O direito a voto e a nova comissão de atletas de Taekwondo
Neste dia 14 de outubro, às 8h, inicia-se o processo para a escolha da primeira comissão de atletas do Taekwondo. As eleições serão online e distribuídas pelas regiões Sul, Sudeste, Centro Oeste, Norte e Nordeste, sendo três atletas por região, contabilizando 15 eleitos.
Para participar das eleições, os atletas se inscreveram no site da Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD) em setembro, dando início ao ato mais democrático dessa organização desde sua fundação.
Dentro os pré-requisitos para atletas participarem da comissão estão: ser maior de 16 anos, faixa preta, filiado a CBTKD, não estar em processo jurídico desportivo como suspenção ou doping, ter sido atleta da seleção brasileira adulta ou júnior nos últimos 10 anos ou conquistado uma medalha internacional no mesmo período.
Dessa forma, vinte atletas foram selecionados para disputar as vagas em suas devidas regiões.
Entre os inscritos os que mais se destacam são Icaro Miguel, Milena Titoneli e Edival Pontes (Netinho) que estão classificados para os Jogos Olímpicos de Tóquio, e Talisca Reis, medalha de prata nos Jogos Panamericanos de 2019.
Desde 1990, quando se tornou confederação, o taekwondo tem, em sua governança, um colégio eleitoral formado somente homens. Para romper esse ciclo e estimular a participação feminina em cargos administrativos e eletivos, a modalidade foi a primeira a adotar a cota de 30% para a eleição de mulheres.
Outra inovação foi a democratização do colégio eleitoral, dando oportunidades para todas as regiões brasileiras. Entre os 27 Estados mais o Distrito Federal, o taekwondo tem representatividade, entre federações, alunos e atletas, em 25 delas.
Eu particularmente tenho muito a comemorar ao longo desse processo democrático. Fui um dos primeiros atletas a ocupar uma cadeira na comissão da modalidade em 2017 e fui o primeiro a participar de uma assembleia geral com direito a voto.
Eu fiz parte da geração mais vitoriosa do taekwondo brasileiro, mas nosso grupo não teve direito a voto, não podíamos escolher nosso presidente e nem participar das decisões que mudavam os rumos de nossas carreiras.
Poder compartilhar esse compromisso com um colegiado de atletas escolhidos pelos próprios colegas é uma grande vitória.
O caminho para esse processo democrático, no entanto, foi longo e só se tornou possível graças a organização Atletas pelo Brasil, que tem em sua liderança Ana Moser, do vôlei, e Raí, do futebol, ambos ex-atletas.
Sem fins lucrativos, a organização reúne atletas e ex-atletas de diferentes modalidades esportivas e luta por melhorias e avanços sociais.
Em uma grande articulação política no Congresso Nacional, o grupo conseguiu, em 2016 - por conta da visibilidade olímpica dos jogos do Rio-, uma atualização da Lei Pelé. As mudanças romperam com ciclo de eleições infinitas de presidentes de confederações e Comitê Olímpico, permitindo apenas uma reeleição, e garantiu o direito ao voto e representatividade de atletas nas suas respectivas comissões.
A atualização foi a vitória da democracia esportiva, construindo um efeito em cascata em todas as confederações e no comitê olímpico brasileiro.
No início, não foi uma batalha nada amistosa. Muitos presidentes de federações e confederações, tentando evitar a participação de atletas, criaram empecilhos, diminuíram o poder de voto do atleta, criaram confusões jurídicas e jogaram duro.
Porém a lei é bem específica em relação a isso. Confederações e até mesmo o COB poderão deixar de receber financiamento público caso não assegurem o direito do atleta.
Entendendo que praticamente todas as confederações dependem de verba pública (tirando poucos casos de modalidades que têm patrocínio e são autossustentáveis), o restante, mesmo não querendo, foi pressionada a modificar seus estatutos e atualizar a gestão dentro das novas regras.
O esporte continua lutando por democracia. Os atletas perceberam que estão em uma nova era, na qual sua voz precisa ser respeitada, e que o voto pode mudar o direcionamento de tudo, até da sua própria vida.
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