Faltou senso na escolha do adversário para última luta de Anderson Silva
O lutador mais versátil que o MMA brasileiro já teve e o segundo atleta com mais vitória no UFC - com 17 seguidas- , um dos maiores nocauteadores do MMA, com 14 anos de octógono e 45 anos de idade, o ex-campeão dos pesos médios, o brasileiro Anderson Spider Silva encerrou carreira (ou pelo menos é o que deveria acontecer).
O lutador jamaicano Uriah Hall foi o escolhido para fazer o último confronto de Anderson Silva no UFC Fight Night em Las Vegas, no último sábado (31).
Eu não sei de quem foi a ideia de escolher Hall para esse último confronto. Só sei que essa pessoa não teve nenhum bom senso. Para encerrar a carreira de um lutador veterano, deveria ter-se escolhido um adversário menos potente.
Hall não seria o melhor desafiante para esse momento. Apelidado de "Homem Ambulância", por ter um alto poder de nocaute e levar seus adversários ao hospital, Hall fez o que todos esperavam que ele fizesse, nocauteou Anderson no quarto round.
No fim do terceiro round Anderson foi salvo pelo gongo, mas no inicio do quarto round, com um cruzado potente de Hall, foi levado à lona.
Fortemente emocionado, o jamaicano pediu desculpas a Anderson pelo nocaute e disse ao brasileiro que ele foi sua grande inspiração.
Anderson foi muito valente, enfrentou o jamaicano quase 10 anos mais novo, deu seu máximo e deixou no octógono tudo que podia.
Dizer adeus para a profissão que ama é extremamente doloroso. Fica um vazio na vida, tudo fica meio sem sentido. Quando eu encerrei minha carreira depois de 20 anos sendo um lutador de taekwondo, passei dois anos meio perdido, tentando encontrar algo que me desse o mesmo prazer. É uma fase muito delicada, e a família e os amigos, nessa hora, são essenciais.
Com um cartel de 34 vitorias e 11 derrotas, o "Spider" foi dono das cenas mais fantástica do MMA moderno. Anderson foi o responsável por muitos brasileiros e estrangeiros se apaixonarem pelas artes mistas. E eu me coloco entre esses apaixonados.
Seus chutes foram o que mais chamaram minha atenção, e saber que o taekwondo foi base de seus treinamentos para alcançar tais feitos me deixou ainda mais feliz.
Anderson teve uma carreira completa, digna de série. Conheceu o sucesso, saboreou a derrota. Fez fama, dinheiro, foi nocauteador, mas também nocauteado. Fraturou a perna em uma das cenas mais fortes do MMA mundial. Caiu no exame anti doping, tentou lutar taekwondo nos jogos olímpicos de 2016. Deu a volta por cima. Tez de tudo, até filme.
Todo atleta deseja parar no auge, encerrar a carreira de uma forma brilhante, tal sonho que muitos tentaram e poucos conseguiram.
A cabeça de um atleta tem uma memória que possibilita, por meio de estímulos neurais, executar qualquer movimento. Foi criada nesse corpo treinado uma memória que sempre tentará reproduzir o melhor feito já vivido. A questão é que, com o passar do tempo, o corpo já não consegue responder com velocidade, força e potência a esses estímulos que o cérebro dá, diminuindo automaticamente sua capacidade de resposta.
Mas a idade mais avançada tem sido cada vez menos impedimento para continuar no auge. Atualmente, a carreira do atleta está mais longa. Como exemplos de vitalidade temos os casos de Lebron James sendo MVP (Most Valuable Player, jogador mais valioso da temporada) da NBA, aos 35 anos; Fabiola Molina, da natação, que disputou os Jogos Olímpicos de Londres com 37 anos; o tenista Roger Federer, que aos 39 anos, atua em alta performance; o nadador Nicolas Santos, que conquistou o bronze no mundial aos 39 anos; o jogador de futebol Zé Roberto, que jogou no Palmeiras até os 40 anos; o boxeador Floyd Mayweanther, que encerrou sua carreira invicto aos 40 anos; e o cubano Yorel Romero, do UFC, que disputou o cinturão dos pesos médio aos 42 anos.
Na cabeça de um atleta vencedor tudo é possível, continuar tentando parece tão natural que parar, muitas vezes, não é uma opção. Lutar é para os fortes, e saber a hora de parar é para os sábios.
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