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Danilo Lavieri

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Abel Ferreira liga mais para nosso futebol do que técnicos brasileiros

Abel Ferreira, do Palmeiras - Marcello Zambrana/AGIF
Abel Ferreira, do Palmeiras Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Colunista do UOL

07/03/2022 04h00

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Multicampeão no Palmeiras, Abel Ferreira mostra mais preocupação com o futebol brasileiro do que a imensa maioria dos técnicos do nosso país. O português desabafou mais uma vez ontem (6) após a vitória contra o Guarani, pelo Estadual, contra os episódios de violência que têm marcado os últimos dias do esporte.

Foram registradas brigas antes, durante e depois de várias partidas dos estaduais por aqui: no jogo entre Grêmio e Internacional, na partida entre Atlético-MG e Cruzeiro, no clássico entre Corinthians e São Paulo, no duelo entre Flamengo e Vasco, além de uma bomba que foi atirada no ônibus do Bahia, assim como a van do Náutico foi depredada. Muitas vezes, nem mesmo as vítimas mostraram tanta preocupação quanto o técnico palmeirense.

Entre ameaças de deixar o futebol brasileiro, Abel pediu a palavra sem ser perguntado e cobrou ação enérgica das autoridades, citando as federações e até o Ministério Público, além de mostrar revolta com a impunidade dos que cometem violência. O técnico citou a Premier League, da Inglaterra, como um dos exemplos para se livrar da violência no futebol e perguntou: o que mais precisa acontecer para alguém tomar uma atitude?

Além disso, Abel já falou muitas vezes sobre problemas da cultura do futebol brasileiro e do jogador em geral. Temas como calendário são sempre abordados por ele, o que também aconteceu ontem, já que o Palmeiras deve perder na próxima data Fifa, na parte aguda dos estaduais. Muitas vezes, o português parece lutar sozinho, contra até mesmo os dirigentes, inclusive os do seu próprio time, que assinaram sem titubear uma renovação de quatro anos dos estaduais sem nenhuma mudança no calendário.

O técnico do Palmeiras já foi acusado até de ser "colonizador" por apontar algumas questões em que o Brasil está atrás na comparação com o futebol europeu, quando ele poderia ter apenas adotado o tom de conformismo que vários dos nossos treinadores já adotaram. Por aqui, alguns problemas que são absurdos em qualquer parte do mundo passam como se fossem problemas rotineiros e isso está ficando cada vez mais evidente com as chegadas dos técnicos europeus totalmente desacostumados com esses problemas.

A reação da maioria é de incredulidade. Como pode um futebol de um país tão tradicional como o Brasil sofrer com coisas desse tipo? Ninguém sabe responder. A maioria prefere se calar. Claro que nada disso dá o direito de Abel se comportar como ele faz na beira do gramado, passando dos limites com os árbitros, mas está na hora de vermos técnicos brasileiros engrossarem esse coro por melhoras do nosso futebol.

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