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Diogo Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O levante em forma de manifesto

Marquinhos, zagueiro da seleção brasileira que foi capitão contra o Paraguai - Lucas Figueiredo/CBF
Marquinhos, zagueiro da seleção brasileira que foi capitão contra o Paraguai Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

09/06/2021 09h53

O manifesto assinado pelos 25 jogadores da seleção brasileira foi disponibilizado oito minutos após a vitória sobre o Paraguai.

No manifesto, os jogadores externaram que são contra a Copa América, mas que nunca se negariam a vestir a camisa da seleção.

Na coletiva de imprensa, o capitão Marquinhos se esquivou de dar respostas objetivas sobre o manifesto e perdeu uma grande oportunidade de colocar em prática sua liderança fora do campo. Naquele momento era o que toda comunidade esportiva mais desejava ver e ouvir.

Durante as últimas semanas, os jogadores da seleção brasileira de futebol passaram a dialogar com outras lideranças de times que vão jogar a Copa América no no Brasil. Chegou a falar-se em boicote.

Depois da coletiva de imprensa, não sabemos se essa notícia é falsa ou se o capitão do time não desejou revelar os bastidores.

Pensando bem, se for verdade seria uma notícia do futuro.

Vocês poderiam imaginar uma situação como essa? Um boicote organizado por jogares de futebol, com a seleção brasileira sendo a protagonista, com articulação interna e externa com apoio do técnico Tite e comissão técnica em um movimento organizado e audacioso?

Tendo em mente a imagem que o jogador de seleção nos passa, seria um tanto ficção imaginar essa hipótese.

Já que sonhar não custa nada, uma verdade seja dita: o desejo pela mudança alcançou o topo da cadeia esportiva.

O boicote não vai acontecer. Para o feito ser realizado, era necessário que as outras seleções também aderissem. Mas aconteceu uma baixa.

A Mastercard retirou seu patrocínio e não vai mais expor sua marca durante o evento. Se outra marca repentinamente também se retirar, podemos ver um boicote privado, de onde deveriam ter saído as primeiras iniciativas.

Há tempos jogadores de futebol são cobrados por posições, e enfim esse dia chegou. Porém, se tratando de futebol, os jogadores sempre serão questionados.

Quando os jogadores ficaram em silêncio com as manifestações contra o racismo, foram criticados. Nesse momento em que se posicionaram contra a Copa América no Brasil, também estão sendo criticados.

A questão mais difícil é lidar com a expectativa do público, e não com a realidade.

Precisamos aplaudir a rebeldia. A rebeldia em prol da mudança é um sinal muito positivo.

O importante nessa história é que os jogadores estão entendendo mesmo que tardiamente que eles podem brilhar dentro e fora de campo.

O artigo 18A da lei Pelé foi incluído em 2013 pela organização sem fins lucrativos Atletas pelo Brasil junto ao congresso nacional.

Esse artigo da lei, entre outras vertentes, veio dizer para os gestores e presidentes que os atletas precisam participar das decisões e não só receberem ordens.

É necessário melhorar o diálogo entre as partes, e foi exatamente nessa parte que o copo transbordou na seleção.

A opinião dos jogadores foi totalmente ignorada pela presidência gerida por Rogério Caboclo, que foi afastado por assédio sexual. Caboclo, que em uma decisão unilateral em um golpe de oportunismo, manobrou junto com o presidente Bolsonaro o Brasil como sede da Copa América, para salvar a imagem de ambos que está para lá de suja.