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Danilo Lavieri

REPORTAGEM

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Como economia ajuda Brasil a continuar no topo da Libertadores

Dudu com a taça do Palmeiras de campeão da Libertadores 2021 - Cesar Greco/Palmeiras
Dudu com a taça do Palmeiras de campeão da Libertadores 2021 Imagem: Cesar Greco/Palmeiras

Colunista do UOL

27/06/2022 16h18

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A semana de futebol traz de volta os jogos da Libertadores e, com ela, uma reflexão que cada vez mais torcedor faz: por que o Brasil é cada vez mais dominante? Se historicamente os argentinos são os mais vencedores, ultimamente, os brasileiros são os mais felizes. A resposta mais clara até aqui é a economia do país, que apesar de enfrentar uma grande crise, ainda é mais forte que a dos vizinhos. Tudo indica que esse domínio continuará por um bom tempo justamente por isso.

Na atual edição são seis classificados às oitavas de final, o mesmo número de argentinos, mas no retrospecto recente o domínio é bem mais amplo: quatro títulos para o país nos últimos cinco anos. Além disso, desde 2019, os clubes nacionais venceram todas as edições de Libertadores e garantiram cinco dos seis finalistas mais recentes. As explicações para a hegemonia brasileira apontam para a economia.

A Argentina, rival histórica do Brasil no futebol, conta com uma inflação de mais de 50% ao ano. Apenas em março de 2022, o número chegou a 6,7%, o maior índice dentro de um mês em 20 anos. Além da desvalorização cambial, o país sofre com o crescimento da pobreza, que atinge cerca de 40% da população. A nação que mais vezes conquistou a Libertadores, com 25 edições, levou o caneco só uma vez nas últimas seis temporadas.

Na Venezuela, por exemplo, a inflação chegou a 686,4% no ano passado. Desde 2008, o bolívar, moeda do país vizinho, perdeu 14 zeros. Com mais de 94% do povo vivendo na pobreza, o país atinge resultados inexpressivos dentro do âmbito esportivo.

Renê Salviano, especialista em marketing esportivo e proprietário da HeatMap, destaca ainda que, mesmo dentro do país, os que mais se destacam são os que têm tido uma gestão mais profissional.

"Acredito que existe uma grande relação entre as graves crises nos países com o rendimento dos clubes, mas também alerto para que a gestão das equipes entenda o solo em que está pisando e tenha uma gestão altamente profissional. O fato de lidar com paixão tem seus pontos positivos e negativos, mas nada supera a necessidade da entidade desportiva ter uma gestão responsável. Sendo bem gerida, com certeza, atravessará dificuldades com mais facilidade seja em qualquer terreno em que esteja", afirma Renê Salviano, especialista em marketing esportivo e proprietário da HeatMap.

Armênio Neto, especialista em negócios do esporte, aborda sobre outros temas que contribuem para a desigualdade entre os brasileiros e as demais equipes da América do Sul e corrobora com a visão de Salviano.

"A diferença financeira colabora para a hegemonia nacional no futebol, mas não podemos negar que turbulências econômicas - tanto aqui como lá - são mais frequentes que períodos de calmaria. Por isso acredito que esse domínio, que é um tanto recente, seja fruto de uma combinação de outros fatores além desse. Entre eles, o fato de que o Brasil é uma vitrine que oferece mais visibilidade, com uma dúzia de clubes disputando competições continentais. Vários deles razoavelmente organizados e que pagam melhor seus atletas do que os vizinhos da região", conclui Neto.

Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito desportivo, tem participado ativamente do processo de clube-empresa no Chile e acompanha de perto as mudanças do futebol no continente. Ele destaca, especialmente, a diferença entre Brasil e Argentina.

"A diferença entre as receitas dos clubes brasileiros e argentinos tem crescido de forma exponencial em favor do futebol nacional. Com a crise eterna que assola a economia argentina, penalizando os clubes no aspecto cambial quando vendem jogadores ao exterior e precisam internalizar esses recursos, a desigualdade tende a aumentar", completou.

Amanhã (28), Atlético-MG e Athletico são os dois primeiros a entrarem em campo pelas oitavas. Corinthians, Palmeiras, Flamengo e Fortaleza completam o time de representantes do país no mata-mata da principal competição do continente.

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