Sintético não é consenso em Palmeiras e Bota; tema não pode ter clubismo
Em toda rodada, há sempre uma discussão sobre o quanto o gramado artificial é prejudicial ao jogo e o quanto ele coloca em risco a integridade dos atletas. É fato que o assunto virá à tona novamente hoje (1º), com o jogo entre Botafogo e Palmeiras, dois times que optaram por colocar o sintético em seus estádios.
A discussão sobre o tema precisa ser séria e não pode ser pautada pelo clubismo. Não dá para um treinador reclamar quando perde e fingir que nada acontece quando joga no mesmo local e ganha. Não dá para falar que um jogador se lesionou por estar jogando no artificial sem nenhum indício científico para isso.
Entre jogadores e membros das comissões técnicas dos três times da Série A que usam o artificial, há discordância. Muita gente de Palmeiras, Botafogo e Athletico não concorda com o artificial. A questão que sempre fica é a que tem uma resposta que parece óbvia para todo mundo: é melhor jogar no sintético ou em um gramado natural, mas cheio de buracos como o Maracanã, Mineirão, Castelão, Fonte Nova, Arena do Grêmio, Arena MRV e tantos outros?
É bem claro para todo mundo que o ideal seria que todos os gramados tivessem a condição perfeita que enxergamos dia a dia na Premier League, por exemplo. E a discussão aqui vai além de ser natural ou artificial. É dar o mesmo padrão de jogo para os 20 estádios envolvidos no campeonato.
Mas também temos de ser realistas que por aqui a CBF não liga para o assunto do jeito que deveria, da mesma forma que os times estão muito longe de se unirem para debaterem o tema de uma maneira saudável. Basta ver que nem para formar uma liga eles conseguem união.
Há vários estudos sobre o tema. Um bem recente publicado ainda este ano pelo The Lancet concluiu que não há incidência maior de lesão quando se joga em gramados como o do Nilton Santos, Allianz Parque ou Ligga Arena.
Outros estudos mais antigos, que também levam em consideração o material e a fabricação do gramado mais antigo, vão no sentido oposto. Há outras teses que levam em consideração até a possibilidade de causar câncer por causa da presença elevada de compostos que geram essa doença.
Também precisamos levar em consideração que a Fifa faz testes para autorizar o uso do gramado sintético. Em todos esses testes, a intenção é fazer com que a bola tenha o quique e corra da maneira mais parecida possível com a grama real. Ou seja, há condições mínimas que precisam ser respeitadas.
Os próprios fabricantes, no entanto, admitem que o sintético exige mais do jogador. Não porque gera mais lesão, mas por conta do menor desgaste que existe neste tipo de piso. Assim, a velocidade que o gramado dá ao jogo não cai como acontece no piso natural.
"Há treinadores que querem campos mais rápidos quando atuam como mandantes, por isso molham mais. Outros preferem um campo mais lento e molham menos. Assim eles regulam a velocidade da partida. O que não podemos comparar é o custo de implantação com o custo de utilização. Por exemplo, o gramado sintético do Athletico tem sete anos de uso. O mesmo piso, se fosse natural, já teria que ter sido substituído algumas vezes. E mais, se você quiser jogar uma partida e no dia seguinte receber um show, você pode, pois a estrutura está preparada para isso", analisou Sergio Schildt, presidente da Recoma, empresa especializada em pisos, infraestruturas e construções esportivas.
Fato é que enquanto a discussão for pautada pelo clubismo, seguiremos nas discussões rasas que não servem para nada além de agitar uma mesa de boteco.
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