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Clodoaldo Silva

A deficiência estabelece limites, mas não a incapacidade

Clodoaldo Silva - Arquivo Pessoal
Clodoaldo Silva Imagem: Arquivo Pessoal

03/12/2020 16h27

Hoje é o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. A data foi criada em 1992 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para promover assuntos concernentes à deficiência, com o objetivo maior mobilizar a sociedade para a importância da defesa dos direitos das pessoas com deficiência. É mais um dia de luta e temos o dever de falar sobre o assunto.

Quando os direitos de certa camada da população não estão garantidos, todo dia é dia de luta. E é assim com os negros e negras, com a comunidade LGBTQI+, com a população indígena e conosco, pessoas com deficiência.

Muitas vezes nossa luta já começa na hora que acordamos, pois alguns de nós têm dificuldades sérias de locomoção, e tarefas simples do cotidiano são executadas em um tempo maior do que uma pessoa que não tem deficiência. Então temos que exercer a paciência com nós mesmos e com o próximo.

Nós vivemos dificuldades diárias que outras camadas da sociedade não têm. A falta de acessibilidade e mobilidade na maioria dos locais nos cansa muito. Dependendo do tipo de deficiência que temos, o dia pode se tornar muito cansativo. Acredito que o dobro ou triplo de exaustão de uma pessoa que não tem deficiência.

Para além da ausência de acessibilidades no transporte, nas ruas, nos prédios ou nas casas, nós também não podemos deixar de dizer que muitas pessoas não estão preparadas para entender nossas necessidades. Nunca conviveram com uma pessoa com deficiência, não nos reconhecem como cidadãos que pagam impostos e têm direitos e até acham estranho que a gente faça sexo. Só para deixar bem claro, muitos de nós pode não conseguir ter relações sexuais por causa do nível de comprometimento da deficiência, mas a grande parte de nós faz sexo e gostamos muito disso.

Jamais somos dignos de pena, não é por isso que lutamos todos os dias. É simples de entender: o que precisamos é de oportunidades para desenvolvermos nossas atividades no nosso tempo e com qualidade igual e até mesmo superior ao que muita gente exerce.

Hoje é um dia de reafirmar que estamos exaustos de ter um tratamento exagerado com muito cuidado ou carinho e de sermos tratados como "coitadinhos".

Eu acredito realmente que o esporte tem ajudado muito em termos de inclusão das pessoas com deficiência, mas ainda existe também uma confusão danada no olhar das pessoas. Muitas vezes somos vistos como heróis, não pelo que conquistamos, mas pelo que superamos. Se isso é importante? É sim, mas chegou a hora de pular essa etapa. Somos atletas como quaisquer outros e temos que ser tratados com igualdade quando o assunto for esporte de alto rendimento.

O tratamento igual também deve ocorrer quando o assunto for inclusão por meio do esporte. Não existe ensinamento maior do que colocar as crianças juntas para que entendam as diferenças umas das outras.

A nossa luta maior é em relação aos estigmas que foram criados sobre nós na sociedade. Ainda teremos muitos anos pela frente para buscar espaços iguais e ter acesso a políticas públicas direcionadas para nós. Não basta ter a lei, temos que colocá-las em prática.

Nesse Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, eu quero dizer que não iremos sossegar enquanto nossos direitos não forem igualados e nossas oportunidades forem escassas. Não vamos parar enquanto não tivermos escolas para ir, calçadas para andar, bares para frequentar, oportunidades dignas de trabalho para dividir e olhar igual sobre nós. Já que já nascemos sendo desafiados, não será nada disso que nos fará desistir dos nossos direitos e convicções. Mas é sempre bom lembrar que essa luta não é solitária. Termino este texto com uma frase minha que eu adoro: "A deficiência estabelece limites, mas não a incapacidade."

Abraços aquáticos para todos e excelente quinta-feira.