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Diogo Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Diogo: crise no vôlei de praia seria evitada com Lei Geral do Esporte

Atletas do vôlei de praia diante da porta fechada da CBV - Divulgação
Atletas do vôlei de praia diante da porta fechada da CBV Imagem: Divulgação

10/02/2022 22h39

A crise instalada no vôlei de praia com o embate da comissão dos atletas e a organização da Confederação Brasileira de Vôlei teria uma solução rápida se o Brasil tivesse uma legislação esportiva eficiente.

O vôlei tem um histórico vexatório de presidentes que se perpetuaram no poder e as últimas eleições demonstraram um grande descontentamento dos atletas que consideram Walter Pitombo, o Toroca, mais do mesmo.

A Lei Geral do Esporte (PL 68/2017), que está tramitando no Senado desde 2017, traz 270 artigos para ser um novo substitutivo para a Lei Pelé.

Em 2021, a proposta de lei que foi encomendada por Renan Calheiros quando era líder do Senado, voltou a tramitar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mas foi empurrada para esse ano e pode ser votada ainda esse mês.

Tudo depende do relator Roberto Rocha (PSDB-MA) e demais senadores, que já enviaram 60 emendas até o momento, provocando uma lentidão no processo. A senadora Leila Barros (Cidadania-DF), ex-atleta do vôlei, é uma das principais articuladoras para que o processo avance.

A Lei Geral compreende o atleta profissional como aquele que se dedica integralmente ao esporte e tem sua fonte de renda oriunda de premiações e competições, sem a necessidade de vínculo de trabalho com a organização ou clubes, com direito a uma aposentadoria.

O embate sobre o novo regulamento do vôlei de praia ficou mais intenso quando a proposta da CBV foi a de aumentar a quantidade de atletas e etapas para promover uma maior renovação de atletas, mas diminuindo os valores da premiação.

A CBV pagava R$ 47 mil de premiação para os campeões das etapas do Circuito Nacional. A proposta de 2022 foi reduzir esse valor para R$ 40 mil, por conta da diminuição de receita que o vôlei teve após os maus resultados nos Jogos Olímpicos de Tóquio. A modalidade saiu do Japão sem nenhuma medalha.

O vôlei tem a maior receita de captação de verba pública via Loterias. Para esse ano, foi destinado R$ 8.446.848,82 e tem um orçamento de R$ 6 milhões só para pagar premiações. Parte desses recursos vem do patrocínio do Banco do Brasil.

Pensando que o vôlei de praia é o trabalho desses jogadores e jogadoras, e a base de seus salários está relacionada às premiações conquistadas durante as 10 etapas do circuito nacional e resultados internacionais, a redução das premiações impacta no bolso dos atletas e no seu planejamento futuro.

Já que os atletas são considerados não profissionais e não terão assistência social nem aposentadoria em sua transição de carreira, lutar por uma boa premiação é plausível. Em qualquer empresa que for cogitado trabalhar mais e ganhar menos haverá rebeliões internas.

A comissão de atletas do vôlei de praia tem as jogadoras Carol Solberg, Bárbara Seixas e Agatha Bednarczuk, que foi vice-campeã olímpica em 2016. O ex-jogador Carlão Arruda é o presidente.

Na última quinta-feira, o grupo foi até o Rio para tentar uma solução com a CBV, mas tiveram as portas fechadas e não foram atendidos.

Os representantes dos atletas não aceitaram as novas regras e reprovaram o orçamento da CBV durante a Assembleia Geral em dezembro, provocando um desgaste entre as partes.

Em uma pesquisa com os atletas que participariam da primeira etapa do circuito em Saquarema, no Rio de Janeiro, 92% dos atletas reprovaram o novo regulamento.

Do outro lado da moeda, a ex-atleta de vôlei de praia Adriana Behar, que tem no currículo duas pratas olímpicas e que está há um ano como CEO da CBV, está tentando encontrar uma solução para o problema.

Depois do resultado negativo em Tóquio mudanças eram necessárias. O que foi proposto pela organização foi um calendário e um ranking integrado com a intenção de trazer novos atletas e abrir mais oportunidades.

Segundo Adriana, o foco é proporcionar que atletas que não fazem parte da elite nacional tenham mais chances de concorrer a títulos nacionais, assim podendo se desenvolver a longo prazo para substituir os atletas mais veteranos.