Danilo Lavieri

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Especialistas culpam AFA pelo atraso econômico de clubes argentinos

A goleada por 3 a 0 do Atlético-MG em cima do River Plate e o favoritismo do Botafogo contra o Peñarol apontam para mais uma final entre brasileiros na Libertadores. O domínio causa discussão no resto do continente do motivo de os times dominarem a competição nas últimas temporadas.

Uma das teses aponta para a demora de equipes de alguns outros países adotarem o modelo de SAF, a Sociedade Anônima de Futebol. Na Argentina, o tema está em debate, com a ideia do governo de um lado e a vontade da AFA do outro.

Em julho deste ano, o presidente Javier Milei havia liberado o capital privado no futebol argentino a partir de novembro deste ano, autorizando a transformação em Sociedades Desportivas (SADs). Mas uma briga com Claudio Tapia, eterno presidente da Associação do Futebol Argentino, com apoio dos clubes mais tradicionais do país, faz com medidas cautelares acabem parando na Justiça e barrando essa liberação.

Enquanto isso, o River Plate caminha para um caminho alternativo, entrando na Bolsa de Valores do país, possibilitando os torcedores de entrarem com investimento. Ainda assim, esse caminho é considerado insuficiente por alguns especialistas, como é o caso do sócio dos CCLA Advogados e responsável pela área de Direito Societário, Marco Loureiro.

"Assim como já ocorreu em todos os principais países do futebol mundial, ora por organização do próprio mercado, como na Inglaterra, ora por determinação do governo, por meio de lei, como em Portugal e Brasil, a migração do modelo associativo para o empresarial causaria um grande impacto positivo na Argentina. Uma mudança certamente proporcionaria a chegada de investidores, especialmente estrangeiros - o MCOs - e, com isso a distância entre os orçamentos dos clubes argentinos e brasileiros poderia diminuir".

Para José Francisco Manssur, sócio do escritório CSMV Advogados e um dos autores do projeto de lei que criou a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), qualquer tentativa de impedimento legal de que o clube escolha a forma como quer se organizar, viola um conceito universal do esporte, que é o conceito da autonomia da entidade esportiva.

"Proibir um clube de se organizar como empresa é tão grave quanto obrigar todos os clubes a se transformarem em empresa, sob o ponto de vista da violação à autonomia. E realmente é um atraso na adoção do conceito que se faz no mundo inteiro, que só tem aumentado a distância financeira entre os clubes da Argentina e os brasileiros", aponta

Claudio Fiorito, presidente da P&P Sport Management Brasil, especializada no gerenciamento da carreira de atletas, também sente a diferença dos mercados nos seus últimos negócios.

"A transformações dos clubes em SAF em todo o mundo, e o Brasil é uma prova recente disso, retratam que é um caminho sem volta de investimentos dentro e fora dos campos, e um sinal de esperança não apenas para os chamados grandes, mas também aos menores, que passam a contar com novas receitas para incrementarem seus elencos e estruturas. É preciso, no entanto, boa gestão. Alguns clubes sul-americanos têm seguido esse caminho, mas é uma minoria. A partir do instante em que isso se tornar uma realidade, principalmente aos argentinos, creio que o nível de competitividade terá um efeito maior de equilíbrio".

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Para Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento norte-americana, a derrocada dos clubes argentinos também é fruto de um longo processo que combinou por décadas à depreciação econômica do país, e condena a proibição quanto a essas transformações.

"Em qualquer sociedade que se apresente como livre, não cabe mais justificar proibições como essa que defende a confederação. Até na Venezuela o ambiente de negócios e administração dos clubes de futebol é hoje mais propenso a desenvolvimento. Quem defende o atual regime é quem extrai benefício próprio da política neles, e do seu caráter associativo, como se dava no passado com os maiores sindicatos", finaliza.

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