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Como a pandemia mudou e ainda vai mudar o mercado da bola no mundo todo
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Após mais de um ano vivendo em uma pandemia, o futebol sofre com diferentes impactos e, o mais alarmante deles é, sem dúvida, o financeiro. Cada vez mais regido pelas cotas televisivas, patrocínios e investidores, os times começam a sofrer também na hora de vender seus talentos.
Considerado um mercado revelador sob a ótica europeia, os clubes brasileiros sofrem com o interesse mais baixo em relação às outras janelas por conta do controle financeiro dos times compradores.
Em estudo realizado pela consultoria britânica KPMG descobriu-se que nas cinco grandes ligas europeias o investimento em contratações caiu quase 50% na temporada 2020/2021 se comparada com a média das últimas três temporadas, com destaque para as equipes da La Liga que reduziram em 70% suas movimentações, foi de 1,2 bilhão de euros para 400 milhões.
Essa queda afeta todos os clubes brasileiros, que colocam números altos como objetivo financeiro nas previsões de orçamentos, como explica o gerente de futebol do Bahia, Júnior Chávare.
"A categoria de base, por si só, tem que dar além do retorno esportivo um retorno financeiro. Nenhum clube no país consegue sobreviver se não houver recurso financeiro, e as receitas dos clubes ficam muito limitadas às questões de transmissão, sócio-torcedor, ingressos e etc. O grande diferencial de um clube são as vendas dos seus jogadores de base, na pandemia isso se potencializou muito, por isso vai ser sem dúvida alguma um respiro técnico, mas também financeiro para muitas equipes" afirma Chávare.
Ainda assim, o Brasil continua liderando o ranking de país que exporta jovens. Em 2020, foram 2008 atletas. Apesar disso, as ofertas que chegam por aqui são menores por conta das dificuldades atravessadas na Europa. Junto com isso, os brasileiros têm menos força para poder negociar seus talentos.
Nas poucas mais de 17 mil transferências internacionais de 2020, apenas 130 envolveram mais de US$ 10 milhões de dólares, o que não atinge as expectativas deste setor. Na análise do professor da FGV Pedro Trengrouse, a tendência é que essa média continue abaixo.
"Tudo depende do modelo de negócio que o futebol vai desenvolver na era pós-TV. Se a internet servir de ferramenta para o desenvolvimento de todos os clubes, a tendência é diminuir a concentração de renda e o valor médio das transferências deve aumentar. Caso continue ocorrendo essa concentração de receita no topo da pirâmide do futebol mundial, a tendência é de aumento nos valores de poucas transferências" opina Trengrouse.
Uma das alternativas é que a captação seja feita dos jovens ainda antes de ganharem mais experiência, o que facilita que as negociações tenham preços mais baixos do que os das contratações de atletas mais formados.
Em comparação à temporada passada, a quantidade de atletas transferidos em definitivo nas cinco grandes ligas europeias caiu de 46% para 38%, entretanto os contratos firmados com jovens oriundos da base subiram de 15% para 19%.
É por isso que, ainda assim, é importante que os clubes continuem focando esforço na profissionalização das categorias de base, exemplo muito bem seguido pelo Palmeiras, por exemplo. O Fortaleza tenta caminhar pela mesma trilha e mantém o foco na base, que começou a receber mais atenção desde a passagem de Rogério Ceni, como conta o presidente da equipe cearense, Marcelo Paz.
"Eu não tenho a menor dúvida que a gente deve continuar investindo em categoria de base, porque há a possibilidade do retorno esportivo e financeiro. Ter um jogador no profissional que é oriundo da base impede um investimento em uma contratação que geralmente é mais cara, além do que existem diversos mercados, olham somente para as grandes vendas como a do Vinícius Jr e Cebolinha, mas existem também as pequenas vendas, jogadores que vão para mercados secundários como os países árabes, Coreia, Japão e países europeus de segunda linha. Não são envolvidos valores astronômicos, mas essas quantias ajudam demais o dia-a-dia do clube, por isso, mesmo com a pandemia, o investimento na base não é alterado, claro que com ela o clube fica com menos recursos e temos sempre que equilibrar os investimentos, mas continua sendo fundamental para o clube formar jogadores na base" explicou.
A bolha financeira no mercado do futebol estava prestes a estourar mesmo antes da pandemia, com a paralisação dos campeonatos e a queda das receitas, será incomum investimentos altos como vistos antes, mesmo em clubes como PSG e Manchester City. Por esse motivo, os clubes brasileiros que dependem dessas transações para o equilíbrio financeiro precisarão se adaptar as novas tendências do mercado.
O Internacional é outro que caminha para o fortalecimento de suas categorias de base, especialmente com a chegada de Gustavo Grossi, que fez sucesso no River Plate, da Argentina, e foi contratado para cuidar dos jovens do Colorado. Paulo Bracks, diretor executivo da equipe gaúcha, explica o planejamento.
"Entendo que o timing ideal é quando você já tem, no clube, uma linha de sucessão pronta. Saiu um talento, tem outro sendo preparado. Mas isto é um trabalho que demanda tempo, não é do dia pra noite nem de um mês para o outro. E isto, claro, também em um cenário que o clube esteja tranquilo com suas finanças, que pode sustentar o assédio e cifras para decidir pelo melhor momento. E a maioria dos clubes brasileiros, hoje, estão à mercê da proposta, com pouca margem para rigor excessivo", afirmou.
"Um atleta que performa no profissional tem sempre um melhor mercado, mas às vezes o clube do exterior deseja exatamente o contrário, para que ele possa iniciar sua trajetória lá. Temos vários exemplos ao longo do tempo, de jogadores brasileiros com o começo da carreira profissional lá fora. E isto tem um valor, claro, para quem vende e para quem compra. Uma das nossas metas é voltar a ser protagonistas em vendas de atletas, mas, para isto, tal como a linha de sucessão, demanda um certo tempo. E estamos trabalhando para isso todos os dias."
MLS pode ser exemplo de recuperação
Uma das Ligas que pode sofrer menos é a MLS (Major League Soccer) por conta do seu modelo de negócios. Os times são franquias, com todos os donos tendo participação nas decisões e têm regras financeiras que cobram saúde financeira de seus participantes. Com o controle, é mais fácil que as equipes sejam forçadas a manter um planejamento para reagir aos efeitos da pandemia, como explica o empresário Leandro Scabin, um dos agentes brasileiros que têm mais trânsito nos Estados Unidos.
"A MLS regula toda a situação financeira, o dinheiro entra na Liga e a Liga distribui isso, é como se fosse um dinheiro virtual. O clube tem aquele dinheiro para gastar, mas tudo com a autorização da MLS. Os donos dos clubes, das franquias, são grupos muito ricos, normalmente têm muito mais dinheiro do que pode gastar. E isso faz com que o gargalo deles não seja o caixa, mas o que pode gastar. Agora, ele continua podendo gastar a mesma coisa porque tem caixa. O formato é no estilo da NBA e da NFL e o grande objetivo deles é estádio lotado, com ingresso caro e bilheteria alta", afirmou.
"Além disso, os EUA vão sair da crise mais rápido do que a maior parte dos países fortes de futebol e isso ajuda bastante, sem nem pensar na Copa do Mundo que vem pela frente, o desenvolvimento da liga e a internacionalização da marca da MLS pelo mundo, que é algo planejado há muito tempo", completou.
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