Pandemia torna patrocínio ao esporte ainda mais escasso
Hoje eu quero falar sobre a importância do patrocínio para um atleta, para um time e para o esporte. Sabemos que estamos em tempo de crise, e os reflexos estão em todas as áreas. E não poderia ser diferente no setor esportivo.
Demissões de atletas e membros da comissão técnica, suspensão de treinos e atividades nos clubes, adiamento de eventos esportivos, readequações salariais, partidas sem torcida, atletas parados e crise financeira são alguns dos problemas que podemos citar. Mas para além desses, existem também os prejuízos físicos e mentais para os atletas.
As incertezas passaram a fazer parte do dia a dia dos esportistas de alto rendimento, dos profissionais da área técnica e dos funcionários de clubes e entidades. Há um clima de constantes dúvidas: patrocinadores manterão investimentos? Sem competições previstas, sem calendário das eliminatórias para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, o mundo esportivo viu o planejamento escorrer pelas mãos.
No Brasil, patrocínio parece ser algo exclusivo de quem tem resultado, e isso ainda depende muito da equipe e da modalidade esportiva do atleta. E quando falamos de patrocínio ao esporte paralímpico, a resistência é ainda maior. É certo que muitas coisas melhoraram, mas ainda falta bastante para que as empresas realmente considerem como rentável o esporte de alto rendimento para pessoas com deficiência.
Com a pandemia, o diagnóstico não é nada animador. Normalmente, a partir de agosto as empresas se programam para o próximo ano. Mas a crise inverteu muitas coisas e deixou um ponto de interrogação enorme. Temos, por exemplo, queda nas receitas em setores como o das montadoras e, por outro lado, aumento dos lucros nas áreas de alimentação e farmacêutica. O mercado está confuso.
Pessoalmente, quero dizer que diferentemente de muitas empresas, a Nissan, que é minha patrocinadora, vem dando exemplo no quesito patrocínio. Nesta semana, foi a primeira a anunciar que irá manter o patrocínio do seu time até os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio.
Faz nove anos que existe o Time Nissan. Eu tenho o orgulho de fazer parte de um grupo que preza pela diversidade, com atletas de diferentes modalidades, homens e mulheres, com e sem deficiência. E ainda sou o mentor da equipe mesmo sendo ex-atleta.
Mas nem todas são assim. Depois de quase 20 anos, ainda vivenciamos situações inacreditáveis de empresas se posicionando de forma preconceituosa e com visão negativa em relação a nós, pessoas com deficiência. Quantas e quantas vezes, no início da minha carreira, eu recebi não e, o pior, às vezes recebia sim, mas com a condição de que a marca da empresa não aparecesse.
Não pense que isso é passado. Não é. Até hoje, muitas empresas entram em contato comigo acreditando que minhas palestras são de graça. Muitas já reagiram super mal quando eu passei meu cachê.
O desafio é enorme quando se trata de patrocínio no Brasil, e a pandemia tornou o cenário ainda mais incerto. Em meio ao caos social, será que as empresas irão seguir uma tendência de investir mais na área social ou, de repente, no esporte de base? Como será reorganizado o setor? O que sei é que ainda falta muito para que o mercado invista com mais segurança no esporte para pessoas com deficiência. Quando será rotineiro para as empresas o pensamento de agregar valor às marcas alinhando a imagem das pessoas com deficiência?
O que a gente torce é para que a realidade do esporte melhore. Que empresas abram seus os horizontes e invistam também no esporte de base, na modalidade que não tem visibilidade, no esporte paralímpico/paradesportivo, no esporte individual e em ações sociais voltadas para o público em situação de risco. E que o mercado volte ao normal. É como já sabemos: o esporte salva vidas em todos os sentidos.
Excelente sexta-feira a todos e abraços aquáticos
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