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Clodoaldo Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Clodoaldo: 10 lições dos Jogos Paralímpicos que você não pode esquecer

Gabriel Araújo: dois ouros e uma prata pela natação paralímpica - Lintao Zhang/Getty Images
Gabriel Araújo: dois ouros e uma prata pela natação paralímpica Imagem: Lintao Zhang/Getty Images

10/09/2021 18h03

O esporte provou, mais uma vez, que é um gigante quando se trata de oportunidade. Se nós já estamos cansados de sabe que ele é uma ferramenta e tanto de inclusão, união, igualdade, integração e educação, a gente agora tem certeza que ele pode agregar informações importantes para uma sociedade como a nossa, que ainda é cheia de raízes preconceituosas e desigualdades.

Durante as últimas três semanas, muitos brasileiros tiveram a oportunidade de acompanhar o esporte paralímpico - ou pelas transmissões do SporTV e da TV Brasil ou pelos noticiários das emissoras de rádio, televisão e, o mais abrangente, pelos portais, pelas redes sociais. É obvio que a discussão da igualdade de espaço surgiu como tema de debate também, já que não foi dado aos Jogos Paralímpicos o mesmo espaço que tiveram os Jogos Olímpicos. Nós temos muito que melhorar, mas já caminhamos bem.

Eu já estou com saudades dos Jogos e de tudo que ele significou para nós brasileiros.

Mais afinal, será que a gente conseguiu aprender alguma coisa durante as Paralimpíadas de Tóquio? Eu vou elencar dez lições que podemos guardar sobre os Jogos e usarmos no dia a dia.

1 - Podemos fazer o que quisermos. As nossas características não nos definem

Um atleta paralímpico, seja lá qual for a sua característica, revela para a sociedade que desenvolveu habilidades próprias para competir e para ser campeão em determinada modalidade. Todo mundo é diferente, e o principal é reconhecer que todos nós podemos fazer o que quisermos, mas cada um do seu jeito.

2- Ninguém precisa atender padrões corporais exigidos pela sociedade

A forma do corpo de alguém não pode ser mais importante do que a pessoa em si, do que a capacidade e o caráter que ela tem. Nossos corpos não são iguais. O esporte paralímpico inclusive mostra que eles são diferentes mesmo, no entanto, têm capacidades incríveis e podem, com tranquilidade, serem campeões.

3- As pessoas com deficiência não são coitadinhas

Não precisamos de pena e não somos especiais por termos algum tipo de deficiência. Fazemos parte do corpo da sociedade. Não precisamos de tratamento diferenciado, mas de oportunidades e adaptações para que possamos levar uma vida como qualquer outro cidadão brasileiro.

4- Somos atletas com algum tipo de deficiência

Nós treinamos muito, competimos uns contra os outros. Nossos objetivos são bater marcas e ganhar medalhas. Não está em jogo a nossa deficiência, mas sim nossos índices e conquistas.

5- Não somos sinônimo de tristeza

Não só eu e a Verônica Hipólito, que como comentaristas mostramos que somos pessoas divertidas, somos assim. Temos senso de humor ou não. Às vezes, assim como as pessoas sem deficiência aparente, podemos estar mais alegres ou mais tristes, emocionados ou ansiosos. Não somos pessoas tristes.

6- Pessoas com deficiência constroem família

Nós casamos, temos filhos, e a maioria deles não tem deficiência aparente. Nós temos relações sexuais, sentimos prazer... Pessoas com deficiência não se casam necessariamente com pessoas com deficiência.

7- Superação é quando a gente supera uma marca

Não queremos ouvir que somos sinônimo de superação porque temos algum tipo de deficiência. Queremos ser reconhecidos como campeões porque fizemos uma boa marca na competição. E isso ocorre também quando uma pessoa trabalha em uma empresa. Ela quer ser reconhecida pelo seu excelente trabalho.

8 - Somos 15% da população mundial

Não tem muito jeito da gente se esconder em casa. O esporte paralímpico demonstra que nosso lugar é aonde a gente quiser. Nas empresas, nos bares, no esporte, como chefes, como comentaristas ou jornalistas. Nós movimentamos a economia mundial. Temos boletos para pagar.

9- O Brasil é uma potência paralímpica

Para quem não sabia que o Brasil era uma potência nos Jogos, dessa vez, eu acredito, que isso ficou claro. Terminamos com a melhor participação na história dos Jogos paralímpicos, na sétima colocação do quadro geral, com 72 medalhas, sendo 22 de ouro, 20 de prata e 30.

10 - Um ídolo paralímpico ajuda a mudar a visão da sociedade

Um ídolo paralímpico mostra a real potencialidade de uma pessoa com deficiência. Demonstra que nossa eficiência não tem relação com a nossa característica. Ele também pode ajudar a mudar a mentalidade das crianças e fazer com que elas cresçam sem amarras e preconceitos. Ele ajuda a movimentar essa camada da sociedade, mas, sobretudo, levanta a bandeira da inclusão e da igualdade. Um ídolo paralímpico é um ídolo como qualquer outro, mas tem ainda uma função única de mostrar que as pessoas com deficiência existem e precisam ser lembradas sempre e estar em todos os espaços.