Ex-campeão do UFC é levado à Justiça por franqueados de lojas de carnes
Ex-campeão dos pesos-pesados do UFC, o lutador de MMA Fabrício Werdum passou a enfrentar problemas judiciais recentes, por causa de franqueados insatisfeitos com as operações de sua rede de lojas de carnes. Eles se dizem enganados pela operação que leva o nome do esportista e cobram mais de R$ 2 milhões.
Pelo menos quatro ex-parceiros da Werdum Premium Meats ingressaram na Justiça contra o lutador e a empresa pedindo a anulação dos contratos, com o ressarcimento do valor de taxa de franquia e indenizações por danos materiais pelo fracasso no andamento do negócio.
Nas ações, os investidores alegam que a franquia não possuía know-how para validação do negócio, ao contrário do que era exposto na 'COF' (Circular de Oferta da Franquia), que nunca teve o domínio do empreendimento, tendo apenas contratado empresas de consultoria em franquias sem que nenhum conhecimento fosse transferido aos franqueados.
Além disso, questionam também os valores estimados pela empresa do lutador para o investimento necessário de operação das lojas e do retorno financeiro com as vendas. Werdum, por sua vez, se defende, diz que as acusações são infundadas e culpa os ex-parceiros pelo fracasso nas operações de suas respectivas franquias.
Caso mais avançado
Em processo que corre em Curitiba desde o fim do ano passado, um empresário alega ter investido R$ 580 mil iniciais, entre taxa de franquia, despesas de reforma, implantação, inauguração e marketing. Porém, segundo ele, uma série de erros passaram a ocorrer, que aumentaram os custos para R$ 850 mil e, posteriormente, R$ 1,5 milhão.
O empresário aponta falta de know how da empresa de Werdum, com ausência de catálogos de produtos, cardápios, normas técnicas ou quaisquer outros processos operacionais da franquia. Então, desconfiou ter "sido enganado, diante de uma promessa inexistente", especialmente após conversar com franqueados de Gramado-RS.
Ao perceber que o negócio não seria como ele esperava, ele diz que interrompeu o empreendimento e passou a buscar reparação dos danos sofridos. Agora, cobra R$ 202 mil em danos materiais e morais.
Outras ações
Também em Curitiba, o responsável por uma loja na cidade de Bombinhas, em Santa Catarina, ingressou com novo processo, no dia 28 de julho, questionando a ausência de conhecimento sobre a operação por parte de Werdum e seus representantes.
"O proprietário que carrega o nome da marca é um atleta de UFC, contratou empresas de consultoria de franquias e comercializou uma fábula aos franqueados que investiram seu dinheiro em algo que nunca existiu", dizem os advogados do franqueado.
De acordo com o processo, 6 das 12 lojas franqueadas já haviam fechado suas portas após acumularem prejuízos sem nenhuma contrapartida da franqueadora, que cobrou por um modelo de negócio que não possui. Ele cobra R$ 536 mil, entre restituição da taxa de franquias e royalties, mais danos materiais.
Já em Balneário Camboriú, o franqueado local entrou com uma ação de rescisão contratual, acumulada com perdas e danos, lucros cessantes e tutela de urgência contra Werdum. A alegação é que o lutador "vendeu uma ilusão".
"Vendeu um negócio com retorno do investimento, na prática, totalmente inexistente sem o devido plano de gestão, suporte, transferência de know how, padronização de preços, cardápios e procedimentos a serem seguidos", dizem os advogados do requerente.
A empresa aponta que teve "enorme prejuízo" pela "ausência de boa-fé da franqueadora". O processo foi aberto no último mês de agosto, e o autor cobra quase R$ 1 milhão, entre lucros cessantes, perdas e danos e devolução da taxa de franquia.
Já em um quarto processo, um franqueado da cidade de Blumenau (SC) acionou uma das empresas do lutador, a Werdum Franchising, pedindo a nulidade do contrato de franquia e reparação por danos materiais e morais pelos mesmos motivos dos demais. Ele cobra cerca de R$ 460 mil desde o dia 19 de julho, quando a ação ingressou no Tribunal de Justiça.
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O UOL entrou em contato com quatro franqueados já com processos iniciados ou em vias de protocolá-los na Justiça contra a Werdum Premium Meats — todos pediram para não terem seus nomes divulgados. A visão geral deles é que houve uma espécie de 'propaganda enganosa' na divulgação do empreendimento pelo ex-campeão do UFC e seus sócios na empresa.
"Houve uma falha de planejamento e números inventados quando eles nos venderam a franquia. Esse foi o maior problema. Os franqueados já começaram com o negócio falido", disse um dos franqueados.
Todos os ouvidos pelo UOL alegam terem sido mal assessorados pela franqueadora durante o processo de parceria. Além disso, em um email enviado pela Werdum Premium Meats no começo de julho deste ano, a empresa teria comunicado aos parceiros o fim das suas atividades de franqueamento e início de uma nova modalidade de licenciamento de produtos.
A mudança, na visão deles, configuraria quebra de contrato, tendo em vista que o vínculo de franquia estabelecido com a empresa do lutador previa um período de cinco anos de vigência. Por esse motivo, os franqueados entendem que deveriam receber o valor estipulado pelo rompimento do acordo: o dobro do valor da taxa de franquia pago por eles.
"Eles mandaram esse email avisando que quem quisesse continuar com a marca teria de assinar um novo contrato com eles para o uso do nome. Mas nunca ofereceram (um acordo). No contrato consta que a quebra do mesmo por qualquer um dos lados, a (multa) taxa de franquia é dobrada. A taxa de franquia era 50 mil (reais), então a quebra de contrato seria R$ 100 mil (reais)", revelou um dos franqueados.
A defesa de Werdum
Até o momento, Werdum só apresentou contestação na primeira ação aberta em Curitiba. Ele aponta que a acusação é uma "falácia para tentar trazer alguma legitimidade à desistência do negócio de sua parte" e que o franqueado desistiu do negócio "com base em meras ilações, conjecturas ou conversas mal interpretadas com terceiros, e agora tenta fazer crer que sua desistência voluntária seria por culpa da empresa".
Também acrescentou que "não lhe falta know how", contando com 12 lojas operando regularmente, mencionando que um de seus representantes é especialista em carnes e seus mais variados cortes e modos de preparo.
Segundo a defesa de Werdum, a exemplo de todo e qualquer negócio, a franquia possui riscos, e o retorno do investimento não é imediato, e culpou o empresário pelo fracasso antes mesmo de seguir adiante com a operação.
Em contato com o UOL, o advogado do lutador reiterou que a Werdum Premium Meats cumpriu com todas as obrigações e todas as acusações contra a empresa são infundadas, e serão respondidas na Justiça. O profissional também negou que a franqueadora tenha anunciado o fim de suas atividades via email aos franqueados, sendo o comunicado apenas uma mudança de estratégia por parte da companhia.
"A questão das franquias, o que a empresa decidiu: 'Nós não vamos continuar com a nossa loja, não vamos mais operar uma franquia nossa. Nós vamos agora licenciar a marca para todos os frigoríficos e continuar prestando toda a assessoria e suporte que vocês precisam. Mas a Werdum Premium Meats vai licenciar a marca para que os fornecedores usem a marca e vocês vão ter o suporte e o fornecimento de mercadoria diretamente dos fornecedores e o nosso suporte'. Foi isso que foi explicado para eles. Eles entenderam que estava encerrado o sistema de franquia. Não, não está! Tem lojas abertas e lojas operando", disse o advogado de Fabrício Werdum.
O fechamento da loja piloto, por sinal, é outro ponto levantado pelos franqueados para corroborar suas alegações de que a Werdum Premium Meats não possuía know how para tocar o projeto de forma bem-sucedida. Em resposta, o advogado da empresa alega que a continuidade da loja fixa nunca fez parte dos planos da franqueadora e foi utilizada apenas como objeto de estudo para compartilhá-lo com as franquias.
"Na verdade, o que o comunicado explicou para eles: que a empresa não tinha mais motivo e objeto de manter a loja (matriz/piloto). O que a empresa fez: para estudar o mercado e entender os custos para montar uma loja, os custos de operar uma loja, um restaurante, a empresa montou uma loja piloto, em Florianópolis. Dois anos e meio depois de montar essa loja — que não era o business da empresa, a empresa não tem porque manter uma loja —, depois de mapeado e planejado todos os custos, como funcionava a operação, a empresa entendeu por descontinuar a loja. Então, ela não continuaria com a loja própria", explicou.
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