Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Centralização de poder no COB faz soar alerta na comunidade olímpica
Durante toda semana, a comunidade olímpica ficou enlouquecida com a demissão de Jorge Bichara, diretor geral do Comitê Olímpico do Brasil (COB).
O impacto causado pela demissão de Bichara provocou uma grande onda no movimento olímpico. A comissão de atletas do COB, assim como outros atletas olímpicos como Isaquias Queiroz, campeão olímpico na canoagem; Rebeca Andrade, campeã olímpica da ginástica, e Bruno Fratus, medalha de bronze na natação em Tóquio, publicaram em suas redes sócias manifestos ou mensagem de apoio contra a tomada de decisão do presidente Paulo Wanderley.
Bichara estava no COB há 17 anos. Desde 2008, ocupava o cargo de gerente geral de performance esportiva, fazendo parte da gestão que levou o Brasil aos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016.
Em 2017, Bichara assumiu a pasta de diretor geral de esporte, planejando todas as ações esportivas como os Jogos Pan-Americanos de 2019 e os Jogos Olímpicos de Tóquio 2021.
Jorge era adorado por muitos atletas, mas nem todos. Quem já viveu suas interferências tem um outro olhar sobre a conduta já utilizada pelo ex-gestor do COB.
Bichara viveu sua maior parte como gestor no COB no período que o esporte olímpico vivia sem lei e regras de compliance, sem seguir o manual de boa conduta de boas práticas de governança exigidos hoje.
Traduzindo para o linguajar popular, isso significava na época que no tiroteio cada um carregava sua arma.
Nessa terra sem lei quem ocupava cargos tão importantes também se misturava na política. Indicações de diretores esportivos em Confederações e proteção a medalhistas olímpicos, principalmente, os amigos ou os mais chegados eram frequentes até 2016.
Hoje, em coletiva de imprensa do COB, foram anunciados os novos diretores de esporte que substituíram Jorge Bichara. Kenji Saito é o novo diretor de desenvolvimento esportivo e Ney Wilson, de alto rendimento.
Nesse momento, os judocas e ex-gestores do judô Kenji Saito, Rogerio Sampaio, diretor executivo, Paulo Wanderley, presidente, e Ney Wilson, que chegou às pressas depois da demissão repentina de Bichara, formam a cúpula de maior poder da organização.
Por um lado, temos a gestão mais vitoriosa do judô migrando para o COB, por outro, temos mais uma vez um modelo criado por Carlos Arthur Nuzman, ex-presidente do COB, que deixou o cargo em 2017, por denúncias de venda de voto e que teve pena de 30 anos decretada.
Paulo Wanderley era vice de Nuzman e assumiu o cargo em sua saída sendo reeleito em 2020, tendo como vice Marco La Porta.
A crise é gerada no momento que La porta passa a ter intenções de se candidatar para a presidência em 2024, tendo o apoio de Bichara.
O fato de Paulo Wanderley ter assumido a presidência na saída de Nuzman, já conta como um primeiro mandato. A sua reeleição faz dele inelegível segundo a lei Pelé no artigo 18 A, que proibe mais de uma recondução.
E se, de fato, a saída de Bichara for política, a crise será ainda maior e nos faz relembrar de Carlos Arthur Nuzman.
Nuzman aplicou no COB um modelo que foi usado também por Ricardo Teixeira na CBF, que foi criado por João Havelange, que faleceu aos 100 anos de idade em agosto de 2016. Havelange foi ex-atleta olímpico de natação e um dos maiores magnatas da Fifa.
O modelo aplicado por Nuzman foi colocar em cargos decisivos ex-companheiros de confederação, diminuindo toda possibilidade de conflito político, críticas e resistência a alguma tomada de decisão. Assim como intervir em confederações para enfraquecer seus opositores que poderiam concorrer a cargo de presidente do COB. O modelo funcionou tão bem que durou 22 anos.
Nos bastidores, o nome mais correto para substituir Bichara seria Sebastian Pereira, que tem o cargo de gerente de performance esportiva e faz um trabalho similar ao de Bichara, trabalhando nas categorias de base organizando os Jogos Olímpicos da Juventude, Sul-americanos e Pan-Americanos.
Mas na visão de alguns opositores, Sebastian seria muito ligado a Bichara e, por isso, seria descartado do cargo.
Centralizar o poder não é um bom sinal e o alerta no movimento olímpico foi acionado.
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