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Diogo Silva

Qual o papel de atletas na política e quais são os desafios?

Bolsonaro posa ao lado de Marcelinho Carioca com a camisa do Corinthians - Reprodução/Facebook
Bolsonaro posa ao lado de Marcelinho Carioca com a camisa do Corinthians Imagem: Reprodução/Facebook

07/10/2020 15h28

Em época eleitoral, como o que estamos agora, é comum vermos atletas e ex-atletas como candidatos a cargos eletivos. Neste ano não é diferente, e exemplos não faltam.

Leonardo Santos, do taekwondo, bronze nos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro e campeão mundial militar, tenta uma vaga a vereador em Aparecida de Goiânia, pelo PL. Diego Hipólito, da ginástica, medalha de prata na Olimpíada do Rio em 2016, está concorrendo a vereador em São Paulo, pelo PSB. Kelly Müller, do basquete, pivô do Brasil na conquista do bronze nos Jogos Olímpicos de Sidney em 2000, também tenta uma vaga na Câmara paulistana pelo PTB. Ainda tem Marcelinho Carioca, ex-ídolo do Corinthians, que troca de partido a todo instante e que já tentou uma aliança com Bolsonaro e o PLS, e agora irá disputar a uma cadeira de vereador pelo Podemos em São Paulo. Maurren Maggi, campeã olímpica nos jogos de Pequim em 2008 no atletismo, tentou em 2018 uma vaga no Senado, mas não foi eleita, e agora tenta uma vaga como vereadora em São Paulo, pelo Democratas.

Ainda tem os ex-atletas candidatos a prefeitos, como Luiz Lima, recordista sul-americano da natação no mar, que foi deputado federal e braço direito de Jair Bolsonaro no esporte, indicado pelo presidente a concorrer à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSL. João Derli, bicampeão mundial de judô, que foi deputado federal, agora concorre a prefeitura de Porto Alegre.

Os atletas têm o direito de exercer seu papel democrático nas urnas, mas muitos acabam sendo usados por partidos para, com sua fama, atrair atenção dos eleitores e puxar votos para outros candidatos que você não votaria, no chamado efeito Tiririca.

Esporte e política sempre tiveram ligação estreita. E não só com ex-atletas concorrendo a cargos eletivos. A imagem do atleta foi utilizada inúmeras vezes pelo mundo para pacificar guerras ou unir povos. Em 1969, por exemplo, o Santos, de Pelé, conseguiu parar momentaneamente uma guerra no Nigéria ao realizar amistosos em Benin City. Anos depois, em 2004, a seleção brasileira, que ainda tinha Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo Fenômeno, fez parar o conflito armado no Haití, na partida que ficou conhecida como Jogo da Paz.

Na África do Sul aconteceu um dos casos mais emblemáticos. Em 1995, um ano depois de ser eleito, o então presidente Nelson Mandela percebeu poderia unir seu povo - brancos e negros, através do esporte. O país estava saindo de um processo de apartheid feroz, e Mandela convenceu negros a torcerem pela seleção do país na Copa do Mundo de Rugby de 1995. A África do Sul vence o mundial e inicia uma aproximação entre negros e brancos em seu país.

Atletas também foram usados com propaganda de governo. Países que sediaram uma edição olímpica, como Alemanha, Rússia, China, Estados Unidos e até mesmo o Brasil, colocaram em seu portfólio os atletas ao lado do poder econômico e bélico, ostentando a grandiosidade, fazendo uma analogia entre o país e o esporte, sendo o sucesso de um representando o êxito do outro.

Mas o tempo acabou esquecendo de um grande detalhe: o atleta é um ser pensante, livre em suas opiniões e que, muitas vezes, pelo contesto social no qual ele vive, a sua afronta ao sistema será pelo caminho do esporte. Recentemente a jogadora de vôlei de praia Carol Soberg se manifestou em uma entrevista ao vivo com um "Fora, Bolsonaro", e vem sendo retalhada pelo seu ato.

Ainda há casos de atletas de sucesso que não deixaram um legado importante na política. Zico, ídolo do Flamengo, foi secretário de Esporte entre 1990 e 1991, durante o governo Collor; Pelé, em 1995, foi nomeado Ministro do Esporte pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso; Oscar Schmidt, ídolo do basquete, foi secretário de Esporte em São Paulo, entre 1998 e 1999; e o ex-judoca Aurélio Miguel, que foi vereador na cidade de São Paulo por 12 anos.

A importância deles no esporte acabou não dando frutos no campo político. Isso porque, os saberes para legislar vão muito além do sucesso em outras áreas. É necessário entender que nesse jogo tem jogadores muito mais experientes e que você é um novato, tentando entender que mundo louco é esse.

Por outro lado, tivemos destaques como João do Pulo, recordista mundial do salto triplo, medalhista olímpico e tetracampeão panamericano no triplo e no salto em distância, que foi eleito duas vezes deputado estadual por São Paulo; a jogadora Leila, do vôlei, que é senadora, e o já citado João Derli. Esses atletas conseguiram aprovar leis importantes e continuam ajudando na construção de uma sociedade melhor.

Que o esporte continue sendo um braço democrático no Brasil, mas fiquem de olho porque por trás das medalhas também escondem outros desejos pouco democráticos.