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Garcia: Djokovic escolhe ser o mártir dos canalhas à glória eterna do tênis
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Novak Djokovic decidiu escancarar para o mundo que prefere abrir mão do título de maior jogador da história do tênis a ter que tomar a vacina contra a Covid-19, o vírus responsável pela pandemia mais devastadora da história humana nos últimos 100 anos.
Em entrevista à BBC publicada ontem, Djokovic afirmou que "os princípios de tomada de decisão sobre seu corpo são mais importantes do que qualquer título ou qualquer outra coisa". Um discurso egoísta, de quem se julga acima dos demais reles mortais. Quase 6 milhões de óbitos no mundo, mas, para o sérvio, seu corpo é soberano.
Mais do que isso. Ao assumir publicamente esse posto, Djokovic valida um posicionamento de que os direitos individuais estão acima dos coletivos. E se coloca em uma posição de mártir do movimento antivacina, encabeçado por negacionistas ignóbeis e ignorantes, como o clã dos Bolsonaro, que já se referiu ao sérvio como "líder mundial" no quesito.
Assim, nas redes sociais brasileiras, Novak Djokovic se transformou em referência para a turma da cloroquina. Um rosto vencedor entre lunáticos que questionam a vacina, incentivam a contaminação, brigam contra medidas protetivas, promovem aglomerações e foram responsáveis pela vergonha mundial que foi o combate à pandemia no Brasil.
Vivemos tempos onde as pessoas confundem canalhice e desconhecimento com opinião e sabedoria. E é curioso como os discursos dos babacas, de um jeito ou de outro, se encontram. O nº 1 do mundo no tênis não quer se vacinar em meio à maior crise de saúde do século, mas diz não ser contra a imunização, dizendo que "tomou vacinas quando criança".
Em outras palavras, Djokovic, que é antivacina, diz não ser antivacina. Não lembra a mesma ladainha dos racistas que "têm até amigos negros", ou dos simpatizantes de Hitler que defendem a criação de um partido nazista, "apesar de serem contra o nazismo"?
Em comum, a defesa de uma falsa liberdade. Esse tipo de gente não entende que o direito à liberdade também tem limite? Em uma vida em sociedade, ela não existe apenas dentro dos ordenamentos jurídicos. Vai até que afete a capacidade do próximo de ser livre.
Quem consegue ser livre andando na rua entre negacionistas que não se vacinam no meio de uma pandemia? Quando você não se protege, não apenas coloca em risco a vida dos que o cercam, mas também incentiva outros a fazerem o mesmo. Vira uma bola de neve. Ainda mais para um fenômeno midiático como o mais vitorioso atleta da história do tênis.
Nossos pais, avós e amigos foram enterrados por consequência da Covid-19. Já são quase 650 mil famílias brasileiras em luto. Outras 5,3 milhões ao redor do mundo. Na Sérvia, terra de Novak, são 15 mil óbitos. Mas, para Djokovic, o que importa é escolher o que fazer com seu corpo. Afinal, ele é o nº 1 do tênis. Sua liberdade individual está acima da saúde coletiva.
O que se passa na cabeça de Djokovic? Quais fake news o sérvio leu que o convenceram a não tomar a vacina contra a Covid-19? Acredita em um chip líquido introduzido pela China? Ou na criação de um campo magnético no corpo dos imunizados? Acha que vai alterar seu DNA, destruindo sua capacidade de jogar tênis? Vai virar jogador de sinuca, talvez? Ou um jacaré?
Djokovic diz não ter informações suficientes sobre a vacina, sendo que não existe só uma. Todas elas foram testadas e aprovadas, logo, não são mais experimentos. Efeitos colaterais existem como em qualquer medicamento, ou Djokovic nunca leu uma bula? As vacinas foram desenvolvidas em tempo recorde, é verdade, mas produzidas pelos melhores cientistas, fiscalizada por agentes reguladores que autorizaram os imunizantes.
Mais de 10 bilhões de doses de vacina contra a Covid-19 já foram aplicadas ao redor do mundo nos últimos meses, salvando milhões de vidas. A média de mortes chegou a cair 90%, sendo mais de 80% delas de não vacinados - que apresentam 97 vezes mais chances de óbito do que os imunizados. O que mais precisa saber o sérvio?
Djokovic não quer se vacinar? Seria "ok" se ele morasse em um iglu, sem contato com outros seres humanos. Não mora. Ninguém tem o direito de escolher adoecer e contaminar outras pessoas. É um dever cívico protegermos a nós mesmos e ao próximo contra a calamidade pública que assola o planeta. Vacinação é pacto coletivo.
Pelo bem da comunidade do tênis e de todos os seus fãs, Djokovic deveria engolir sua vontade, tomar a vacina e seguir em frente com seu talento. A vacina não vai tirar sua capacidade de jogar em alto nível. Ou ele não sabe que Rafael Nadal se vacinou antes de vencer o Australian Open?
Djokovic entrou em 2022 para confirmar o posto de maior jogador de tênis de todos os tempos. Mais novo do trio com Nadal e Federer (um ano a menos que o espanhol e seis que o suíço), estava empatado com ambos em títulos de Grand Slams (20 para cada), mas jogaria na Austrália, onde é o recordista de taças. E ainda vence em outros critérios de desempate.
Por exemplo, levantou mais troféus de Masters 1000 (37, contra 36 de Rafa e 28 de Roger), tem mais triunfos nos confrontos diretos (30 a 28 contra Nadal e 27 a 23 contra Federer) e faturou mais em prêmios (US$ 154 milhões, contra US$ 130 milhões do suíço e 127 milhões do espanhol). Ou seja: Djokovic tinha tudo para ser o mais vitorioso da história do tênis.
Mas não quer. Como confessou ontem, prefere não se vacinar e perder a maioria dos principais torneios - entre eles, os próximos Grand Slams - a ter que colocar dentro de seu precioso corpo o imunizante contra a Covid-19. Opção sua. Entrará para a história como o cretino que escolheu ser o herói dos babacas à glória eterna do esporte.
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