Adesanya: campeão do UFC que une dança, taekwondo e muay thai
A disputa de cinturão do peso médio do UFC 253, entre o brasileiro Paulo Borrachinha e o nigeriano Israel Adesanya teve muito marketing e pouca luta. O nigeriano não deu a mínima para as provações de Borrachinha e atropelou o brasileiro no segundo round.
Confesso que fiquei desapontado. Fiquei a pensar se o brasileiro estava lesionado ou simplesmente não estava apto a enfrentar um cara que não é nenhum novato. Para esclarecer, ou melhor, escurecer essa dúvida, fui em busca da origem desse lutador. E o que descobri foi algo fabuloso.
Israel Mobolaji Temitavo Odunayo Oluwafemi Owolabi Adesanya tem 31 anos e nasceu em Lagos, capital da Nigéria, o país mais populoso do continente africano. A Nigéria é o país com a maior população negra do mundo, com 206 milhões de habitantes —o Brasil é o segundo em população negra, com 54% de negros em seus 211 milhões de habitantes.
Israel nasceu em uma família de classe média alta, filho de mãe enfermeira e pai contador. É o mais velho de cinco irmãos. Em entrevistas, Adesanya conta que teve uma vida próspera, com opções de escolha.
Ele tem origens iorubás. É o mesmo grupo que foi escravizado e trazido ao Brasil ou levado a Cuba no período da colonização. Muitos deles eram guerreiros do império do Benin, antiga capital da Nigéria, e vieram acorrentados para trabalhar nas plantações de café e cana de açúcar —principalmente na Bahia, no Rio de janeiro, em Minas gerais e em Pernambuco. Nesses estados, a cultura e as religiões de matrizes africanas são mais difundidas e a língua iorubá ainda é falada.
Memórias transatlânticas à parte, Israel Adesanya iniciou sua experiência nas artes marciais aos 10 anos de idade na minha modalidade, o Taekwondo. Eu sabia que ele tinha um pé na origem coreana. Seus chutes são rápidos, precisos e tem muita qualidade técnica. Esse primeiro contato foi rápido, já que, após uma fratura no braço em uma aula, seus pais o proibiram de treinar. Ele só voltou a ter contato com artes marciais aos 12 anos, na escola particular chamada Ogum -que, nas religiões de matrizes africana, é o nome de um orixá poderoso, conhecido por abrir caminhos e seus filhos de axé trazem muita disciplina e prosperidade.
Nessa escola, ele também se aproxima da dança e percebe que existe uma conexão. Seu corpo longilíneo se adaptou bem ao ritmo do afropop, que mistura gêneros do rap americano e dos ritmos africanos —um símbolo desse new style africano é a cantora nigeriana Yemi Alade.
Nesse momento, sua família, em busca de uma vida melhor, se muda para Gana, pais do golfo da Guiné na África ocidental. O período em Gana foi curto, apenas dez meses, e a busca por uma melhor educação para os filhos levou a família para a Nova Zelândia.
Na Oceania, Israel passou a sofrer bullying na escola. A situação era tão tensa que ele diz que sentia-se como um refugiado. Dá para imaginar o sentimento: Israel era o único garoto negro de origem africana em uma escola branca na nova Zelândia.
O racismo foi tão forte que o lutador tatuou no peito, anos depois, as palavras "Broken Native". O significado popular da expressão é alguém que precisou sair de seu pais de origem em busca de algo maior. Na sequência da tatuagem está o mapa da África, para que ninguém, nem ele mesmo, esquecesse da verdadeira origem.
Aos 18 anos, depois de assistir ao filme tailandês Onbak, um clássico do muay thai, Israel decide aprender kickboxing. É o início da sua trajetória de sucesso. Muitas histórias de lutadores que alcançaram o sucesso passaram por filmes e desenhos de luta. Apaixonado por anime, seu apelido é Stylebender. É uma adaptação do desenho japonês avatar, que tem um personagem que consegue controlar o ar. Em inglês, a expressão é Airbender, ou quem sobre o ar. Stylebender, então, seria a pessoa que domina os estilos e os dobra (ou manipula) ao seu comando.
No kickboxing, Israel cresceu como lutador e na estatura —chegou a 1,93m de altura, com 2,03 de envergadura. Fez 32 lutas, venceu as 32 e decidiu ir para China para lutar na liga de MMA asiática. Seu grande ídolo na época era Anderson Silva, mais uma coincidência entre Brasil e Nigéria. Anderson também começou no taekwondo e migrou para o muay thai até se tornar o maior lutador de todos os tempos.
Com 75 lutas no cartel, dois títulos mundiais no kickboxing, sua chegada ao UFC era uma questão de tempo. De 2012 a 2016, Israel alternou lutas no MMA, no boxe e no kickboxing. Somente em 2018, ao receber o convite (e o contrato) do UFC, ele decidiu concentrar-se no MMA.
Desde então, foram 20 lutas e 20 vitorias, a última contra Borrachinha.
Com danças, chutes e socos potentes, Adesanya vem conquistando o público e o presidente do UFC Dana White. E, se continuar no mesmo ritmo, será como Jon Jones e Anderson Silva, tornando-se uma lenda do UFC.
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