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Diego Garcia

REPORTAGEM

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Qatar, dia 2: Abertura de Fan Fest bizarra tem pelo menos 90% de homens

Mulheres na entrada do estádio Al Bayt, durante a partida de inauguração Qatar vs Bahrein  - Raquel Arriola / UOL
Mulheres na entrada do estádio Al Bayt, durante a partida de inauguração Qatar vs Bahrein Imagem: Raquel Arriola / UOL

Colaboração para o UOL, de Doha (Qatar)

20/11/2022 07h42

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O segundo dia de Copa do Mundo mostrou ainda mais as diferenças gritantes entre o Qatar —país que ainda nega às mulheres direitos fundamentais— com outras nações do mundo ocidental, onde elas têm condições bem mais igualitárias com os homens.

Estive na abertura da Fan Fest oficial da Fifa, em um espaço enorme no centro do país, com show do astro pop colombiano Maluma e outras estrelas, e percebi uma situação bizarra: pelo menos 90% dos presentes eram homens —e estou sendo generoso no número, pois 99% seria algo mais realista.

Uma Copa do Mundo por si só já é um evento que tradicionalmente reúne mais homens do que mulheres —diferença que, felizmente, vem, Copa a Copa, diminuindo, com o esporte se popularizando cada vez mais do lado feminino.

Mas a Copa no Qatar, realmente, escancarou os extremos culturais do país escolhido como sede de forma controversa pela Fifa.

Não sei dizer ao certo quantas pessoas compareceram ao evento. Dezenas de milhares, certamente, mas impossível contabilizar. Só que mulheres eram pouquíssimas. Em sua maioria, estrangeiras com camisas de países como Equador, Argentina, Brasil e México.

Da população local, entretanto, era possível, talvez, contar nos dedos. Os homens se aglomeravam nas filas quilométricas que se formavam na porta de entrada, com direito a correria para pularem as grades e conseguirem entrar antes que os outros.

Gravei um vídeo do show do Maluma para mandar a amigos, sem ter percebido quais pessoas nos arredores apareciam na câmera. E a pergunta geral foi a mesma: não tem mulheres nessa Fan Fest? Olhei novamente a imagem e notei que, de fato, em uma filmagem 360º, não deu para ver nenhuma.

Em 2021, um relatório do Observatório de Direitos Humanos disse que ainda existe um "sistema de tutela masculina" no Qatar, que nega às mulheres o direito de tomar decisões importantes sobre suas vidas.

A Human Rights Watch também apontou que as mulheres qatarianas precisam ter permissão de seus "guardiões masculinos" para se casarem, estudarem no exterior com bolsas do governo, trabalhar em alguns empregos governamentais ou viajar para fora do país até certa idade.

Além disso, o sistema discriminatório ainda nega a elas a autoridade para atuarem como guardiãs primárias de seus filhos, mesmo quando já estão divorciadas ou com guarda legal.

O choque por ver um espaço do tamanho do Parque Olímpico do Rio, onde tradicionalmente ocorre o Rock in Rio, por exemplo, foi tanto, que nem o preço da cerveja me assustou mais. Cada copo custa cerca de R$ 75, o que vai limitar drasticamente o consumo de muita gente, inclusive o meu.

Isso porque o Qatar, assim como outros países árabes, possui leis severas em relação ao consumo de álcool. A comercialização e o consumo são proibidos em locais públicos, com exceções em alguns hotéis internacionais e poucos bares ou clubes com licença.

Definitivamente, a Copa do Qatar não é da cerveja. E, tristemente, muito menos das mulheres.

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