Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Charles do Bronx: da favela para o topo do UFC
Diretamente da favela da prainha no Guarujá, surge o mais novo campeão dos pesos leves do UFC, Charles do Bronx. Em uma luta típica de filmes de Hollywood, Charles enfrentou o norte-americano Michael Chandler, na disputa pelo cinturão da categoria até 70kg, em um confronto emocionante.
Depois de tomar um sufoco no primeiro round e quase ser nocauteado, Do Bronx demonstrou frieza e inteligência ao segurar a luta como pode até o soar o término do tempo. Para o segundo round, Do Bronx voltou com uma outra postura e, em menos de 20 segundos, acertou um lindo cruzado de esquerda, fez desabar seu desafiante e realizou o sonho da conquista do cinturão.
E assim como fez o camaronês Francis Ngannou, campeão dos pesos pesados, que voltou a Camarões para mostrar seu título ao povo africano, Charles retornou para sua cidade natal para celebrar com os seus.
Com cabelo descolorido e ao som de funk, Charles desfilou em carro de bombeiro como herói no Guarujá. Viu também seu rosto reproduzido em um mural de 100 metros, assinado pelo artista plástico Wilis Cavalcanti, como o novo cartão postal da cidade.
Antes de ir para a cidade do litoral paulista, do Bronx foi recebido pela torcida do Corinthians, seu time do coração, ao sair do aeroporto em São Paulo.
Se tem uma coisa que é comum entre os brasileiros que conquistaram um cinturão no UFC é a origem pobre. Viver de luta não é uma opção para quem tem estabilidade financeira, escola particular e casa confortável.
Esportes de luta podem até ter conquistado ascensão nos últimos anos e virado moda nas academias, mas não deixou de ser um universo muito duro, no qual para se destacar é necessário ter a natureza de um sobrevivente.
Os melhores lutadores brasileiros foram criados em condições precárias de moradia, descaso social e violência. Se o Brasil tivesse interesse e capacidade de gerir programas esportivos para revelar jovens talentos para o mundo das lutas, nós seriamos imbatíveis.
Espera de 11 anos
A categoria dos leves é uma das mais difíceis no UFC. É aquele peso que une velocidade, força e grandes estrelas, como o russo Khabib Nurmagomedov, o melhor peso por peso e único invicto dos leves. Também tem entre seus exemplares o irlandês Conor Mcgregor, que por causa do seu jeito falastrão e vitorias arrasadoras, se tornou o lutador mais caro da franquia, e Dustin Poirier, o número 1 do ranking e que possivelmente será o próximo desafiante de Charles pelo cinturão.
Charles está há 11 anos no UFC e, entre vitorias e derrotas, ficou no grupo que não sobe para realizar grandes lutas, mas também não desce ao ponto de perder contrato com a organização.
Do Bronx viu a vida lhe dando uma oportunidade de ser campeão depois de uma sequência de oito vitórias consecutivas e o título de maior finalizador da história do UFC. Além disso contou com a sorte, em casos como a desistência de Khabib, que abriu mão do cinturão após a morte do pai por covid-19 em 2020, e a opção do número 1 do ranking, Dustin Poirer, escolher fazer a trilogia contra Conor Mcgregor ao invés de disputar o cinturão.
No podcast Central das Lutas, eu perguntei a Charles, que acabara de descobrir que seria o próximo brasileiro a disputar o título dos leves, se ele abriria mão do confronto pelo cinturão para enfrentar Conor Mcgregor na luta de US$ 1 milhão. Ele foi contundente ao responder: "Eu quero o cinturão".
E semanas depois, o sonho foi realizado.
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