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Danilo Lavieri

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Palmeiras precisa agir contra cambismo para proteger seu maior patrimônio

Torcida do Palmeiras ao redor do Allianz Parque no intervalo da final contra o São Paulo - Flavio Florido
Torcida do Palmeiras ao redor do Allianz Parque no intervalo da final contra o São Paulo Imagem: Flavio Florido

Colunista do UOL

31/08/2022 16h04

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O Palmeiras precisa agir com mais eficácia contra o cambismo para proteger o seu maior patrimônio: o torcedor. É cada vez mais comum na porta do estádio e em grupos nas redes sociais a existência de pessoas vendendo dezenas de ingressos a preços muito maiores que o de custo. Isso tem deixado do lado de fora aquele fanático que é um dos maiores ativos do clube: paga sócio-torcedor, ingresso, viaja com a equipe e não deixa de comprar um lançamento da nova camisa.

Milhares de palmeirenses que pagam mensalmente o Avanti não poderão estar presentes no jogo mais importante do ano no Allianz Parque: a semifinal de Libertadores contra o Athletico na terça-feira que vem. Hoje, poucos minutos depois do início da venda, já não havia mais ingresso disponível até mesmo para os que pagam planos dos mais caros, que, em tese, dariam prioridade na compra.

O blog recebeu relatos de vários torcedores que não conseguiram comprar ingresso hoje e pagam o plano Platina, que custa R$ 259,99 por mês e promete estar em segundo na prioridade de compras independentemente da frequência nos jogos. Já há, inclusive, os que falam em cancelar o plano. Essa cena já havia sido vista contra o Atlético-MG e em partidas recentes do Brasileirão como a contra o Flamengo.

O Palmeiras reconhece a prática do cambismo e diz que o poder público precisaria atuar com mais força para impedir esse tipo de negócio, como você pode ver em nota no final do texto. Até mesmo em entrevista ao GE.com, Leila Pereira reconheceu esse problema e apelou para que a polícia atue. Mas o clube deveria ir além disso, uma vez que seu principal consumidor está sendo lesado e precisa sentir que há alguém preocupado com isso.

O clube ainda alega que há mais torcedores cadastrados na primeira fila de prioridade do que ingressos para vender. São dois os motivos principais. O primeiro é que a carga disponibilizada não é a de quase 42 mil ingressos. Do total, 10 mil bilhetes ficam com a WTorre como contrapartida pela construção do estádio. Outros 4 mil são direcionados para ações promocionais de patrocinadores e da Conmebol. Há ainda uma carga de visitantes. Sendo assim, o que realmente vai para as vendas é pouco mais que a metade do total. Se houver excedente na parte da construtora, os ingressos podem ser revendidos, mas não aos preços promocionais do Avanti por questão contratual.

Além disso, há uma forma de "driblar" as categorias impostas pelos preços mais altos. Aquele torcedor que é 5 estrelas, ou seja, que tem uma frequência alta nos jogos do ano, também consegue entrar na primeira venda, independentemente do plano que paga. A explicação do clube é que já há mais gente habilitada para essa primeira venda do que o número de ingressos que vai para a venda.

Esse mesmo sistema que é conhecido como rating já existia antes da pandemia e nunca gerou polêmica. O que gera revolta agora é que o cambismo voltou com força. Há vários cambistas anunciando em grupos que têm em mãos dezenas de ingresso e, claro, com preço de revenda muito maior do que original. Diversos torcedores que apelaram a esse comércio informal relataram ao blog que os ingressos funcionavam normalmente e que sempre as mesmas pessoas conseguem concentrar as entradas, quase que formando uma rede de clientes.

Uma das formas usadas pelo cambista é aderir ao plano Diamante, que custa R$ 779,99 por mês e dá direito a dois dependentes sem custos. Ou seja, por esse valor, o cambista consegue comprar até três ingressos por CPF cadastrado como titular e depois pagar o investimento com a revenda e lucrar muito mais do que isso. Ele ainda faz outras adesões com dados de outras pessoas, aumentando o seu poder de compra.

Ingressos para a partida contra o Athletico são vendidos por até R$ 860 para um dos setores mais baratos do estádio. O clube diz que alguns desses anúncios são mentirosos e que o número de golpes registrados com ingressos falsos aumentou consideravelmente nas últimas partidas e pede que seu torcedor só compre pelo site oficial.

Os torcedores alegam que a volta do ingresso em PDF facilitou o trâmite de quem ganha com a revenda de ingressos. Anteriormente, a presença da carteirinha do Avanti ainda permitia manobras, mas dificultava um pouco a ação dos cambistas. A fiscalização para conferir se o ingresso comprado está no mesmo nome da pessoa que entra no estádio é quase inexistente, embora o clube diga que esteja aumentando esse tipo de controle.

No conhecido cerco nas imediações do Allianz Parque, dezenas de funcionários barram a entrada de quem não tem ingresso em mãos, mas não fazem o "cara-crachá" para verificar se a pessoa que comprou é a mesma que está indo ao jogo.

O apelo para esse jogo é enorme: é a última partida do Palmeiras em casa na Libertadores e a primeira das três últimas semifinais disputadas com a presença de público. Contra o River Plate, em 2020, e contra o Atlético-MG, em 2021, a pandemia impedia a presença de pessoas nas arquibancadas. É nesse momento que o torcedor que paga a mensalidade o ano todo quer estar presente.

O Avanti é uma das plataformas do Palmeiras para dizer que seu marketing faz um bom trabalho. Os números cresceram, o que é até óbvio depois de dois anos de pandemia, mas há diversos relatos de torcedores insatisfeitos com a sua situação. Como os planos de sócio-torcedor no Brasil são, em geral, usados apenas para a vantagem na compra de ingressos, o torcedor perde o principal apelo para manter aquela contribuição mensal ao clube.

Em um primeiro momento, financeiramente, o Palmeiras não perde nada com a presença de cambista. Se todos os ingressos são vendidos, o clube recebe o dinheiro de qualquer forma. A questão é que, em um segundo momento, a eventual saída de sócios do Avanti por conta das frustrações pode impactar diretamente na receita anual.

Uma das alternativas, que inclusive é usada pelo Athletico, é implantar a biometria. Para entrar, o torcedor precisaria ter seus dados e sua digital gravada, o que corta o problema do cambismo na raiz. No momento, o Palmeiras diz que não tem dinheiro para implantar esse sistema.

Confira a nota oficial do Palmeiras sobre o tema:

O problema dos cambistas é de responsabilidade do poder público, que tem os instrumentos necessários para identificar e punir os envolvidos neste crime. Ainda assim, o clube tem realizado diferentes ações para dificultar tal prática ilegal, como a exclusão do programa Avanti de pessoas que comercializam ingressos e o recrudescimento dos processos de identificação dos torcedores na entrada do Allianz Parque. Além disso, a atual gestão tem estudado soluções tecnológicas para coibir a atuação dos cambistas.

O Palmeiras ressalta que, para adquirir de forma lícita entradas para as nossas partidas como mandante e ter a garantia de que elas não são falsas, a compra deve ser sempre efetuada pelo site ingressospalmeiras.com.br ou nas bilheterias da arena. Quem adquire ingressos com cambistas está incentivando esse crime e corre o risco de ser lesado.

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