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Diogo Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Diogo: Brasil e Jamaica são as únicas equipes de bobsled com atletas negros

Equipe brasileira de bobsled na Vila Olímpica dos Jogos de Inverno de Pequim - Alexandre Castello Branco/COB
Equipe brasileira de bobsled na Vila Olímpica dos Jogos de Inverno de Pequim Imagem: Alexandre Castello Branco/COB

16/02/2022 22h48

O Brasil e a Jamaica são as equipes de bobsled nos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim, a contar só com atletas negros.

A Jamaica retorna à competição depois de 34 anos, depois da improvável classificação para os Jogos de Calgary, no Canadá, em 1988. A história inspirou o filme "Jamaica Abaixo de Zero", de 1993, e também a formação da primeira equipe brasileira de bobsled.

Em Pequim, a delegação nacional tem em sua grande maioria atletas que migraram do atletismo, incluindo o reserva da equipe, o ex-atleta do salto triplo Jefferson Sabino, de 39 anos, finalista dos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007.

Sabino fez sua transição de carreira após os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. No final de 2020, quando abriram vagas para a formação da equipe de bobsled, o ex-saltador entrou no grupo de 11 pré-selecionados.

O ex-atleta Davidson Souza, mais conhecido como Boka SP, foi o reserva brasileiro nos Jogos de Sochi, na Rússia, em 2014. Hoje ele canta rap e compôs a música que é a trilha sonora da equipe, considerada o hino do bobsled do país.

Para a juventude negra brasileira, nascida e criada em um país tropical, praticar um esporte na neve ou no gelo não é uma opção. Somente famílias com um bom poder aquisitivo conseguem ir até Bariloche, na Argentina, ou em Valle Nevado, no Chile, que são os espaços para esquiar mais próximos do Brasil. Ao pensar no custo de um trenó, esqui ou qualquer aparato para descer na neve, o sonho ficaria mesmo nos filmes.

O impacto de ver um trenó com quatro homens negros brasileiros descendo a mais de 100 km é o mesmo de ver uma escola de samba de japoneses. A cultura do bobsled é suíça, e fica limitada apenas a países que, de fato, têm tradição na modalidade.

Entre as 18 nações divididas em 28 equipes, em um frio de 20 graus negativos, a delegação brasileira tenta fazer seu melhor resultado. No bobsled, somente os 20 melhores disputam a final.

Para Edson Bindilatti, de 42 anos, o mais experiente da equipe, almejar alcançar uma final, mesmo sabendo do distanciamento do Brasil perante os demais concorrentes, é um sonho que deseja realizar.

Para Pequim, os brasileiros conseguiram locar dois trenós, mas os modelos adquiridos não são tão bons como os dos europeus. São trenós de segunda mão, que não são tão modernos para disputar uma medalha.

Mesmo assim, entre os anos de 2002 e 2022, o bobsled brasileiro evoluiu muito. Os atletas passaram a adquirir mais conhecimento para manusear o trenó, afiar as lâminas, melhorar o condicionamento físico e aperfeiçoar as descidas que contam com 16 curvas.

O trenó brasileiro de quatro atletas estreia na próxima sexta à noite no Brasil (sábado de manhã na China). A equipe conta com o veterano Edson Bindilatti, que é o piloto, e os demais atletas são Edson Martins, Erick Vianna e Rafael Souza, tendo Jefferson Sabino como reserva.