voltar a ser a referência que a seleção pede, como já foi em várias vezes nos últimos 15 anos.

No momento mais delicado da reformulação uruguaia, sem Tabárez e com a última competição de grandes ídolos de uma geração de sucesso, que resgatou o respeito pelo futebol uruguaio, talvez o maior legado possa ser justamente a passagem de bastão que começa no campo, com uma classificação sofrida, e termina no exemplo deixado para os mais jovens. Como Luis Suárez afirmou na coletiva: "o uruguaio está acostumado e rende nesses cenários". Resta saber se a fórmula continuará valendo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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