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Futuro do futebol que nada: fundação da Liga vira briga de bancos no Brasil
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O que era o medo de muitos dos envolvidos desde o começo se transformou em realidade e a disputa pelo controle da Liga do futebol virou uma grande briga de bancos. O futuro do futebol brasileiro, a união dos clubes em busca de melhores condições, a independência da CBF em relação à organização do Brasileirão? Tudo virou peça de xadrez no tabuleiro dos que detêm a grana. Estamos em 2023, a Liga deveria começar em 2025, mas o tempo de execução diminui e a distância para o acordo só aumenta. Tudo pelo dinheiro.
A XP chegou antes ao futebol. Farejando o rastro do dinheiro com a chegada dos fundos estrangeiros em direção ao Brasil por causa da Lei das SAF, o banco achou uma excelente brecha para participar desse processo.
Enxergou no Botafogo uma oportunidade pronta para fazer seu primeiro negócio. Namorou, mas não casou com o Vasco. Já no Cruzeiro, encontrou um alvo desorganizado, mas vulnerável, pronto a fazer uma operação atabalhoada, mas decisiva para o seu destino. Lá, se deparou com seu maior futuro aliado no futebol, a Alvarez & Marsal, que já trabalhava para organizar o clube. Nasceu uma parceria.
O movimento de Liga, por sua vez, iniciou-se há mais tempo. Desde a pandemia em 2020, os clubes se organizam coletivamente para construir uma liga, em razão do sucesso de suas negociações coletivas recentes.
O movimento caminhava bem até 2021. Foi ali que Mário Petraglia, presidente do Athletico, surgiu como o grande opositor do acordo, em um episódio que marcou um dos encontros do grupo com direito até a ameaça física ao presidente do Bahia, Guilherme Bellintani.
Ainda assim, ele conseguiu alguns apoiadores importantes. Mario Bittencourt, presidente do Fluminense, se destacou no grupo e mantém a sua sustentação também com o apoio de Marcelo Paz, mandatário do Fortaleza, e de Sergio Coelho, cartola do Atlético-MG. Eles se mantiveram fiéis ao empresário que revolucionou o time da Arena da Baixada.
Enquanto isso, os clubes mais poderosos e articulados do Brasil, apadrinhados pela Federação Paulista de Futebol, resolveram manter a organização e seguir adiante com o movimento de Liga, sem contar com a coletividade. Fizeram um encontro do dia para a noite e assinaram um estatuto.
Palmeiras, Corinthians, Santos, São Paulo, Red Bull Bragantino, Flamengo, Botafogo, Vasco, Cruzeiro e Grêmio encabeçam esse grupo.
Nesse ponto, a Codajas Sports Kapital, que já havia se apresentado ao movimento coletivo no passado, ofereceu-se capciosamente para assessorar o grupo no desafio de formação da liga. Mas faltava-lhe peso, o peso do capital. A empresa carioca buscou o banco carioca BTG, que respaldou todo o movimento vislumbrando sua entrada triunfal em um jogo que ainda não estava jogando. XP e Alvarez & Marsal tentaram subir no trem, mas não conseguiram.
Formou-se a Libra, a primeira liga nessa história. Os clubes menores e emergentes, liderados por Mário Petraglia, organizaram uma dissidência, hasteando a bandeira da igualdade financeira. Além do Athletico, ficaram no grupo Internacional, Atlético-MG, Fluminense e Fortaleza entre os mais relevantes.
Há uma discussão em que os clubes fora da Liga pedem mais igualdade, enquanto os maiores articulam que merecem ganhar mais. Há discussões sobre o quanto é viável valorizar a Série B, dar mais força aos clubes menores e o quanto o mercado se interessa por isso em um cenário como o Brasil.
Mas a verdade é que a diferença entre o que propõe a Libra e a Liga Futebol Forte é pequena para tanto barulho, como já mostrou Rodrigo Capelo, jornalista especializado e referência no assunto. São pequenos ajustes que fariam os 40 clubes se unirem, e finalmente a tão sonhada união dos times em torno do produto se faria possível. Aos que são mais ligados ao assunto, a frase é: "bastaria uma pequena mexida na fórmula do Excel".
O que domina a briga até aqui é muito mais uma questão política e pessoal. Não é à toa que o Futebol Forte reforçou o seu lado ao chamar para o seu grupo a Livemode, velha parceira do Athletico nos negócios e que tem se tornado cada vez mais presente em negócios do futebol, inclusive com acordos feitos com a Fifa envolvendo Copa do Mundo e Mundial de Clubes. A empresa é, sem dúvida, uma das mais importantes do ramo no país neste momento e tem também a simpatia do Fluminense.
E aí o movimento dos times mais fracos ao menos se organizou e ganhou nome: a Liga do Futebol Forte. A união foi um sucesso e o grupo passou a se coordenar e se comunicar melhor, coisa que a Libra não fez por achar que não precisaria falar com a opinião pública. Mas faltava à LFF ainda lhe faltava força, a força do capital.
Foi aí que XP e Alvarez Marsal, preteridas pelos grandes clubes no processo inicial, notaram claramente a sua possibilidade de voltar ao jogo. Aliaram-se ao grupo dissidente, e lhes deram musculatura para brigar, ainda mais com o acordo anunciado há dias.
A disputa de poderes agora é entre bancos que conseguiram investidores: do lado dos mais populares, o fundo Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos, contra Serengeti, dos Estados Unidos, que representam aqueles que gostam de se colocar no discurso como os oprimidos.
Mas a verdade é que nenhuma das ofertas serve se não houver união. O discurso é de bilhões e bilhões, mas as cláusulas - nem tão - secretas deixam claro que o bolo diminui se houver divisão.
A entrada dos bancos, o maior temor inicial, inviabiliza no momento a união dos clubes e transforma o futuro do futebol brasileiro em um assunto menor. Enquanto isso, os clubes emergentes viraram massa de manobra. Falando com a maioria deles, nota-se que nem sabem do real contexto em que foram inseridos. Sequer conhecem o real motivo de a sonhada liga unida e igualitária não acontecer. E não acontecerá. E a tão temida diferença continuará se a divisão continuar.
O movimento de liga não é mais uma discussão entre clubes. O movimento de Liga é sobre quem fará o negócio, quem capturará o negócio bilionário, qual assessor ficará dentro e qual ficará fora do jogo.
O movimento de liga virou uma briga entre bancos.
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