Está insuportável assistir a jogos do Palmeiras no Allianz Parque
Passei as últimas horas pensando se escreveria ou não esse texto, mas depois de muito refletir, ler colegas nas redes sociais, conversar com outros que também sentem o mesmo problema e ficar com o tema na cabeça por mais de 24 horas, resolvi que o certo era colocar para fora: está insuportável assistir a jogos do Palmeiras no Allianz Parque.
Não sei bem o motivo: se é o preço alto dos ingressos, se é a mudança da geração, se é reflexo do que viramos depois da pandemia com a influência das redes sociais ou se é a sequência vitoriosa que mimou o torcedor. Acho que tem de tudo um pouco. A frase "torcedor acha que quando compra o ingresso comprou os três pontos juntos" resume bem.
Estar entre os torcedores é algo fundamental para a minha profissão. Deixar de se balizar pelas redes sociais, conversar com as pessoas, sentir o clima do estádio e relembrar o motivo de trabalhar com isso. Mas o fato é que estar nas arquibancadas tem deixado de ser uma experiência prazerosa. Virou a guerra dos que xingam no primeiro minuto com os fiscais de torcida. Não sei quem é pior. Perdemos a capacidade de discordar sem agredir. Não existe mais o meio-termo.
E isso se espalha por todos os setores. Contra o Botafogo, na última terça, aos cinco minutos de jogo, houve um começo de briga no Gol Sul por críticas ao Caio Paulista. O lateral tocou a bola para um lado, o torcedor queria para o outro, xingou até a última geração do jogador e causou revolta do outro que estava mais para baixo: vamos apoiar aí, *******. Dali para frente, era "você não vai me ensinar a torcer" até empurrões e ameaças de sopapos.
Poucos minutos depois, Marcos Rocha cruzou, a bola passou por todo mundo e a cena se repetiu a alguns metros para a minha direita. Mesmo roteiro, mas outros atores. Nem preciso falar o que acontece com os erros de Rony, né? Esse é o campeão das causas de brigas por ali. O clima fica tenso. Não há aquele espírito de união que faz você abraçar o cara do lado na hora do gol. Isso se repetiu na Superior Sul, na Superior Leste e Oeste, só não sei se teve no Norte, onde tinha o telão.
A corneta sempre existiu, faz parte do estádio, mas com cinco minutos? No primeiro passe? Na final do Campeonato? Com o 0 a 0 no placar? Com o time sendo o atual bicampeão brasileiro e com duas Libertadores conquistadas nos últimos cinco anos?
Já assisti a jogos em quase todos os setores do Allianz Parque e o comportamento é semelhante. Na Central Leste, tive até que trocar de lugar depois de ouvir xingamentos a Zé Rafael antes mesmo de o juiz apitar em uma partida da fase de grupos da Libertadores. O cara estava no aquecimento, com o time no primeiro lugar do grupo! Ali eu já imaginava o que estava por vir. E olha que naquele ano o Trem era o melhor do time.
Sabe onde está mais tranquilo para assistir? Na famosa Turma do Amendoim, na Central Oeste. Por ali, as cornetas sempre existiram, mas, por incrível que pareça, elas têm demorado mais a aparecer e o apoio é até mais duradouro do que em outros setores. Claro que já me irritei. No clássico contra o São Paulo neste ano, um torcedor na cadeira do meu lado pedia a cabeça do "morto do Felipe Anderson", do "inútil do Lázaro" e do "prego Flaco López".
Ele ficou constrangido quando Lázaro fez um gol, que acabou anulado, e com os dois gols do argentino. Saiu rindo da arquibancada. Mas esse tipo de situação acontece com muito mais raridade.
Não vou nem citar o fato de a organizada ter chamado Abel Ferreira de burro ou ter ameaçado o grito de "time medíocre". Para mim, eles têm outros motivos que não entram nessa discussão e cumprem de maneira exemplar seu papel nas partidas como visitante. A festa que eles fizeram e presenciei no Mundial nos Emirados Árabes, na Supercopa em Brasília e em Belo Horizonte é de aplaudir de pé.
Cada um torce do jeito que quiser, o direito de vaiar é sagrado do torcedor e não existe um manual de comportamento para apoiar a sua equipe. Mas, antes mesmo de completar 40 anos de idade, tenho me pegado repetindo a frase que sempre achei um porre: "você não sabe como era antigamente".
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