Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Eliana Alves Cruz: O dia em que topei com Vladmir Putin
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O ano era 2015 e acontecia um Mundial dos Esportes Aquáticos na cidade russa de Kazan, quando vi de perto, muito perto, um dos homens mais poderosos do planeta: Vladmir Vladmirovitch Putin, o senhor da guerra da era pandêmica do século 21.
Eu era a chefe de imprensa da Confederação de Esportes Aquáticos e parte do grupo de mídia da Federação Internacional de Natação - FINA. Não dá para esquecer.
Para os que acham que competição esportiva é apenas a disputa entre atletas na arena, uma notícia: em eventos planetários, esporte é o que acontece nos intervalos da geopolítica. A Rússia é a supercampeã de nado artístico. A modalidade está nos Jogos Olímpicos desde 1984 e nestas nove edições, apenas os três primeiros não foram vencidos pelas russas, muitas delas egressas das famosas escolas de balé do país.
As grandes ameaças à poderosa armada sincronizada saíram das mãos (e pernas) de Estados Unidos e Canadá há muito tempo. Quem luta para tirá-las do ponto mais alto do pódio agora são outras forças e o pódio das Olimpíadas de Tóquio, ano passado, é bem interessante: Rússia, China e Ucrânia.
Kazan foi mais que um trabalho. Foi uma aula de tensão. Em um dos assentos que eu ocupava no centro de imprensa, alguém desenhou uma suástica e me vi forçada a alertar a segurança, que no dia seguinte fez uma varredura no estádio. Ali vi a primeira atleta da Coreia do Norte — Kim Kuk-Hyang — ser campeã mundial de saltos ornamentais e, como responsável pela FINA da sala de entrevistas da piscina de saltos, acompanhei a pesada coletiva de imprensa de uma adolescente de 16 anos, pequena e tímida. O mundo querendo extrair dela informações que ela jamais poderia dar, mesmo que soubesse.
Há sete anos, Putin entrou na Arena Kazan cercado por sua pesada segurança para a cerimônia de abertura, quando as luzes já estavam apagadas. O estádio, que três anos depois sediou jogos da Copa do Mundo de Futebol, teve uma belíssima piscina olímpica temporária montada onde antes podia se ver o gramado.
Sinceramente não esperava que ele estivesse lá. No entanto, eu estava esquecida de que para alguns países esporte é questão de estado, faz parte da cultura e está totalmente entranhado no sistema de educação. Meu assento, junto aos colegas da Federação Internacional, permitia vê-lo bem.
O ápice do show foi quando Putin foi anunciado e levantou-se para declarar a competição aberta e, acima dele, num jogo de luzes, surgiu a técnica da equipe nacional de nado artístico, Tatiana Pokroviskaya, uma celebridade por lá e que andou por aqui, pois ela treinou a seleção brasileira no início dos anos 2000.
Depois, nos corredores, obviamente cercado pelo rigor da segurança, ainda "topamos" com Putin a uma distância possível de observar que ali caminhava alguém totalmente ciente do seu poder e disposto a não abrir mão dele. Para além do esporte, a presença imponente de Putin lembrava àquele povo da região do Tartaristão, que tem língua própria, identidade e uma história, que eles também são Rússia.
O Mundial de Kazan, para mim, foi estressante por uma infinidade de motivos, mas foi, principalmente, um aprendizado a mais sobre como território se confunde com a vida e, por causa dele, como o mundo se assemelha a um dedo... prestes a destravar o pino da bomba.
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