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Diego Garcia

REPORTAGEM

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Corte de comida fez funcionários compararem Santos à xepa do BBB

com Lucas Musetti Perazolli, de Santos (SP)

18/01/2023 15h21

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Os cortes nas refeições de funcionários do Santos fizeram o clube ser comparado à xepa do BBB por funcionários do futebol que foram diretamente afetados com as mudanças.

Na última segunda-feira (16), os trabalhadores de diversos setores foram surpreendidos com um café da manhã que tinha apenas pão com manteiga, diferentemente do que normalmente era servido, com ampla variedade de alimentos - era a mesma refeição disponibilizada aos atletas. Isso gerou uma crise interna, conforme mostrou a coluna nesta terça (17). Segundo funcionários, foi o último de uma série de cortes feitos pela gerência administrativa nos últimos tempos. Essa medida das refeições já tinha sido cogitada e tentada pela gestão algumas vezes, mas vetada pelo departamento de futebol.

Apesar de o Santos negar que a mudança tenha causado incômodo, dizendo se tratar apenas de um "acerto de horários" e que "não houve intenção de economia", a coluna apurou mais detalhes do que vem ocorrendo nos bastidores do clube.

Os nomes e funções dos funcionários serão preservados para evitar retaliações. Ao chegarem pela manhã para o café, que costumava ter ampla variedade de frios, frutas, sucos e proteínas, os funcionários ligados ao futebol encontraram apenas pão com manteiga. Um deles chegou a dizer em voz alta que não comeria mais no clube, pois não se sentia bem-vindo ali.

Já outro grupo fez piada e disse que o Santos virou "a xepa do BBB", referência ao nome dado aos participantes que são excluídos do grupo VIP do programa global Big Brother Brasil e, consequentemente, passam por mais dificuldades para se alimentar, com restrição de comida. O termo "xepa" é referência aos alimentos que sobram nas feiras e não são vendidos.

Dois jogadores chegaram mais cedo para o treino e encontraram o café da manhã servido para os funcionários. Ao notar a chegada dos atletas, um responsável pela alimentação ficou constrangido. A alimentação dos atletas aconteceria depois, com mais alimentos, e restrita aos jogadores.

Outro fator que gerou desconforto foi que os responsáveis pelo setor de limpeza foram proibidos de tomar o café da manhã, mesmo o pão com manteiga, assim como os trabalhadores da manutenção. Um funcionário ligado ao futebol disse que impediram os profissionais da faxina até de levarem para casa os pães amanhecidos no outro dia.

Os dois jogadores ficaram incomodados com o que viram e foram conversar diretamente com os diretores Falcão e Carravetta. O clube acabou voltando atrás nos cardápios distintos, mas manteve os turnos diferentes aos atletas. Profissionais de limpeza e manutenção seguem vetados.

O ocorrido foi mais um entre uma série de cortes. A gerência administrativa, comandada por Vicente Salvador, é a responsável pelas mudanças. Vicente começou a ir em viagens com a equipe para ver o que poderia ser cortado de custos.

A divisão de quartos, com mais de um profissional por quarto, também virou praxe entre os funcionários que viajam. Os pontos de horários foram vetados, mesmo para os profissionais que viajam com o elenco e trabalham de forma integral nos finais de semana de jogos. As medidas todas foram formas de evitar horas extras e reduzir custos.

Para "compensar", o clube propôs pequenos aumentos aos funcionários. Um funcionário que costumava receber R$ 2,5 mil por mês de horas extras pelas viagens de fim de semana teve, entretanto, um aumento de apenas R$ 600.

Meses antes, o almoço e o jantar foram cortados para todos os funcionários, mesmo aqueles que estão no dia a dia integrados aos atletas e comissão técnica, diferentemente do que ocorre em outros clubes pelo Brasil, como São Paulo, Corinthians e Palmeiras. Desde então, apenas os jogadores podem comer no clube sem pagar. O almoço custa em torno de R$ 20. Se comer no CT todos os dias úteis, um funcionário gastaria mais de R$ 500.

O almoço, no caso, passou a ser cobrado, o que gerou situações embaraçosas com treinadores que passaram pelo clube desde então, já que esses profissionais que perderam o benefício da comida precisam ir almoçar em casa para economizar, perdendo um tempo que poderiam estar exercendo suas funções dentro do CT.

O Santos disse o seguinte sobre os cortes na alimentação:
"O Santos FC esclarece que houve apenas um acerto de horários para todos os profissionais que trabalham no CT Rei Pelé, alinhado entre a gerência administrativa e a coordenação de esportes do Clube. Os jogadores realmente têm um horário diferenciado de alimentação e têm suplementação individualizada, conforme sua carga necessária. Não houve intenção de economia, muito menos crise interna. Apenas ajustes de horários para um melhor fluxo para os jogadores, que têm cronogramas específicos de treinos e nutrição".