Franca favoritaço? Não é bem assim: 7 histórias legais do NBB que começa
No basquete, o atleta é testado desde o primeiro lance do jogo. Não tem par ou ímpar nem cara ou coroa. Para ver quem começa com a bola, dois jogadores são obrigados a mostrar quem tem mais tamanho, envergadura e, principalmente, aptidão física e impulsão logo de cara. O árbitro separa dois brutamontes com camisas de cores diferentes, no círculo central da quadra, e atira a bola laranja para o alto para que se dê início à disputa.
Assim é o pulo bola. Acredito ser a melhor forma de começar um confronto. Se luta pela primeira posse de bola, antes mesmo de o cronômetro ser acionado.
Quem subir mais, começa atacando!
Flamengo x Vasco: lei do ex e um gigante em busca do título
O primeiro pulo bola do NBB CAIXA na temporada 2024/25 terá início neste sábado, 11/10, com o clássico entre R10 Score Vasco da Gama e Flamengo.
Em sua 16ª edição, o Novo Basquete Brasil tem 18 participantes espalhados por Nordeste, Sul e Sudeste.
O Flamengo é o maior vencedor da história da competição, com sete títulos conquistados. Mesmo assim, o rubro-negro começa a sofrer pressão, pois o time dirigido pelo técnico Gustavinho de Conti não levanta uma taça desde a temporada 2020/21.
Ano em que tinha em seu elenco Marquinhos, um dos maiores craques do basquetebol brasileiro e 2º maior cestinha da história da Liga, como "o cara da franquia".
Curiosamente, Marquinhos irá defender, pela segunda temporada seguida, o rival R10 Score Vasco da Gama, time que voltou ao NBB (depois de três anos ausente) em 2023/24, sob o comando de Léo Figueiró, e conquistou um honroso 5º lugar na classificação.
O experiente e talentoso ala de 40 anos continua afiado e terá a famosa motivação da "lei do ex". Vestindo a camisa rubro-negra, Marquinhos fez história e venceu seis títulos da Liga Nacional de Basquete, o último sendo justamente em 2020/21.
Desde que saiu da Gávea, Marquinhos também nunca mais foi campeão do NBB.
Entusiasmados com o retorno à elite do basquetebol e vendo seu torcedor abraçar o projeto, a diretoria cruz-maltina lutou para manter sua base, entre eles o ala/pivô Rafael Paulichi, vencedor do prêmio de maior evolução no campeonato passado.
Já o Flamengo perdeu duas referências: Olivinha, ídolo máximo da torcida, se aposentou e Gabriel Jaú, cestinha do time, se transferiu para o basquete grego.
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OLHAR APURADO
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Quero receberNa remontagem, fez uma limpa no time. Só não abriu mão do atleticismo de Gui Deodato e da inteligência do armador argentino Franco Balbi.
A diretoria investiu pesado em uma grande leva de jogadores conhecidos internacionalmente, entre eles o craque norte-americano Shaq Johnson (eleito melhor ala do NBB na temporada 2022/23, então como jogador do Minas) e o ligeiro armador Alexey (ex-Capitanes da G-League da NBA).
Uma rivalidade dessas não poderia ser melhor para abrir o campeonato brasileiro de basquete!
Os francanos devem estar se perguntando: "E Franca, fi?"
Franca traz olímpicos para o NBB
Aqui, peço licença ao raro leitor e rara leitora (obrigado, Juca Kfouri, por servir de inspiração dentro e fora das quadras) para me desculpar e dizer que sim, eu devia ter aberto o texto com o Sesi/Franca, atual tricampeão do NBB.
Nos últimos anos, a capital do basquete se acostumou a ver o time comandado pelo treinador francano Helinho Garcia levantar troféu atrás de troféu.
Até o Mundial, o Franca conquistou em 2023, com um arremesso crucial no último segundo da partida convertido por Lucas Dias, maior ídolo da cidade e melhor jogador atuando no país (atual MVP do NBB).
Um time cascudo e que, na última temporada, sem o mando de quadra, teve muita personalidade e calou oito mil torcedores no Maracanãzinho contra o Flamengo para fechar a série final, melhor de cinco jogos, em 3 a 1 e abocanhar o tri.
Não satisfeito com a hegemonia, a diretoria foi às compras e trouxe reforços de peso para a temporada. Georginho está de volta! O torcedor vai poder matar a saudade do armador que foi embora após se sagrar bicampeão e MVP das Finais do NBB em 2023.
Repatriou também o ala Didi, atleta formado nas categorias de base do clube, que, depois de uma breve passagem pela NBA, defendeu o rival da Gávea na última temporada.
Os três atletas, mais o treinador Helinho Garcia, foram os únicos representantes do NBB na seleção brasileira que disputou as Olimpíadas de Paris, onde o Brasil conquistou um valente 7º lugar.
A torcida que lota as arquibancadas do Ginásio Pedrocão se acostumou com vitórias e apelidou o time de "rolo compressor". Nessa temporada, já iniciaram mostrando a sua força, sendo campeões paulistas, batendo o destemido São José dos Campos na grande final.
Ficou evidente que Franca é o time a ser batido! Mas alguém pode frustrar esse favoritismo?
Minas é alternativa ao favoritismo francano
Como comentarista e analista, eu diria que é difícil. Como "pós-jogador", eu diria que é difícil, mas dá para ganhar. E como torcedor, eu pensaria: "o jogo é jogado e o lambari é pescado".
O basquete não é uma ciência exata, e há diversos fatores que podem contribuir com o bom andamento de uma equipe. A temporada é longa, são 34 jogos só na fase de classificação, o equilíbrio emocional é fundamental; portanto, seria totalmente precipitado apontar algum time como imbatível.
A briga pela cobiçada medalha dourada é intensa, e enxergo o KTO/Minas como um dos principais desafiantes ao Sesi/Franca. Terceiro colocado na última temporada, o time treinado pelo estrategista Léo Costa trouxe reforços em todas as posições, além de manter a espinha dorsal da equipe, permanecendo com os ótimos pivôs Rafael Mineiro e Alexandre Paranhos (líder de rebotes da última edição), além do genial armador argentino Franco Baralle, um dos candidatos ao prêmio de melhor armador do campeonato.
No início da temporada, é fundamental ter o pé no chão e traçar as expectativas corretas diante dos torcedores e patrocinadores.
Em 16 temporadas do NBB, somente cinco times já conquistaram o caneco.
Além dos já mencionados Flamengo (sete vezes) e Franca (três), Brasília venceu três títulos, e Paulistano e Bauru, uma vez cada um. Definitivamente, não é fácil, tem que respeitar todos esses cinco times!
Competir para ganhar é a máxima do esporte; não se pode permitir que os jogadores não entrem em quadra para vencer. Mas é preciso entender o que se pode esperar e qual é a realidade de cada equipe.
Paulistano
É o maior case de sucesso nesse sentido. Desde o início do NBB, em 2008, foi um time que encarnou uma perspectiva de ser um clube formador. Lançou diversos craques, entre eles o "monstrinho" Yago Matheus, atualmente brilhando no Estrela Vermelha da Sérvia e na seleção brasileira. O CAP ficou fora de somente um playoff, participando de três finais e fez história vencendo o título em 2017/18.
Nessa temporada 24/25, o elenco dirigido pelo experiente Demétrius Ferraciú é formado predominantemente pelo time sub-22 que foi campeão da Liga de Desenvolvimento do NBB. Uma de suas crias, o ala/pivô Brunão, de 21 anos, é um dos destaques do time, típico jogador que encaixa bem em qualquer sistema, sempre trazendo muita intensidade e atuando acima do nível do aro.
Pinheiros
É outro polo que investe no desenvolvimento de seus talentos. A lista de jogadores que esteve presente nas categorias de base do clube e hoje brilham no basquete profissional é vasta. Este ano, o time, sob o comando de Vitor Galvani, técnico com passagem pelas seleções brasileiras sub-18, e contando com a expertise do "pós-jogador" Guilherme Giovannoni como assistente, vem com a mesma filosofia de pôr a molecada para jogar. O jovem Reynan, de 19 anos, é um dos grandes prospectos do Brasil e esperança do time pinheirense.
São Paulo
Tem duas finais recentes no currículo (2020/21, 2022/23), mas vem de uma temporada onde caiu nas quartas de final para o Minas. Para tentar voltar a brigar mais alto na tabela, contratou Guerrinha, técnico com mais jogos na história do basquete brasileiro, reeditando assim a parceria vitoriosa com o armador Ricardo Fischer em sua segunda temporada pelo São Paulo. Juntos, em Bauru, foram campeões da Liga das Américas 2015, e Fischer, eleito o melhor armador do NBB no mesmo ano.
Corinthians
Depois de uma temporada abaixo do esperado, caindo nas oitavas de final diante do Paulistano, trouxe o técnico Jece Leite (ex-Pato) e jogou suas fichas na manutenção de Elinho. O maestro do time, líder de passes para cesta e eleito melhor armador do NBB 23/24, está a 71 assistências de quebrar o recorde de "Magic Fúlvio" como maior passador de todos os tempos do NBB e tem a responsabilidade de colocar o Timão nos trilhos. Para que os passes de Elinho possam se traduzir em cesta, o alvinegro foi ao mercado e assinou com o norte-americano Isaac Thornton, cestinha do último campeonato vestindo a camisa do Botafogo.
Joguei 11 temporadas de NBB, defendendo cinco camisas diferentes, onde, pela entrega, garra e vontade de vencer, fui sempre bem acolhido pelos membros dos clubes e seus torcedores.
Guardo verdadeiro carinho por todos nesse período, mas, atualmente, no basquete, não torço para nenhuma equipe específica (nem na NBA!), mas sim torço e vibro com passes sem olhar, pontes aéreas, o bom uso do "pick and roll", boas rotações com múltiplos esforços na defesa, um belo toco e pela luta por bolas perdidas.
Parafraseando Eduardo Galeano, "Não me interessa a equipe ou o país que me brinde com o milagre de ver jogar um bom basquete".
Acredito que seja isso que veremos no NBB CAIXA 24/25: um bom basquete!
Dentro de quadra, desde o pulo bola, é preciso enfrentar o seu adversário dos dois lados. Competir nas duas tabelas, não tem retranca, quem ganha a posse de bola precisa ir para cima e atacar.
Esse diferencial é a grande beleza do esporte da bola laranja!
Gustavinho Lima vai escrever semanalmente no UOL sobre NBB e basquete.
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