Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Pelé e a saudade do que não vivemos
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Me sinto estranho desde as 15h54 da última quinta-feira. Foi a hora em que recebi a notificação no celular dizendo que Pelé morreu. Desde então, não sei quantas vezes me peguei com os olhos marejados, lendo uma notícia, vendo uma imagem ou lembrando de coisas que nem sequer vivenciei.
É estranho, pois não vi Pelé jogar. Nasci 10 anos após sua aposentadoria. Portanto, não tenho memórias fotográficas que me façam pensar no Rei como uma lembrança palpável, viva, algo que toque meu subconsciente com imagens e sentimentos e me remeta a situações marcantes.
O que sei de Pelé, li, ouvi ou apenas vi em vídeos, em sua maioria em preto e branco, mas com conteúdo tão bom que, fossem um filme, seriam clássicos. Para quem não o viu jogar, talvez o Rei seja como um daqueles personagens de livro que, quando você acaba de ler, sabe que, de certa forma, marcou para sempre.
Será por isso que a morte de Pelé provoca este imenso sentimento de vazio? Aquela sensação dolorosa de que alguma coisa significativa dentro de nós se apagou? Quem sabe, não seja como a perda de um amigo distante que, em certo ponto da vida, deixou algo de bom?
O adeus de Pelé, para quem não viu o Rei jogar, nos faz pensar no quanto deve ter sido especial viver tudo aquilo ao lado de pessoas queridas. Como seria incrível acompanhar aquele 4 a 1 na Itália no sofá de casa junto do meu pai, meu tio e o finado vovô Antenor! Ou assistir ao antológico gol contra a Juventus da arquibancada da Rua Javari, com amigos, tomando cerveja!
De um jeito ou de outro, para os mais jovens, Pelé provoca isso: uma nostalgia intensa de coisas que não experienciamos. Lemos, ouvimos e vimos tanto sobre ele, que parece que presenciamos de perto toda a sua epopeia. Sem sequer saber que nasceríamos, o Rei já havia tocado a existência de todos os brasileiros.
Pelé tem sua importância nas nossas vidas, apesar de a história ter sido escrita antes de estarmos nesse mundo. É parte de nós, mesmo sem jamais o termos visto com uma bola nos pés ao vivo. E, agora, mais do que nunca, virou essa estranha saudade daquilo que não vivemos.
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