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Reportagem

Amigo de Robinho citado em processo de estupro trabalha no Instituto Neymar

*Com Lucas Musetti, de Santos (SP)

No último dia 19 de maio, Fabio Cassis Galan era um dos integrantes da equipe do Instituto Neymar Jr nos 10 km Tribuna FM, a prova de corrida de rua mais importante de Santos. Funcionário da entidade criada pelo ex-camisa 11 do Santos, Galan é um dos envolvidos na investigação italiana do estupro que levou Robinho à prisão. Ele não foi julgado por não ter sido encontrado pela Justiça italiana.

A coluna apurou que Galan trabalha no instituto de Neymar desde 2015. O crime na Itália aconteceu dois anos antes, em 21 de janeiro de 2013. Segundo a Justiça italiana, o grupo de amigos de Robinho estuprou uma mulher albanesa no dia do aniversário de 23 anos dela.

O instituto confirmou, em nota, que ele é colaborador desde 2015. Posteriormente, também enviou duas certidões criminais negativas em nome de Fabio Cassis Galan, para comprovar que ele não responde a nenhum processo criminal no Brasil. O comunidado da associação civil está reproduzido logo após a reportagem, na integra.

No podcast "Os Grampos de Robinho", do UOL Esporte Histórias, Galan aparece em longas conversas com o ex-jogador. Em diálogos, eles dão risada da situação, falam de combinar versões sobre o crime e xingam a vítima de nomes pejorativos (veja ao final do texto alguns trechos transcritos de uma conversa da dupla sobre o caso, em janeiro de 2014). Nas conversas, Fabio nega ter tido relações sexuais com a mulher porque, segundo ele, teve disfunção erétil.

Fabio Galan no Instituto Neymar
Fabio Galan no Instituto Neymar Imagem: Reprodução/Instagram

Galan é professor de educação física pela Prefeitura de São Vicente desde 2013. Há nove anos, ele se divide entre a prefeitura e o instituto. Além de aparecer ao fundo em alguns vídeos divulgados nas redes sociais da instituição, Galan era citado em notícias da instituição como "supervisor de atividades esportivas". A última menção a ele é de setembro de 2022.

Na denúncia do Ministério Público italiano, é dito que "Galan, Falco, Rudney e Clayton, depois de presenciarem o ocorrido, abusaram da mesma forma da vítima, obrigando-a a praticar relações sexuais orais e vaginais". Segundo depoimento da vítima, Galan "tentou beijá-la". Ela ainda diz que foi levada ao camarim e penetrada pelos homens "um de cada vez". A mulher ainda "lembra de ter acontecido uma relação oral com Galan e Rudney".

Em nota enviada à coluna, o Instituto Neymar disse que Galan trabalha no local desde 2015 e que "nunca foi comunicado do envolvimento, de qualquer espécie, do seu colaborador com o caso citado".

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"O Sr. Fábio Galan é nosso colaborador desde o início das nossas atividades em 2015. O Instituto Projeto Neymar Júnior nunca foi comunicado do envolvimento, de qualquer espécie, do seu colaborar com o caso citado. Preservamos os direitos e privacidade de todos. Como não fomos comunicados de qualquer procedimento, respeitamos o devido processo legal e a presunção de inocência, direito fundamental de todo cidadão. Ficamos à disposição."

A coluna procurou Galan, mas ele não respondeu às mensagens enviadas. Quando o podcast foi publicado, ele também não quis se manifestar.

No total, seis homens são mencionados durante as investigações como supostos agressores: além de Robinho, que está cumprindo pena na penitenciária do Tremembé, em São Paulo, e Galan, os outros quatro são Clayton Santos, Alexsandro da Silva, Rudney Gomes e Ricardo Falco. Falco foi condenado ao lado de Robinho na Itália. Os outros quatro deixaram o país antes de serem localizados pelos investigadores. Nesta semana, o STJ marcou a data do julgamento de Falco, que também pode cumprir pena no Brasil.

Veja abaixo trechos de conversas entre Robinho e Galan, na primeira vez que falaram sobre o estupro, em janeiro de 2014, um ano após o acontecimento, assim que o ex-jogador soube que havia uma investigação em andamento. Os áudios fazem parte do processo legal que levou à condenação de Robinho e Falco em todas as instâncias. Logo depois, os episódios do podcast.

Robinho: Chamaram o Jairo para depor, oito caras comendo a menina.
Galan: Tá louco, neguinho, essa merda aí?
Robinho: Chamou o Jairo para depor, deu o nome de todos. Fabio Cassis Galan.
Galan: Mentira.
Robinho: O cara já tinha os nomes todos. E se sair na imprensa, os caras vêm pra cá?
Galan: Tu acha que vão chamar a gente para depor?
Robinho: Eu, com certeza. Vocês, se chamar, estão no Brasil. E eu que to aqui? Meu medo é sair na imprensa essa p... O Jairo foi lá e pediu o telefone de quem estava. Quem estava? Robinho, a esposa...
Galan: Tira o seu da reta, mano.

A seguir, segundo mostrou o podcast, o Ministério Público italiano destacou esses trechos na investigação como 'declarações heteroacusatórias", ou seja, declarações em que Robinho acusa outra pessoa. Galan, por sua vez, se demonstra mais preocupado com a carreira do amigo do que com a mulher.

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Galan: Tô rindo de nervoso, cara. Puta que pariu. A preocupação é contigo, neguinho.
Robinho: O Alex falou: neguinho, alguém gozou dentro, a mina tá gravida. Eu falei Alex, eu e Galan nem rangamos a mina, não tinha como, de pau mole, eu broxei. Só que a mina falou que Clayton, Rodney e Alex pegaram à força.
Galan: Caralho, mano. Quem gozou dentro?
Robinho: Acho que foi o Claytinho, né?
(Os dois riem por 10 segundos sem parar)
Galan: Em algum momento falaram seu nome?
Robinho: Falou que era amigo do Robinho, o Claytinho.
Galan: Depois de um ano que rolou... A Justiça é lenta, mas quando funciona, dá uma merda isso aí.

No diálogo a seguir, eles falam sobre "combinar a mesma versão" do crime:

Robinho: Eu to com medo de sair na imprensa: 'Amigos de Robinho pegam mina à força na Itália'. Olha que fase.
Galan: Isso é um prato cheio, cara, para a globo.com. Pra mim também aqui, concursado da prefeitura.
Galan: A gente tem que combinar de falar a mesma versão todo mundo, cara. Não adianta mentir, não se envolver. 'Realmente, saiu eu, fulano e ciclano e ela foi por livre e espontânea vontade. Em nenhum momento ela chorou, nada disso, ela que chamou a gente'. Tem que meter assim. Mas mentir, falar que nem conhece? Acha que não tem câmera no negócio?
Robinho: Pediram as imagens, se não der, vai fechar a discoteca. Estou com medo de ir lá depor.

Em outro trecho, Galan se refere à vitima de forma pejorativa e fala como foi sua participação no estupro.

Galan: Comeu essa piranha?
Robinho: Não sei nem quem é, nem lembro dessa porra, se eu ver, nem lembro.
Galan: Eu lembro dela. Lembro de outras vezes. Mas no dia, foi o que tu falou mesmo, eu broxei, tu broxou. O Elton mais fumava que metia.

"Elton" só apareceu essa vez nas gravações e não é um dos amigos denunciados no crime.

Ouça os diálogos

Você pode ouvir os diálogos nos episódios de UOL Esporte Histórias, que está disponível no Youtube de UOL Esporte, no Spotify, na Apple Podcasts e em todas as plataformas de podcast.

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Veja todos os episódios da série:

Posteriormente, horas após a publicação da reportagem e a repercussão no UOL Esporte News, o Instituto Neymar Jr solicitou a inclusão de um novo posicionamento na reportagem. Junto ao comunicado, o Instituto enviou duas certidões judiciais criminais negativas - uma do TJ de São Paulo e outra do TJ Federal - para comprovar que Fabio Galan não responde por nenhum processo do tipo no Brasil.

Veja, abaixo, o comunicado, na íntegra.

"O Instituto Projeto Neymar Jr é uma associação civil privada sem fins lucrativos, constituída há mais de 10 Anos. Atendemos mais de 10 (Dez mil ) famílias de forma direta e indireta, crianças, jovens e adolescentes.

Diante das informações publicadas pelo grupo de comunicação UOL e por seus colaboradores Sr. Arnaldo Tirone, Sra Milly Lacombe, Sr Walter Casagrande Jr e o Sr Diego Garcia, que atribuíram responsabilidades e fizeram juízo de valor sobre a postura do Instituto Projeto Neymar Jr e "condenaram" publicamente um dos seus colaboradores no contexto de que "não é necessário julgamento da Justiça para nenhuma pessoa, a pessoa é culpada e pronto...", venho a público prestar os seguintes esclarecimentos:

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Inicialmente fomos surpreendidos com a associação do Instituto Projeto Neymar Jr, inclusive atribuindo responsabilidades, em notícia veiculada na mídia afirmando que o sr. Fábio Cassis Galan figura como um dos suspeitos de participação nos eventos e fatos do processo envolvendo o atleta Robinho;
- O Instituto Projetos Neymar Jr, por seu Departamento de Recursos Humanos, atualizou todas as certidões do seu colaborador e confirmou que não existe nenhum processo criminal em trâmite no Brasil envolvendo o seu nome, como se extrai das inclusas certidões. Informações, aliás públicas;
- O Instituto Projeto Neymar Jr., numa demostração que a afirmação do Grupo UOL de que o INJr "não tem apreço pelas mulheres", é presidido desde a sua constituição por uma MULHER, Sra. Nadine Gonçalves, que há mais de uma década dedica o seu tempo e esforço para cuidar sobretudo das atuais 1.062 MENINAS que são beneficiadas pelo projeto;
- O Departamento de Recursos Humanos do Instituto Projeto Neymar Jr. é formado exclusivamente por MULHERES;
- Do quadro de colaboradores, 87 são MULHERES, 67 são homens, todos com emprego formal, registro em carteira de trabalho e todos os benefícios legais;
- Em mais de uma década de atividade NUNCA, absolutamente, NUNCA, tivemos um caso de abuso contra as crianças, sobretudo as MENINAS, que nos enchem de orgulho;
- As profissionais de Assistência Social e Psicologia do nosso Instituto são MULHERES, todas dedicando seu trabalho na preservação dos interesses e direitos dos vulneráveis, sobretudo as nossas MENINAS beneficiadas pelo nosso projeto;
- Todas as MULHERES que dedicam o seu tempo às mais de 2000 crianças do nosso Projeto, JAMAIS tolerariam que o Instituto Projeto Neymar Jr. fosse conivente, ou inerte, frente a qualquer violência contra as MENINAS do nosso projeto;
- As nossas portas estão abertas para o veículo de comunicação UOL conhecer de perto o nosso Projeto. Por outro lado, em não havendo provas das ilações veiculadas, sobretudo pelas certidões apresentadas, solicitamos que o veículo se retrate no prazo de 24 horas acerca das injustas acusações perpetradas por seus colaboradores contra o Instituto Projeto Neymar Jr, sob pena de serem adotas as medidas legais cabíveis.
Eu, Altamiro Lopes Bezerra, piauiense, economista, especialista em finanças, Mestre em Direito Esportivo Internacional, que teve a mãe deixada pelo marido comigo em seu ventre, casado com a Dra Vanessa Garrido de Almeida Campos, minha ESPOSA, COMPANHEIRA, Mestre em Direito Esportivo Internacional e Administradora de Empresas lamento que um veículo de Comunicação como o Grupo UOL e seus colaboradores não prezem pela liberdade e presunção de inocência. São direitos e garantias constitucionais invioláveis. É inadmissível a condenação pela imprensa. O Grupo UOL e seus colaboradores não deveriam condenar as pessoas "no grito". Caso tenham provas dos fatos noticiados, do processamento de qualquer um dos nossos colaboradores, da condenação de um deles, nossos canais de comunicação estão inteiramente à disposição. Uma vez comprovados não hesitaremos em adotar todas as medidas legais e reputacionais adequadas.


Por fim, fica aqui o meu registro pessoal de tristeza, pela forma como a imprensa tenta denegrir a imagem de uma Entidade que se dedica com afinco à defesa dos interesses do vulnerável.

Pronunciamento Instituto Projeto Neymar Jr".

Imagem
Imagem: Reprodução
Imagem
Imagem: Reprodução

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Ao contrário do publicado, Neymar não vestiu a camisa 10 do Santos, mas sim a 11. A informação foi corrigida.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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