Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O BBB do esporte nacional
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Depois de dias, meses e anos treinando muito pesado, convivendo em concentrações, treinamentos especiais e em alojamentos de competições as mais diversas, que recompensa terá um atleta campeão mundial?
A edição deste ano do Big Brother Brasil conta com um atleta, velocista de atletismo Paulo André de Oliveira, e muito se falou sobre sua entrada no programa, pois o hoje famoso P.A não é qualquer atleta. Semifinalista olímpico nos Jogos de Tóquio 2020, ele foi campeão mundial, na também japonesa cidade de Yokohama; foi campeão pan-americano e mundial universitário, tudo apenas em 2019.
Estaria o Brasil prestes a perder um excelente atleta para ganhar mais uma celebridade de reality show? O fato é que Paulo foi longe no jogo que mobiliza milhões em torno de uma competição diferente daquelas a que ele está habituado. Valerá a pena?
Pressão psicológica, resistência e estratégia fazem parte das habilidades treinadas por ele. Apensar do sucesso recente nas pistas, sabemos, um atleta de alto rendimento não se faz em quatro anos. Cada medalha pendurada no pescoço deste atleta paulistano de Santo André, tem no verso uma vida inteira de dedicação... e também de instabilidade material.
A conta não fecha. No Brasil, por mais que um atleta do nível de Paulo André treine e vença, algo sempre faltará. Os valores que cercam o esporte olímpico estão distantes a quilômetros iguais aos da circunferência da Terra em relação ao futebol. Com todos os títulos que Paulo colecionou, o programa Bolsa Atleta lhe pagava R$ 1.850 mensais.
Para além das questões pragmáticas do pagamento dos boletos, dos serviços e dos cuidados que cercam um corpo que precisa funcionar como uma máquina, o dilema do atleta olímpico passa pela perspectiva de futuro. E se eu me machucar seriamente? E se piorar meus tempos? E se o título não vier? E se a medalha olímpica não acontecer? E se a medalha olímpica acontecer e rapidamente todo mundo esquecer...?
A dose de amor ao que faz precisa ser gigante para se manter firme a cada sinal eletrônico de largada. A nação que não apoia o esporte e o esportista, que não tem um programa de estado sólido para que a atividade esportiva seja uma opção de lazer e trabalho para milhões de crianças, jovens e profissionais das áreas correlatas, é a mesma nação que condena a participação de um atleta no programa midiático.
Lembram dos R$ 1850,00? Foram cortados no último dia 23. Talvez até pudéssemos entender se o pagamento fosse relativo ao período atual, mas ele é uma remuneração atrasada, pelo vice-campeonato dos 100m rasos nos Jogos Pan-Americanos de 2019, pois em 2020 o governo não abriu edital e ele não pode pleitear o benefício.
Estamos a dois anos dos Jogos de Paris, em 2024. Neste exato momento, confederações, federações, clubes e atletas estão na tradicional ginástica das verbas para cumprir seus calendários de eventos e treinos. Esta maratona cansa bem mais que as provas.
Paulo André de Oliveira está confinado num reality show. Talvez esteja menos angustiado do que mergulhado na incerteza do isolamento do esporte brasileiro.
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