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Diego Garcia

REPORTAGEM

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Warner anuncia que não transmitirá Brasileirão de 2022; acordo ia até 2024

Santos e Palmeiras eram dois times com contratos com a Warner - Marcello Zambrana/Marcello Zambrana/AGIF
Santos e Palmeiras eram dois times com contratos com a Warner Imagem: Marcello Zambrana/Marcello Zambrana/AGIF

Colunista do UOL

28/09/2021 18h30

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A WarnerMedia, dona da TNT, decidiu não continuar com a transmissão do Campeonato Brasileiro a partir do ano que vem, exercendo cláusula que estava prevista em contrato com os clubes. A informação foi confirmada pelo vice-presidente de esportes na América Latina, Fábio Medeiros, em entrevista à coluna. A empresa transmitia o torneio desde 2019, fazendo contratos individualmente com os clubes participantes, e tinha acordos até 2024.

Os jogos com bloqueio de praça dos sete dos 20 clubes da Série A com os quais tem acordo, a divisão com outras plataformas e o modelo de negócio atual fizeram a empresa escolher esse caminho. "É a conjuntura desse cenário, com o direito fragmentado e a previsão que existe no contrato. Economicamente, com o direito de transmissão da forma que é hoje, não faz sentido continuar com ele", disse Medeiros.

A empresa poderia tomar essa decisão até o próximo dia 30 de setembro e começou a avisar os clubes na tarde desta terça-feira (28). Palmeiras, Santos, Athletico Paranaense, Juventude, Fortaleza, Ceará e Bahia possuem contrato ativo pelo Brasileirão deste ano. A temporada sai a um custo de R$ 182 milhões para a multinacional.

"A conversa com os clubes (para avisar da não continuidade no contrato) foi tranquila, ao longo do tempo conversamos possibilidade de isso acontecer, eles sabem da situação. Tem uma notificação oficial para ser feita, mas já estão cientes da decisão e continuamos com relação boa para próximas oportunidades que podem aparecer", disse o vice-presidente da Warner.

No ano passado, a empresa quase rescindiu, mas manteve o contrato após reuniões que adicionaram uma cláusula de saída ao acordo. Pelo combinado, a programadora deixa de exibir o Brasileirão em 2022 sem pagamento de multa, deixando assim que os clubes possam negociar com outros grupos de comunicação.

Confira, abaixo, trechos de entrevista com Fábio Medeiros, VP de esportes da WarnerMedia na América Latina.

Por que a Warner decidiu optar por não continuar a transmitir o Brasileirão?
Fábio Medeiros - Essa decisão já vinha sendo conversada há bastante tempo e está amparada por uma previsão que tinha no contrato, uma cláusula de saída com opção nesse ano. E para o cenário que temos hoje, o cenário é que o direito é muito fragmentado. A opção de assistir a essas partidas é fragmentada nas diversas plataformas. Tem outros fatores militantes que fazem com que a gente não possa ter os jogos exclusivos, como blecautes para cidades onde transmitimos os jogos (quando as partidas podem ser transmitidas apenas para algumas praças). Essa soma faz com que a gente não tenha um direito compreensível o suficiente para oferecermos melhor experiência aos nossos fãs. Gera um produto economicamente inviável para a gente nesse momento. É a conjuntura do cenário. Com o direito fragmentado, a previsão no contrato que existia, e analisando economicamente o direito como é hoje, não faz sentido continuar com ele.

Dentre esses pontos, qual o que mais pesou na decisão de não seguir?
Fábio Medeiros -
Os clubes tinham limitações dados outros acordos que limitavam essa disponibilidade deles. A gente cedeu essa questão aos clubes, era uma necessidade extrema que tinham, mas somamos ainda os blecautes e o fato de ter apenas um jogo por rodada, no máximo dois, a possibilidade de também ser transmitido em TV aberta, além do PPV, a soma dessas coisas faz com que o produto que tem a oferecer ao fã não seja o ideal e nem o que acreditamos como direito. Ainda mais se analisar os direitos na América Latina, muito mais completa e com plataforma de negócio mais saudável. Quando você soma esses fatores, em termos de engajamento, os números eram acima do que esperávamos, mas, olhando o todo, deixava a desejar em comparação ao que a gente tinha na América Latina e para o modelo que acreditamos ser o mais saudável ao fã e ao negócio.

No ano passado, vocês conversaram com os clubes e decidiram continuar, adicionando a cláusula que está sendo exercida agora. O que mudou, ou não mudou, de lá para cá?
Fábio Medeiros -
Não teve nenhuma grande mudança. A conversa com os clubes foi para ajustar questões contratuais que não estavam claras na redação inicial, mas o mercado não mudou tanto de lá para cá. Sempre tivemos um diálogo legal com clubes, para acertar as coisas, e na época decidimos seguir. No meio de uma pandemia, era importante continuar com o projeto, de maneira amigável e criando essa opção. Falamos em ver se algo mudava de maneira substancial a maneira que víamos o modelo de negócio e não mudou muito. A gente só concluiu algo que já estava previsto nessa negociação que era de fato não seguir com esse modelo de negócio que temos hoje. E que não tem nada a ver com o valor do direito do Brasileiro, que é o mais importante para o Brasil e o torcedor. Sou apaixonado pela Champions League, mas sabemos que o direito do futebol local para países vinculados ao futebol é sempre o mais importante. Porém, o modelo que é organizado hoje e da forma que estava o contrato, não fazia sentido continuar, por todos esses fatores que falamos.

Por que as coisas não mudaram?
Fábio Medeiros -
A gente precisa de uma organização diferente de como esses direitos são levados ao mercado. Você sabe sobre esse movimento que os clubes vêm fazendo [a liga de clubes que está em fase inicial] e acho que eles são super saudáveis. Me envolvi desde o início com a criação da Copa do Nordeste e todo trabalho feito de desenvolver o produto, de criar uma marca, música, mascote... gera valor ao produto, atrai mais interesse de patrocinadores e aumenta audiência. O futebol brasileiro está em momento de se estruturar e isso vai fazer que o Brasil tenha um produto que merece.

Como chegar mais perto de um modelo ideal?
Fábio Medeiros - O modelo de negociação que vinha sendo implementado no Brasil, clube a clube, com várias restrições, não permitia que isso acontecesse. Pegando exemplos no Chile, temos acordo com a ANFP, onde temos todos os direitos do Campeonato Chileno, primeira e segunda divisão. Na Argentina, fizemos acordo com a então liga que existia lá e junto da Fox as duas empresas compraram e dividiram os direitos. Outro exemplo, renovamos a Champions League, uma agência centraliza essa negociação e de forma mais organizada de ir ao mercado e explicar ao consumidor a maneira de assistir. Isso tudo gera valor ao produto e ao patrocinador que quer vincular sua marca. Essa clareza do produto de maneira mais centralizada gera mais valor a quem compra esses direitos.

Qual o balanço da Warner desse período que transmitiu o Brasileiro?
Fábio Medeiros -
Vejo como positivo, não saímos brigando com os clubes ou em guerra com eles e sim da maneira que foi acordado e que será positiva para eles. Entrar no futebol brasileiro foi importante e deu um sinal importante ao mercado. Talvez, algumas das mudanças que aconteceram no mercado foram consequência dessa entrada de um player novo. A experiência trouxe aprendizado e uma relação mais próxima com os clubes, além de visão mais clara de como funcionam as coisas para buscarmos mais oportunidades no futebol local.