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Richarlyson declara bissexualidade e desafia o mundo do futebol
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Não existe prova mais contundente do anacronismo e do atraso de um segmento da sociedade do que alguém fazer história ao se declarar bissexual em junho de 2022. No entanto foi isto o que fez ex volante Richarlyson, ao contar sobre sua orientação sexual em entrevista para o primeiro episódio do podcast "Nos armários dos vestiários", uma série sobre homofobia no futebol, da TV Globo. Richalryson tornou-se o primeiro jogador que passou pela séria A e pela seleção brasileira a falar abertamente sobre o tema.
Em entrevista de matéria publicada no portal Globo.com, ele desafiou o mundo do futebol a tirar o foco da vida privada de cada atleta e combater o que mais interessa: a homofobia.
"(...) Só que aí eu falo hoje aqui e daqui a pouco estará estampada a notícia: "Richarlyson é bissexual". E o meme já vem pronto. Dirão: "Nossa, mas jura? Eu nem imaginava". Cara, eu sou normal, eu tenho vontades e desejos. Já namorei homem, já namorei mulher, mas e aí? Vai fazer o quê? Nada. Vai pintar uma manchete que o Richarlyson falou em um podcast que é bissexual. Legal. E aí vai chover de reportagens, e o mais importante, que é pauta, não vai mudar, que é a questão da homofobia. Infelizmente, o mundo não está preparado para ter essa discussão e lidar com naturalidade com isso" - disse Richarlyson.
O "mundo" ao qual o ex-jogador se refere é o mundo do futebol masculino, pois nem mesmo no mundo do futebol feminino e dos demais esportes uma declaração destas é inédita. Corajosamente, atletas de muitas modalidades declararam suas orientações e vivem suas vidas com naturalidade, abertamente, enfrentando os preconceitos que sim, estão em toda parte.
A fala importante do atleta que obteve uma Copa São Paulo, três estaduais, três Brasileiros consecutivos, duas Libertadores e um Mundial é um convite para que o futebol masculino saia do pensamento medieval que aprisiona e mata, pois o Brasil é o país que mais assassina a população LGBTQIA+.
É (ou ao menos deveria ser) escandaloso, que em 2007, ou seja, há cinco segundos na linha da história do planeta, tenha existido uma sentença como a do juiz Manoel Maximiniano Junqueira Filho, que arquivou uma queixa-crime de Richarlyson contra o então dirigente do Palmeiras José Cyrillo Júnior, que insinuou em rede nacional que o jogador seria gay. No texto do arquivamente,
Maximiniano alegou que não seria razoável aceitar homossexuais no futebol brasileiro porque prejudicaria o pensamento da equipe e que futebol é coisa de macho, não de homossexual.
O futebol é uma trincheira resistente da masculinidade em suas expressões mais tóxicas. Clima que atinge em cheio mulheres que extrapolam o papel de meras torcedoras e investem em carreiras dentro ou fora das quatro linhas como jornalistas, jogadoras, árbitras, etc. Não seria diferente com a população fora da lógica heterossexual. Dentro deste cenário, todo e qualquer ato de afirmação e de orgulho por ser quem é conta.
Talvez não seja exatamente agora que vamos ver o fim da homofobia nos esportes e, especificamente, no futebol. Mas quando alguém como Richarlyson joga luz nos "armários dos vestiários", é sinal de que algo se move e de que o caminho da mudança, inequivocamente, virá.
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