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Danilo Lavieri

REPORTAGEM

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Paz recorda pressão em Vojvoda e diz: "nenhum título supera ficar na elite"

Marcelo Paz, presidente do Fortaleza - Leonardo Moreira e Mateus Lotif/Divulgação
Marcelo Paz, presidente do Fortaleza Imagem: Leonardo Moreira e Mateus Lotif/Divulgação

Colunista do UOL

25/08/2022 11h57

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Depois de amargar quase todo o Campeonato Brasileiro na zona de rebaixamento, o Fortaleza respira mais tranquilo após uma série de vitórias. Atualmente na 13ª colocação, mas só quatro pontos à frente do primeiro time que cairia, o presidente do Leão do Pici, Marcelo Paz, admitiu que foi bastante pressionado pela demissão de Juan Pablo Vojvoda e confessou que nenhum título é tão grande quanto continuar na elite do futebol brasileiro.

Eliminado nas quartas de final da Copa do Brasil após arbitragem polêmica e nas oitavas de final da Libertadores, a equipe começou a temporada candidata a grande surpresa no Nacional após a ótima campanha do ano passado, mas a falta de desempenho fez o time enfrentar turbulências em 2022 que colocaram em risco a continuidade do terceiro técnico que há mais tempo está em um time no país, só atrás de Maurício Barbieri, no Red Bull Bragantino, e Abel Ferreira, no Palmeiras.

Em entrevista ao blog, Paz comentou bastidores dos últimos meses e disse que a temporada servirá de lição para que a equipe tenha um elenco mais robusto para disputar o conturbado calendário do futebol brasileiro.

Confira a entrevista completa com Marcelo Paz:

Danilo Lavieri: O Fortaleza passou quase todo o primeiro turno na lanterna do Brasileirão. Como foi ver o time nessa situação depois de entrar na temporada com a expectativa lá em cima por causa do ótimo 2021?
Marcelo Paz: Nós ficamos, se eu não estiver errado, 14 rodadas na última colocação, umas 20 na zona de rebaixamento, então foi um período muito difícil, muita pressão, e a gente teve que ser forte, né? Muitas pessoas já davam o time como rebaixado, que não tinha chance e questionando o time como um todo. Foi um período complicado, uma posição ruim, mas sempre acreditamos que dava tempo para sair. Mas também não dava só esperar. Algumas situações precisavam ser feitas. Mas foi um período complicado. E olha que a gente não se sente livre disso. Tivemos quatro vitórias importantes, abrimos uma distância, mas nada que dê para deixar confortável. Sofremos tanto que não queremos voltar para lá

Que tipo de situação que foi feita?
Paz
: Tivemos conversas com os atletas alertando da situação, explicando que ficar na Série A era o principal, porque é a Série A que garante as melhores receitas, é o que nos dá chance de lutar por vagas em coisas maiores. A Série A é o que garante o projeto, toda a equipe de funcionário. Nós também fizemos mudança no time, trouxemos oito jogadores e saíram cinco ou seis. Foi uma reformulação dentro do campeonato. Gerou uma movimentação positiva, gerou concorrência maior, qualificou alguns setores, então esse movimento foi importante. Acho que mudar a forma de jogar também. Nós conversamos com a comissão técnica e claro que a decisão do que fazer e de como fazer é deles, mas a gente sentiu essa mudança na forma de jogar e isso ajudou a sustentar a vitória e garantir pontos. Tivemos quatro jogos que tomamos gol no último minuto. Isso nos custou muito. Não é à toa que nos últimos cinco jogos na Série A não levamos gol. Além disso, um terceiro ponto é ter saído da Libertadores. Aí o foco voltou a ficar mais no Brasileirão e dividido pouquinho com a Copa do Brasil. Uma vez que a retomada começou, a torcida voltou a estar mais junto e isso é importantíssimo.

Juan Pablo Vojvoda, técnico do Fortaleza, durante partida contra o Corinthians - Lucas Emanuel/AGIF - Lucas Emanuel/AGIF
Juan Pablo Vojvoda, técnico do Fortaleza, durante partida contra o Corinthians
Imagem: Lucas Emanuel/AGIF

Em resumo, é melhor ficar na Série A do que ser campeão de qualquer outra coisa, né?
Paz:
Nada vale a permanência na elite. É muito bom ganhar qualquer competição. Na Copa do Brasil a gente teve uma ótima campanha, era para chegar de novo na semifinal e a arbitragem nos tirou essa possibilidade. Mas o Brasileiro é a base de tudo, é o que dá o direcionamento, as melhores cotas, é que mantém os melhores jogadores. Nada é igual.

Essa complicação do calendário normalmente é discutida mais nos times mais ricos que sempre disputam todas as competições ao mesmo tempo. Deu para sentir na pele o que é o calendário brasileiro?
Paz:
A gente sentiu na pele a necessidade de estar mais preparado para esse tipo de situação. O calendário é apertado, intenso, mas a gente não vai mudar isso sozinho, então a gente tem que tentar disputar competições sul-americanas. É muito bom estar na Copa do Brasil, Libertadores e Brasileiro. Não quero deixar de participar e acho que com a experiência a gente pode se preparar melhor. O nosso elenco poderia estar mais cheio naquele momento, ajudaria a gente na caminhada. Foi a primeira vez que teve essa janela só em julho, não pudemos reforçar o time. A gente sofreu com lesão, alguns que chegaram não se adaptaram. Foram vários fatores juntos. Mas não basta reclamar. Vamos preparar melhor. É um processo. Conversei com o Cícero (gerente do Palmeiras) no gramado e ele me falou que a gente ia sair disso. Ele mesmo citou que na primeira eles nem passaram da primeira fase e agora estão sempre nas cabeças. O processo é de aprendizado. Fizemos uma competição bonita.

No Brasil, normalmente a culpa é do técnico. Você chegou a pensar em trocar?
Paz:
Foi um momento de pressão muito grande, de muita gente achando que tinha que mudar, que os ciclos se encerram, que eu tinha que acabar com esse negócio de gratidão, que não existe no futebol, que já tava na cara que não dava mais certo. Eu tenho guardado muitos papos aqui em redes sociais, no meu Whatsapp, de gente falando que ele tinha que sair, que eu estava sendo omisso. É uma pressão, isso te impacta de alguma maneira. Mas sempre fiz tudo pensando no melhor para o clube e não para mim ou para algumas pessoas. E além de segurar, mudamos o elenco e aforma de jogar. Temos também que perguntar: tirar para quem entrar? Quem vai vir e fazer melhor? Não tem que olhar para trás. Não adianta pensar nos pontos que perdemos. A prova que a gente acreditou nele é que a janela foi feita com ele. Isso vale mais do que falar que está prestigiado.

Deixando o Fortaleza um pouco de lado, você é um dos líderes do grupo que conversa com a Libra pela formação de uma liga. Como está o papo no momento?
Paz:
O status é o seguinte: só estamos em dois blocos. Há um tempo, éramos 30, 40 cabeças pensando diferente. Como estamos em dois, o consenso fica mais próximo. O diálogo precisa ser feito com calma porque impacta muito no futuro dos clubes. Estamos conversando entre presidentes, entre as áreas técnicas, entre empresas, tudo para chegar a um acordo. Não tem prazo para isso.

Por fim, o Tite recentemente te elogiou como chefe de delegação do Brasil na Copa. Já chegou a convocação por aí?
Paz:
Seria uma honra absurda, seria das maiores da minha vida. Eu gosto muito da seleção brasileira, sempre gostei, sou aquele cara que acompanha a Copa, gosto muito. Independentemente de qualquer coisa eu sempre vou torcer. Tive experiência recente no Japão e Coreia do Sul e foi muito bom, com muito aprendizado, criando relacionamento com comissão e jogadores. Foi algo muito bom, fiquei feliz pela citação do Tite. Não quer dizer que eu seja chamado ou vá ser, mas fico feliz. Gosto muito dele. A gente conversou muito. Estou de coração aberto. Não teve convite e nem conversa, mas se vier eu vou com maior prazer e honra em busca do hexa.

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