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Danilo Lavieri

REPORTAGEM

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Por que título da Copa América feminina não é só obrigação para seleção

A técnica Pia Sundhage sendo levantada pelas jogadores da seleção brasileira na celebração da conquista da Copa América - Gabriel Aponte/Getty
A técnica Pia Sundhage sendo levantada pelas jogadores da seleção brasileira na celebração da conquista da Copa América Imagem: Gabriel Aponte/Getty

Colunista do UOL

02/08/2022 12h06

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O Brasil cumpriu as expectativas ao ser campeão pela oitava vez da Copa América feminina. No último sábado (30), a seleção venceu a dona da casa Colômbia por 1 a 0 e de quebra ainda garantiu as vagas para a Copa do Mundo de 2023 e as Olimpíadas de 2024. Embora o título já fosse esperado, essa conquista tem sido celebrada de uma maneira diferente pela categoria por alguns detalhes inéditos desta vez.

Sem Marta, que estava machucada, com a aposentadoria de Formiga, que foi comentarista, e com Cristiane fora por opção de Pia, o time tinha a renovação como a grande bandeira e deu tudo certo: 20 gols marcados e nenhum sofrido. Todo mundo reconhece que o nível do futebol feminino no continente está muito abaixo do que ainda é praticado na Europa, mas o importante é que o Brasil dá sinais de que vai dar suporte para que a modalidade continua crescendo de maneira sustentável.

Leonardo Menezes, gerente de futebol feminino do Internacional, o investimento dos grandes times do país vai ser decisivo para o protagonismo da seleção e para que o crescimento seja consistente.

"Temos um campeonato nacional melhor estruturado, profissional e de base. Nos últimos anos, o maior investimento na modalidade é notável, sobretudo com clubes tradicionais apresentando projetos consistentes. O número de atletas que atuam no país com papel de protagonismo na seleção é um fator que exemplifica isso", analisou.

A meia Duda Sampaio, do Inter, faz parte do plantel do Brasil e, inclusive, marcou um gol na partida contra o Peru, na primeira fase do torneio. Para esta edição da Copa América, das 23 jogadoras convocadas, 13 atuam no futebol brasileiro. O número atesta a evolução da categoria no país, que apesar de ainda carecer de mais investimento e estrutura para atingir o mais alto nível, caminha em um processo de profissionalização cada vez maior.

Esse alto percentual de jogadoras na seleção que jogam em solo nacional também foi evidente na última edição da Olimpíada. Dos 18 nomes que disputaram a competição em Tóquio, 11 vestiam a camisa de clubes brasileiros, o que representou um aumento significativo em comparação ao plantel do Mundial de 2019, de apenas cinco nomes atuando em equipes do país, e Rio-2016, quando não havia nenhum.

Hoje, jogadoras renomadas e com bagagem na seleção atuam no Brasil, como a lateral-esquerda Tamires, do Corinthians, e a atacante Bia Zaneratto, do Palmeiras. Além da parte técnica, com o investimento em grandes jogadores, os clubes também têm demonstrado preocupação com a estrutura que oferece às atletas, além da busca por novos patrocinadores para alavancar o departamento comercial. E isso se reflete também fora da elite do feminino.

Débora Ventura, técnica do Fortaleza, que disputa o Campeonato Brasileiro A-2, reforça que a estrutura adequada dá condições de ter um ambiente seguro e saudável para que as jogadoras possam se desenvolver e desempenhar o melhor.

"Hoje, podemos contar com todo apoio oferecido pelo departamento, sendo: fisioterapeuta, nutricionista, assistente social, psicóloga, educadora, além da área de gestão e departamento médico. Todos estes setores disponíveis diariamente. Este ambiente proporcionado a nós garante um suporte para tudo que planejamos e realizamos dentro e fora de campo, durante todo este processo do trabalho com o desenvolvimento da nossa equipe", ponderou a treinadora, que tem passagem pela seleção como auxiliar-técnica da equipe sub-17, em 2018.

Renata Armiliato, coordenadora do Juventude, também destaca a importância do suporte que vem da diretoria para a evolução da categoria. "Em quatro meses de trabalho, já vejo um crescimento significativo na parte de estrutura física do clube. Acho muito importante um time como o Juventude investir cada vez mais no futebol feminino".

A dirigente da equipe gaúcha também destaca o trabalho de recrutamento que tem sido feito para as categorias juvenis. "Tivemos melhoria na operação de captação de atletas. Iniciamos esse trabalho buscando jovens, com o intuito de compor o time sub-20 e representar o Juventude por duas ou três temporadas, criando assim uma base para o time profissional futuramente".

O fortalecimento da base também é um processo importante para a consolidação do futebol feminino no país. Recentemente, o projeto "Em Busca de uma Estrela", que tem a atacante Cristiane como embaixadora, foi lançado para trazer oportunidades para meninas que querem ser profissionais.

Do ponto de vista dos negócios, os clubes também têm buscado mais patrocinadores para aumentar as receitas com o futebol feminino. Pedro Melo, responsável pela área comercial do Atlético-MG, e que atua na captação e gestão de patrocinadores, além de coordenar projetos de marketing, afirma que a modalidade tem crescido no país e as empresas estão olhando para isso.

"No caso do Galo, tem patrocinadores que estão no futebol masculino e também patrocinam o feminino, entendendo a importância que tem tomado nos últimos tempos", contou Melo. "Acho que o trabalho do clube de investir no time para tornar a equipe mais competitiva e atrair mais patrocinadores deve ser feito junto às federações, para melhorar os torneios e ter mais atratividade. Isso vai fazer com que os times femininos tenham mais apoiadores", finalizou.

Vale lembrar que essa foi a primeira Copa América feminina com música própria, patrocinador máster e premiação para o time que foi campeão.

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