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Clodoaldo Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Clodoaldo: Não precisamos de atores sem deficiência para nos representar

Cena do filme "Perdoai-nos as Nossas Ofensas", disponível na Netflix - Reprodução/Netflix
Cena do filme "Perdoai-nos as Nossas Ofensas", disponível na Netflix Imagem: Reprodução/Netflix

24/02/2022 17h20

Assisti ao "Perdoai-nos as Nossas Ofensas", um curta-metragem lançado recentemente na Netflix. O curta retrata um garoto com deficiência física que é perseguido por soldados nazistas após Hitler decretar o Aktion T4 (um programa secreto terrível de eutanásia que visava eliminar pessoas não desejadas).

Para mim o filme serviu para alertar para mais uma parte da história que retrata a negação/eliminação das pessoas com deficiência. Apesar de sabermos que o nazismo aterrorizou milhões de vidas, esse curta passa a ser necessário, já que atende um dos preceitos do cinema, que é não esconder o passado.

Outra questão importante que me atraiu no filme foi que ele não utilizou cripface (quando atores sem deficiência interpretam pessoas com deficiência). O ator principal, Knox Gibson, é um garotinho com má formação do braço direito.

Não existem melhores atores do que nós mesmos para sermos personagens nos cinemas, no teatro ou na dança. Por isso, nós pessoas com deficiência, também lutamos por espaço para atuar em filmes. Esse também é um lugar que está com as portas fechadas para nós.

Uma iniciativa do Oscar poderá ajudar a mudar a nossa realidade nas produções cinematográficas. A premiação quer aumentar a diversidade da indústria. Para isso, os filmes que quiserem concorrer à principal categoria do Oscar devem atender alguns critérios, como incluir grupos poucos representados em cargos de liderança nas distribuidoras, produtoras, área de marketing e treinamento.

Sei que ainda estamos no início de uma longa jornada, já que essa luta não é só nossa. Para quem não sabe, até 2016 ocorreram 51 cerimônias, nas quais nenhuma pessoa negra tinha sido indicada para quaisquer categorias. O movimento #OscarSoWhite denunciou, em 2016, a ausência de pessoas negras na Academia.

Desde então, vemos alguns avanços. No Oscar de 2021, pela primeira vez duas mulheres foram indicadas ao prêmio de melhor direção e uma quantidade numerosa de cineastas e atores negros disputaram os maiores títulos da noite. E, neste ano, a diversidade tomou conta de categorias pertinentes aos bastidores como produtores e mais profissionais da indústria.

Mas um dos destaques dos indicados de 2022 é "No Ritmo do Coração", que se torna um marco de elenco predominantemente surdo já indicado para Melhor Filme. Troy Kotysur, um dos atores surdos que trabalha no filme, se tornou o primeiro homem surdo a ser indicado a um Oscar. Ele concorre à categoria de Melhor Ator Coadjuvante por seu trabalho ao lado da primeira atriz surda já indicada ao prêmio, Marlee Matlin, que venceu o Oscar de Melhor Atriz por "Filhos do Silêncio" (1986).

É importante assistir "Perdoai-nos as Nossas Ofensas" e se você não viu "No Ritmo do Coração", eu super indico. Nos dois filmes não há cripface. Além de fazer história com o elenco de pessoas surdas, o drama indicado ao Oscar de Melhor Filme é comunicado com mais de 50% do tempo em libras. Vale conferir!

Excelente quinta-feira e abraços aquáticos para todos!