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Fábio Seixas

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

O que muda na Fórmula 1 em 2021

Vettel observa carros da temporada 2021 enfileirados para sessão de fotos na pré-temporada da F-1 - Clive Mason - Formula 1 via Getty Images
Vettel observa carros da temporada 2021 enfileirados para sessão de fotos na pré-temporada da F-1 Imagem: Clive Mason - Formula 1 via Getty Images

Colunista do UOL

23/03/2021 15h04

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Escrevi ontem que houve poucas mudanças no regulamento da F-1 do ano passado para este. É fato. A FIA e a Liberty preparam uma grande revolução técnica para 2022, então a ideia foi puxar o freio para esta temporada.

Mas alguma coisa mudou, sempre com o espírito de tentar trazer mais equilíbrio para a categoria. No aquecimento para a abertura do 72º Campeonato Mundial de F-1, trago aqui a lista de novidades para 2021.

"Ué, mas a lista é extensa", alguém pode dizer. Sim, mas são mudanças sutis.

A elas:

Assoalho

assoalho - Divulgação - Divulgação
O novo McLaren, com o assoalho de 2021
Imagem: Divulgação

Estão proibidos recortes e frestas que tinham o intuito de aumentar a pressão aerodinâmica. Os assoalhos terão de ser peças lisas, inteiriças. Haverá ainda cortes triangulares na parte traseira com a intenção de diminuir ainda mais a sucção de ar sob os carros. Com esta medida, em conjunto com as duas próximas, a FIA visa reduzir em 10% a pressão aerodinâmica dos carros, embora seus próprios técnicos acreditem que 5% serão recuperados pelas equipes com o desenvolvimento ao longo da temporada.

Dutos de freios traseiros

Os "winglets", ou apêndices aerodinâmicos, na parte inferior dos dutos de freios traseiros serão reduzidos em 40 mm, de 120 mm para 80 mm. Pode parecer um detalhe, mas esses winglets são muito eficientes em aumentar a pressão aerodinâmica nas rodas traseiras.

Difusor

Mais uma mudança com o objetivo reduzir a pressão aerodinâmica dos carros e, indiretamente, facilitar as ultrapassagens. O difusor traseiro será 50mm menor do que no ano passado. Essa mudança está relacionada às alterações no assoalho. A ideia é que o ar chegue mais "sujo" à traseira do carro.

Treinos de 60 minutos

Os treinos livres de sexta-feira passarão a ter 60 minutos de duração cada, e não mais 90 minutos como até o ano passado. O treino livre de sábado já durava uma hora e continuará assim. O objetivo é tornar as sextas-feiras mais dinâmicas, com mais carros na pista buscando os acertos para a classificação e a corrida. Além disso, o tempo máximo de duração de um GP _incluindo paralisações_ foi reduzido de quatro para três horas.

Sem cópias

racingpoint - Pool/Getty Images - Pool/Getty Images
Hulkenberg com o Racing Point no GP de Eifel
Imagem: Pool/Getty Images

Uma equipe não poderá mais negociar com outra a transferência de seus projetos. A ideia é impedir o que houve entre Mercedes e Racing Point no ano passado, polêmica que tomou boa parte da temporada e que terminou muito mal explicada. A nova rega estipula que "embora seja permitido uma equipe ser influenciada por um design ou conceito de uma equipe rival", toda informação deve ser obtida por meio de fotos ou observação. Ou seja, nada de troca ou venda de documentos e projetos. Também está vetado o uso de câmeras 3D no pitlane para escanear carros concorrentes. (Sim, as equipes faziam isso).

Escapamentos limitados

Os escapamentos passam a fazer parte da lista de componentes com uso limitado. Nenhum piloto pode usar mais de oito ao longo da temporada, sob pena de perda de posições no grid. Isso já acontece com motores (limite de três por temporada), MGU-H (sistema de recuperação de energia térmica, três), turbos (três), baterias (duas), centralina eletrônica (duas) e MGU-K (sistema de recuperação de energia cinética, três).

Fim do DAS

Está proibido o DAS (Dual Axis Steering), sistema criado pela Mercedes, que permitia a Hamilton e Bottas mudarem a cambagem, ou ângulos de ataque, das rodas dianteiras com um puxão do volante. Era uma linda ferramenta para aquecer pneus, usada pela equipe alemã até o fim da temporada passada.

Testes aerodinâmicos

Talvez a mais clara e mais eficiente tentativa de equilibrar as forças. Quanto mais baixa tiver sido sua posição no Mundial de Construtores de 2020, mais tempo uma equipe terá para testes aerodinâmicos em 2021 e nos quatro anos seguintes. Isso será crucial, já que os carros do próximo ano serão bem diferentes. Última colocada no Mundial de 2020, a Williams poderá usar o túnel de vento e a simulação de CFD (Computational Fluid Dynamics) por 112,5% do tempo utilizado no ano passado. No período de 2022 a 2025, o "bônus" sobe para 115%. Já a Mercedes, campeã, tem direito a apenas 90% do tempo gasto em 2020 com testes aerodinâmicos. E essa cota cai para 70% nas próximas quatro temporadas.

Mais pesados

O peso mínimo dos carros, sem combustível e fluidos, aumentou de 746 kg para 752 kg. O das unidades de potência, de 145 kg para 150 kg. O objetivo é desencorajar as equipes na busca por materiais exóticos mais leves e, por consequência, muito mais caros.

Teto de custos

Um antigo plano dos dirigentes finalmente será colocado em prática. Em 2021, nenhuma equipe poderá gastar mais de US$ 145 milhões. O teto cairá para US$ 140 milhões em 2022 e para US$ 135 milhões em 2023. Há exceções: gastos com marketing e com planos de saúde, além de salários dos pilotos e de outros três altos funcionários da equipe. Cada time ainda poderá investir mais US$ 45 milhões até 2024 a título de "aumento de capital", comprando equipamentos ou ampliando as fábricas, por exemplo. É incrível como algumas histórias sempre voltam, como uma novela antiga. Repito aqui o que já escrevia no antigo blog: a intenção é nobre, mas não é viável. Como a FIA vai controlar os gastos das dez equipes? Alguém realmente acredita que uma equipe não dará um jeitinho de estourar o teto se isso significar uma melhora de desempenho na pista?

Pneus

Os compostos de 2021 serão mais "robustos", segundo a Pirelli. O objetivo é evitar falhas como as que aconteceram em Silverstone no ano passado, derivadas da imensa pressão aerodinâmica dos carros, principalmente em curvas. Segundo a empresa, a força lateral a que os pneus estavam submetidos no ano passado foi um recorde. Parte deste problema deve ser aliviado com as três mudanças aerodinâmicas ali do topo da lista, mas a Pirelli não quer arriscar. Esses novos pneus foram usados em alguns treinos livres do ano passado e fizeram a estreia pra valer nos três dias de testes pré-temporada, no começo do mês.

Ainda os pneus

Fim da liberdade de escolha. Todos os pilotos passarão a receber dois jogos de pneus duros, três de médios e oito de macios por fim de semana. Além disso, o prazo para a Pirelli anunciar os compostos disponíveis para cada etapa caiu drasticamente, para apenas 2 semanas _eram 15 para GPs fora da Europa e 9 para GPs no continente. Essa é uma medida preventiva caso a pandemia force mudanças no calendário ao longo do campeonato.

F-1 verde

A FIA passa a autorizar o uso de novos materiais ecológicos na construção dos carros, como linho, algodão, bambu e cânhamo. Como no caso do teto de custos, a intenção dos dirigentes é das mais nobres, mas prefiro ver a aplicação prática antes de aplaudir.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL