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Vigilante do incêndio do Ninho do Urubu cobra R$ 2,9 milhões do Fla
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Com Thiago Braga, colaboração para o UOL
Um vigilante que trabalhou por mais de dez anos no Flamengo foi à Justiça do Rio de Janeiro cobrar uma indenização de quase R$ 3 milhões do clube por danos morais, além de salário vitalício, por sequelas deixadas após o incêndio ocorrido no Ninho do Urubu, em fevereiro de 2019, que matou dez atletas da base rubro-negra.
No processo, ao qual a coluna teve acesso, o segurança - que terá seu nome preservado - deu detalhes do dia da tragédia, inclusive citando diálogos com os garotos que não sobreviveram ao incêndio. Todos eles morreram queimados e tinham idade entre 14 e 16 anos.
O vigilante relatou que ajudou a salvar vários adolescentes, alguns incólumes, outros gravemente feridos. E também afirmou que segurou nos braços algumas das crianças que faleceram na catástrofe, escutando pedidos deles como: "Não me deixa morrer, tio"; "Me ajuda, tio. O que está acontecendo?"; "Meu amigo está dormindo, ajuda ele", entre outros.
O profissional de segurança afirmou que ouvia tais pedidos dos adolescentes em momentos de verdadeiro terror, quando a pele de alguns deles se desgrudava do osso, ou momentos antes de vê-los perder a vida.
O homem, que tinha 40 anos na época da tragédia, diz que sua função era apenas de vigilante, sem ter conhecimento técnico para auxiliar naquela situação terrível, ou sequer formação profissional ou psicológica para lidar com os eventos ocorridos naquela manhã de 8 de fevereiro de 2019.
Desde então, o vigilante diz que sofre com um violento abalo emocional, que até hoje lhe traz repercussões e obriga ao uso diário de remédios, com atual quadro de saúde mental em estado grave, tendo desenvolvido doença psiquiátrica. Ele anexou ao processo laudos de médicos para comprovarem as sequelas.
O vigilante diz que não consegue mais manusear armas de fogo, o que considera como um trauma definitivo, o que lhe impede de voltar a atuar na profissão de maneira armada, pois lhe traria grande sofrimento. Assim, devido aos problemas psicológicos, entende que perdeu a capacidade de trabalhar de forma definitiva.
Como vigilante do Ninho, o profissional aponta que o Flamengo se desviou das suas obrigações com seus jovens jogadores, ao ter relegado os adolescentes à própria sorte para viverem em contêineres, contra recomendações de segurança e com riscos graves de vida, enquanto pagava milhões de reais aos profissionais.
O segurança também mencionou que o clube já era réu em ação civil pública com o objetivo de verificar as condições do alojamento onde ocorreu o incêndio, mas que o Flamengo se fez valer de diversos artifícios judiciais para retardar ao máximo as reformas necessárias para sanar as irregularidades existentes nas instalações.
Assim, caso seja configurada a culpa do clube pelo incêndio que acarretou a doença profissional que atinge o vigilante, ele entende ter que ser indenizado pelos danos causados. O vigilante ainda se colocou à disposição para que seja realizada perícia médica com psiquiatra indicado pelo tribunal.
Entre indenização por danos morais, salários, FGTS, 13º, multas, pensão mensal e vitalícia no valor de 100% de seu salário e honorários advocatícios, o vigilante cobra R$ 2,9 milhões do Flamengo. O clube ainda não foi notificado da ação e, por isso, apontou que não iria comentar o assunto na imprensa.
Na madrugada de 8 de fevereiro de 2019, um incêndio nas dependências do Ninho do Urubu vitimou dez jovens atletas das categorias de base do Flamengo: Athila Paixão, Arthur Vinícius, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo Santos, Pablo Henrique da Silva Matos, Rykelmo de Souza Vianna, Samuel Thomas Rosa e Vitor Isaías.
Em setembro de 2020, o UOL revelou e-mails que mostraram que o Flamengo sabia dos riscos no centro de treinamento em função da precariedade das instalações elétricas do Ninho do Urubu desde 11 de maio de 2018. Nove meses depois, um curto-circuito em um dos aparelhos de ar-condicionado do local, matou dez meninos das categorias de base do clube e feriu outros três.
No mesmo mês, o UOL trouxe a revelação de que o Ministério Público do Rio de Janeiro acusava o clube carioca de tentar "coagir" os 16 sobreviventes do incêndio. Segundo o MPRJ, o Flamengo propunha pagar R$ 20 mil a cada família que abrisse mão de buscar os direitos na Justiça.
Em dezembro de 2020, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) extinguiu parte da ação que obrigava o clube a manter o pagamento de pensões aos familiares das vítimas fatais e reduziu para cinco salários mínimos o valor da pensão destinada aos sobreviventes que não fecharam acordo de indenização com o clube.
Neste mês de junho, após recursos da Defensoria Pública do Estado (DPRJ), o pagamento das pensões será analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Também neste mês, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o pedido para trancar a ação penal movida pelo Ministério Público fluminense que julga as responsabilidades pelo incêndio do Ninho do Urubu.
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