Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Multa a Jô não existe, e Corinthians jogou pra torcida após protestos
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Pouco mais de uma hora depois do fim do péssimo Bahia 0 x 0 Corinthians, a diretoria do time alvinegro divulgou nota oficial dizendo que multaria o atacante Jô pelas chuteiras utilizadas na partida —que eram azuis, mas pela televisão pareciam verdes, cor do arquirrival Palmeiras. A suposta punição, porém, não passa de balela.
O clube jogou para a torcida, um dia depois de sofrer protestos por parte de torcedores organizados no Parque São Jorge. Viu uma cortina de fumaça com a polêmica gerada nas redes sociais pela cor do calçado de Jô e a usou. Sequer se deu ao trabalho de ver se existia embasamento jurídico para tal. Até porque não tem.
O clube não pode simplesmente multar quem quer que seja por motivos estúpidos como a tonalidade dos calçados. Não tem cabimento nenhum cogitar cortar uma fatia do salário de um trabalhador por utilizar vestimentas consideradas inadequadas pelo empregador. Isso é assédio moral e processo ganho em qualquer tribunal democrático do mundo.
O pior é que Jô já havia treinado com a chuteira supostamente verde na atividade de sexta, no CT Joaquim Grava. Por quantas pessoas o jogador passou utilizando o equipamento sem que ninguém lhe alertasse que era verde e poderia remeter ao Palmeiras? Será que não foi porque simplesmente a chuteira não era verde, e, sim, azul turquesa, como dizem o atleta e a Nike?
Clube que adora dar show quando o assunto é a cor de seu arquirrival —vale lembrar que, no passado, quis vetar o gramado verde em seu estádio, entre várias outras patacoadas ao longo do tempo—, o Corinthians deveria ser mais cuidadoso nos contratos com seus atletas, caso deteste tanto assim tudo que seja alusivo ao Palmeiras.
Segundo advogados esportivos ouvidos pela coluna, e que já trabalharam em muitas ações envolvendo o Corinthians e contratos de salários ou direitos de imagem de atletas e ex-atletas do clube, tal veto à cor verde jamais foi exigido a jogador algum. Pelo contrário, os documentos deixam claro que chuteiras, caneleiras e luvas são de uso pessoal.
E, para um time afundado em dívidas trabalhistas e alvo de processos dos mais variados tipos (que o diga a empresa de marmitas) nos últimos anos, o Corinthians não pode se dar ao luxo de enfrentar mais uma ação assim, por nada. Não que Jô fosse à Justiça agora, mas nada o impediria de fazê-lo no futuro, tivesse seu ganha-pão descontado por besteira.
Nem no estatuto do clube existe informação nenhuma que proíba a utilização do verde no uniforme corintiano. O quinto parágrafo do artigo 128 prevê que, em ocasiões comemorativas, torneios internacionais e outros, o clube pode jogar de verde ou qualquer outra cor, se assim quiser um dia, desde que destaque o escudo tradicional.
Vale lembrar que, no título mais importante de sua história, o Mundial de Clubes de 2012, conquistado após atravessar o planeta, depois de vencer de forma invicta e incontestável a Copa Libertadores da América do mesmo ano, o Corinthians jogou com um detalhe verde na manga da camisa. Era um logotipo da Fifa. Tentou vetar e ouviu um sonoro "não".
Estamos em pleno 2021. O clube tem 111 anos de vida e história, muita história. Mas o time atual é limitado. Passou vergonha no Paulista, na Sul-Americana e na Copa do Brasil. Tem uma vitória nas últimas sete partidas e é sério candidato ao rebaixamento no Brasileiro. E realmente acham que a cor da chuteira do Jô é o problema?
Está mais do que na hora de acabar com tudo que atrasa o clube há alguns anos. Mas o processo de reconstrução tem de ser feito com seriedade e dedicação. E não enganando o torcedor com uma cortina de fumaça, ainda mais por motivo tão imbecil quanto o alegado, enquanto o time padece em campo. Por favor, devolvam o Corinthians!
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.