Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Eliana Alves Cruz: O Olimpo do covidário
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Fosse este um filme de ficção e não de terror, com milhões de mortos pelo mundo, o vírus da covid poderia ser representado como aquele vilão que encontra aliados onde pensava encontrar adversários. Os aliados poderosos que ajudam o vilão a ganhar força e dominar o mundo são nada menos que alguns dos maiores atletas do planeta.
A lista de competidores militantes da não vacinação é significa e conta com nomes entre os maiores das quadras, campos e águas. O caso mais badalado e recente foi o do tenista número um do mundo, o sérvio Novak Djokovic, que foi detido e, posteriormente, deportado pelas autoridades australianas antes do Aberto da Austrália. Ele pode ganhar em breve um companheiro de vexame em terras australianas: Kelly Slater.
O surfista norte americano de 49 anos e 11 vezes campeão mundial não revela seu status de vacinação, mas andou defendendo o tenista apelidado nas redes de "Djocovid". As autoridades australianas, preventivamente, já mandaram o recado: "Acho que fomos bem claros no caso Djokovic de que sem vacina, sem jogo", disse Greg Hunt, ministro australiano da saúde, à emissora australiana Channel 9, pois o país será sede dois eventos da Liga Mundial de Surf (World Surf League), em abril e maio, em Victoria.
Melhor seria se estes fossem casos isolados, mas a lista dos antivac no esporte só cresce e se entrecruza com outras tantas questões complexas como, por exemplo, o histórico tenebroso de experimentos científicos com a população negra norte-americana no século 20. A memória e os traumas provocados por episódios como o da cidade de Tuskegee, onde 400 homens negros sofreram até morte servindo de cobaias para uma pesquisa sofre sífilis, fazem com que teorias conspiratórias prosperem com alguma facilidade na comunidade e uma parcela de atletas desconfie de vacinas.
Isto afeta em cheio a liga de basquete NBA, em que, por exemplo, Kyrie Irving, jogador do Brooklyn Nets e vice-presidente do sindicato dos jogadores, relata teorias conspiratórias que apontam intenções sombrias na aplicação dos imunizantes. Como ele pensam Jonathan Isaac, do Orlando Magic, e Bradley Beal, astro do Washington Wizards. Explicam-se os temores, mas jamais justificam-se, em pleno século 21, depois de um esforço planetário de cientistas para se chegar a um imunizante que livrasse a humanidade da prisão e da morte viral. Profissionais tão bons em seus campos de pesquisa quanto alguns destes esportistas são em suas modalidades de disputa.
No Brasil, várias e vários, como o jogador de futebol Alexandre Pato, que também andou defendendo Djokovic, dizendo ser a vacina "picada experimental" e nomeando o coronavírus como "vírus chinês". Como se não bastasse a pitada negacionista, acrescenta-se a dose de xenofobia.
Poderíamos passar aqui horas relacionando nomes e, infelizmente, expondo seus argumentos nada baseados em concretudes, mas em fake news, em preconceitos e pouco amor ao conhecimento acumulado pela humanidade em milênios de combates a todo tipo de pandemias.
Muitos atletas que chegam ao nível de excelência parecem acreditar que estão imunes não apenas ao vírus da covid-19, mas a todo tipo de compromisso com a comunidade humana. A coroa de louros do esporte, uma vez posta em certas cabeças, parece dar a noção de que elas estão acima do bem e do mal, quando deveria ser o contrário, ou seja, quem alcança a admiração de tanta gente deveria ter tatuado no espírito o lema do herói Homem Aranha: "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades".
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