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Diego Garcia

REPORTAGEM

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À Justiça, vizinhos relatam anos de terror com festas em cobertura de Sheik

Emerson Sheik durante o programa Arena SBT. - Reprodução/YouTube
Emerson Sheik durante o programa Arena SBT. Imagem: Reprodução/YouTube

Colunista do UOL

21/10/2022 04h00

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Vizinhos do ex-atacante Emerson Sheik relatam inúmeros transtornos causados pelo atual comentarista do SBT em um condomínio de bairro nobre de São Paulo. Em processo que corre desde o ano passado na Justiça paulista, a administração do local afirma que os moradores que dividem apartamentos próximos à unidade do ex-atleta relataram festas que duravam toda a madrugada e aconteceram por anos.

Em ação à qual a coluna teve acesso, o condomínio trouxe relatos de vizinhos que dizem que, desde 2017, o ex-jogador e sua família desrespeitaram as normas, causaram transtornos e receberam sucessivas multas. De acordo com as alegações, Sheik sempre ignorou os pedidos, avisos, advertências e multas, inclusive, debochando das reclamações constantes feitas sobre as festas em seu apartamento.

A coluna tentou contato através de mensagem enviada à assessoria de imprensa do jogador, mas não teve resposta. Horas depois, reforçou o conteúdo da matéria e voltou a pedir um posicionamento, mas, outra vez, não teve retorno. A nota será atualizada caso o ex-jogador decida se manifestar.

As festas de Sheik, segundo relatos de vizinhos, só acabavam após a chegada da polícia. O jogador se defende na Justiça e alega que o condomínio quer enriquecer às suas custas. Ele diz não ter recebido as penalidades - que no total, somam R$ 122 mil - ou as convocações para as assembleias de condomínio que aumentaram os valores das multas em até 10 vezes. Ele enviou contestação ao tribunal em junho.

O caos provocado por Emerson teria começado em outubro de 2017, com reclamações por barulhos excessivos fora do horário permitido. Na ocasião, Sheik, que até então tinha apenas infrações menores, como garrafas de vidro abandonadas no estacionamento, foi multado em 50% da cota condominial, ou R$ 716,28.

No começo do ano seguinte, em agosto, o ex-atacante promoveu uma festa de madrugada com a presença de muitos convidados. Os vizinhos reclamaram que alguns "utilizavam sapatos de salto alto que percorriam toda a unidade de forma despreocupada, acompanhados de barulhos de conversas, risadas estridentes, gritarias, cantorias, móveis sendo arrastados, além de som alto".

Um dos vizinhos, que ficava dois andares abaixo, relatou no livro de ocorrências que "o sr. Emerson se exime de qualquer responsabilidade e finge que não é com ele". Acrescentou que o barulho era "ensurdecedor", com "pessoas correndo de salto para lá e para cá, coisas sendo derrubadas, móveis infinitamente arrastados, gritos, música alta (...)".

Mesmo após as reclamações, Sheik intensificou a festa e os barulhos, segundo relataram os vizinhos, que fizeram registros em vídeo. O evento durou até o amanhecer.

Após ser informado sobre as queixas, o ex-jogador escreveu o seguinte, no livro de reclamações: "Não sou fingido, sou homem! Cuidado com as suas palavras, você precisa aprender a respeitar as pessoas! Vou pedir para as minhas visitas entrarem descalças só para agradar você, tá? Vou pedir para sentar no chão! Ass: Emerson".

Em outra mensagem, ele negou que os convidados estivessem usando salto alto e desconhecia qualquer festa, barulhos, gritos, som alto, polícia ou porteiro. Acrescentou que tinha um ótimo relacionamento com todos os vizinhos. Nessa ocasião, Sheik foi multado em R$ 2,9 mil, pagos no mesmo dia.

Porém, na semana seguinte, de acordo com o condomínio, o ex-jogador promoveu outra festa que causou os mesmos incômodos aos moradores. Em resposta, novamente escrita pelo atleta no livro de ocorrências, Sheik alegou que seu apartamento "não é uma instituição (Corinthians). Espero que não sejam reclamações de torcedores".

O condomínio diz à Justiça: "Como se vê, de forma arrogante e até mesmo bem ignorante, o réu tenta fazer parecer que tais (punições) seriam infundadas e, ainda, provenientes de torcedores de times diversos ao que ele atuava. Todavia, aos condôminos importunados pelas constantes festas e gritarias pouco importava se ele atuava no time do XV de Piracicaba, Corinthians ou Barcelona, uma vez que ali ele nada mais representava do que morador do condomínio e obrigado as respeitar as regras como qualquer outro".

Após o incidente, o ex-atleta foi novamente multado em R$ 2,9 mil. Contudo, na mesma semana, Sheik foi advertido por descer com seu cachorro para pegar uma pizza e deixar o animal fazer cocô no tapete de entrada, indo embora sem limpar.

E as festas continuaram no mês seguinte, de novo, com barulhos de som, conversas, saltos altos e as mesmas queixas. Os moradores, mais uma vez, registraram no livro de ocorrências, com vídeos e fotos. Um deles, ironizou: "Interfonei para o morador, que não atendeu. Vai ver não estava em casa e não sabia da festa que estava acontecendo em sua ausência, como das outras vezes...".

Após mais este incidente, a multa condominial aumentou para R$ 5,9 mil.

Em novembro de 2018, durante outro evento promovido no apartamento de Sheik, uma das vizinhas, moradora de um apartamento logo abaixo, no terceiro trimestre de gestação, disse que precisou se locomover a um hospital, às 4h da madrugada, incomodada pelo "desgaste que vinha sofrendo com as constantes festas e perturbações".

A própria grávida escreveu no livro de ocorrências: "Por conta desse estresse, fiquei mais de três horas no pronto-socorro, até constatar que minha bebê estava bem e eu poderia voltar para a casa. Como saí por volta de 4h da manhã, não sei até que horas a festa aconteceu. É lamentável o descaso desse morador com o bem-estar coletivo".

O condomínio anexou documentos ao processo para comprovar o ocorrido. A festa durou até 5h30 e só parou com a chegada da Polícia Militar. A multa foi novamente de R$ 5,9 mil, que não foi quitada.

Não parou por aí. No mesmo mês, pelo menos mais três festas aconteceram na casa do jogador, "regadas a muito barulho, gritaria e cantoria, como já lhe era habitual", segundo o condomínio, que classificou Emerson como alguém "impossível de ter uma convivência harmônica e pacífica". Novamente, tudo foi registrado no livro de ocorrências.

Foi convocada uma reunião de condomínio exclusiva para tratar da situação de Sheik e seus "transtornos e reiterados atos desrespeitosos, sem qualquer recuo nas atitudes inconvenientes". Os vizinhos o classificaram como "antissocial" e votaram uma nova penalidade, aprovada por unanimidade, que corresponderia ao quíntuplo da cota condominial, chegando a R$ 7,3 mil.

Mesmo assim, já ao longo dos meses de março, abril, maio e junho de 2019, o apartamento de Emerson voltou a promover festas que atravessaram a madrugada. A partir daí, o ex-jogador seguiu negando quitar as multas e assinar o recebimento, segundo relatou o condomínio à Justiça.

Em agosto e em dezembro, - completando, então, dois anos de festas que perturbavam os vizinhos -, após novos eventos caóticos em seu apartamento, Sheik recebeu uma nova modalidade de multa, que alcançou o décuplo da cota condominial, atingindo R$ 15,6 mil. A penalidade foi novamente aprovada por unanimidade em assembleia e aplicada pelo menos sete vezes.

Em determinado dia, adolescentes - apontados como filhos de Emerson- foram flagrados nadando na piscina e transitando pela área do condomínio "completamente desnudos" e praticando atos de vandalismo, que foram flagrados pelas câmeras de segurança. Uma nova penalidade de R$ 15,6 mil foi aplicada.

No ano seguinte, em janeiro, os eventos com barulhos altos e convidados de salto alto em plena madrugada continuaram, mais uma vez com a chegada de uma viatura da Polícia Militar. Segundo o condomínio, "nada intimidou o réu (Sheik), que permaneceu infringindo todas as normas, legais e do bom senso, mantendo barulho excessivo até 7h da manhã".

No total, de acordo com o condomínio, Emerson tem R$ 122 mil em multas que não foram quitadas.

Em sua defesa enviada à Justiça, Sheik diz que não foi notificado previamente das infrações e nem sobre as assembleias que deliberaram a imposição das multas. Ainda afirma que não teve o direito para contestar as alegações e não reconhece as cobranças das infrações.

De acordo com o ex-jogador, ele não reside no imóvel há anos, sendo que, em 2017, por exemplo, morava em Campinas, já que defendia a Ponte Preta. Segundo ele, estava sempre em viagens e concentrações, assim como em jogos durante os finais de semana.

Assim, Emerson acredita que o condomínio está em busca de enriquecimento sem causa e atropelou os procedimentos contidos nas convenções condominiais e regulamentos internos, "formando um tribunal de exceção de modo a puni-lo"..

O ex-jogador ainda condena o uso das palavras ofensivas por parte do condomínio no processo, como "desrespeito do réu", "tom de deboche", "sarcasmo", "absoluta falta de respeito", "mínimo senso de civilidade", "arrogante", "ignorante", "deploráveis hábitos", "má-fé", "atos de vandalismo", que, segundo ele, atacam sua imagem, de um "cidadão de bem". Seus advogados pediram respeito.

Sheik diz que se desculpou e pagou parte das multas que reconhece por situações que de fato ocorreram. Ele pede a impugnação dos documentos anexados ao processo que não foram recebidos ou assinados por ele.