A triste realidade da aposentadoria de um atleta no Brasil
Um atleta aposentado no Brasil não tem muita vantagem. É lógico que quando o nível é profissional, há um vínculo com o clube e contrato de trabalho é outra coisa. Mas a realidade não é bem essa no Brasil. É preciso gostar muito de ser atleta para fazer isso por aqui.
Me aposentei das piscinas no dia 17/09/2016. Há 4 anos. Teve momentos na minha carreira em que consegui cinco patrocinadores, mas nunca ganhei muito dinheiro por ser campeão paralímpico. Muitas vezes, no início, os empresários diziam que até ajudariam, mas não queriam que suas marcas aparecessem. Estamos no século 21 e ainda escutamos algumas coisas parecidas.
Ser atleta no Brasil é sinônimo de persistência. E isso significa ser campeão antes mesmo de ganhar qualquer título. Eu ganhei muitas medalhas e posso dizer que isso não significa dinheiro ou estabilidade financeira. Não mesmo. Quando se é precursor, você abre caminhos, mas nem sempre é você que colhe os frutos.
Depois da Paralímpiada de Atenas (2004), ganhei reconhecimento, conquistei patrocínios, e o esporte paralímpico só cresceu. Saí da pobreza extrema em que nasci, mas ainda sou um adulto de classe social econômica baixa.
Engana-se quem pensa que atleta no Brasil é rico e, pior ainda, que tem aposentadoria. Eu tenho orgulho de tudo que me tornei e de ter ajudado o nosso país, juntamente com outros atletas, como Adria Santos, Antônio Tenório, Roseane Santos, Antônio Delfino, entre outros, a se tornar uma potência paralímpica. Alguns deles estão esquecidos em suas cidades.
No Brasil, ser campão olímpico ou paralímpico não muda muito a sua vida, principalmente quando se trata de campeão paralímpico. São anos de anos de dedicação ao esporte e representação à a pátria em competições, mas na hora da aposentadoria o que acontece?
Não acontece. A maioria dos atletas que se aposenta no Brasil se sente perdido. Muitos entram em depressão por sentir falta do ambiente esportivo. Sem falar que você ganha um monte de tapinhas nas costas de gente importante, mas, na real, isso não significa quase nada. É como dizem: "temos boletos para pagar".
Meus últimos quatros anos foram de muito trabalho, e eu gosto muito disso. No entanto, o Estado precisa começar a pensar em como transformar seus ídolos em aliados e construir uma política efetiva para aqueles que se aposentam. Como pode campões e mais campeões esquecidos? São figuras que inspiraram outras gerações e que levaram o nome do nosso país para o lugar mais alto do pódio. Muitos só receberam mesmo o tapinha nas costas. Realidade triste, não é mesmo?
A gente tem que se preparar para tudo na vida. E não é diferente com a aposentadoria. A realidade da maioria dos atletas aposentados é muito sofrida. Alguns não sabem fazer outra coisa que não seja nadar, correr, jogar futebol. É como se a vida da gente estivesse recomeçando.
Nesses quatro anos de aposentadoria das piscinas, eu me reinventei. Trabalho mais do que treinava para ter sustentabilidade. Eu vesti a camisa da inclusão e da acessibilidade, participei de projetos sociais, fui comentarista esportivo, , tenho dois patrocínios, ministro palestras pelo Brasil, sou colunista e por aí vai. Não tenho o que reclamar.
De certa forma, eu me preparei para me tornar o Clodoaldo de hoje, mas não se enganem, a maioria dos atletas não está preparado para a aposentadoria em todos os sentidos, não só o financeiro. Precisamos mudar essa realidade.
Boa noite e abraços aquáticos para todos!
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