Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Ketleyn Quadros como porta-bandeira mostra a força das lutas e das mulheres
De 1920 a 2020, o Brasil esteve presente em todas as edições olímpicas. É um século de representatividade esportiva. Porém essa é a primeira edição que teremos uma mulher negra como porta-bandeira.
A escolhida foi a judoca Ketleyn Quadros, que já tinha sido um marco em 2008, na Olimpíada de Pequim, China, por ter sido a primeira brasileira a conquistar uma medalha olímpica (bronze) em esportes individuais. Depois de 13 anos, Ketleyn retorna aos jogos e recebe a honra de ser a porta-bandeira brasileira, mostrando a força dos esportes de lutas e das mulheres.
Ketleyn que é natural de Ceilândia, uma grande periferia de Brasília, iniciou no judô em projetos sociais. Com uma carreira brilhante, é adorada por suas companheiras de treino e faz parte de uma geração extremamente vitoriosa do judô feminino.
Carregar a bandeira do país na abertura de uma olimpíada é uma escolha feita a dedo. Os eleitos para a missão precisam ter uma história de destaque para receber esse presente.
A primeira mulher a carregar uma bandeira do Brasil durante um desfile olímpico foi Sandra Pires, campeã olímpica do vôlei de praia, durante a edição de Sidney, Austrália, no ano 2000. Foi uma longa jornada até as mulheres conquistarem esse direito.
Até hoje, apenas Sandra e Yane Marques, do pentatlo moderno, tiveram essa glória. Agora, Ketleyn Quadros entra para esse seleto grupo.
O desfile é um momento mágico, no qual são anunciadas para o mundo as delegações dos países participantes da competição, seus uniformes, suas cores e seus representantes.
Nós, atletas, temos um respeito muito grande por esse momento.
Carregar a bandeira é, fazendo um paralelo com o carnaval, levar o brasão das escolas de samba, como um sinônimo do símbolo máximo dos barracões e das comunidades. A figura do porta-bandeira tem suas origens no militarismo e poderia simbolizar a paz em tempos de guerra.
O desfile é quando os familiares e amigos dos atletas procuram no meio daquele mar de gente uniformizada seu símbolo de orgulho e apontam para televisão aos gritos dizendo: "Aquela é minha filha!".
É nesse momento que os pais choram, que a saudade aperta e o sorriso escorrega pelo rosto por entender o tão longe aquela pessoa conseguiu chegar.
O desfile também tem seu lado negativo, é extremamente cansativo. E esse é um dos motivos que fazem alguns atletas desistirem. Alguns competidores, principalmente os lutadores, podem estar fazendo o corte de peso e não aguentam a maratona. Outros atletas, sobretudo os de modalidades individuais, vão competir no dia seguinte e preferem se poupar.
O processo do desfile envolve horas de espera em ambientes muitas vezes desconfortáveis. A fome é acalmada, com kit lanche, insuficiente para alguns amigos que mandam aquele baião de dois no almoço.
A roupa é especial para a ocasião. e o que pega muitas vezes é o sapato. Calçado novo é sempre um problema. Às vezes, o par chega no tamanho errado e fica grande ou apertado no pé. Então pensem em horas de espera com o sapato dessa forma naquele pé de atleta, que não é bem o padrão da sociedade.
Já foram porta-bandeira do Brasil ícones como Ademar Ferreira da Silva, o primeiro bicampeão olímpico no salto triplo e criador da volta olímpica, em 1960, em Roma; João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, dono de dois bronzes olímpicos no salto triplo e tetracampeão dos Jogos Panamericanos, carregou a bandeira da delegação brasileira, em Montreal-1976, Canada, e em Moscou—1980, na Rússia. Em 2016 nos jogos do Brasil, Yane Marques foi a felizarda. Ela foi a primeira atleta do Pentatlo Moderno a conquistar uma medalha olímpica em Londres 2012.
A equiparação de gênero vem sendo um marco na nova gestão do Comitê Olímpico. Mas ainda está é novidade a questão de gênero e raça, dando as mesmas oportunidades para homens e mulheres negras.
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