Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Em nome de mais ultrapassagens, F-1 corta asas do novo carro
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Eis a cara da Fórmula 1 do futuro.
Num show cheio de tecnologia transmitido pela internet, com a participação de dirigentes, engenheiros e pilotos, a categoria revelou nesta quinta-feira o carro-conceito para os próximos anos.
O evento teve a marca do entretenimento, o principal negócio da Liberty Media, que há pouco mais de quatro anos assumiu o comando da categoria: cenas do passado, espetáculo musical, efeitos visuais futuristas.
É um modelo em tamanho real, escala 1:1, seguindo todas as mudanças do Regulamento Técnico que passa a vigorar no campeonato do ano que vem.
"É o começo de uma nova era", anunciou a F-1 logo de cara.
O aumento no número de ultrapassagens foi o mantra usado pelos principais dirigentes da categoria. É, afinal, a essência das mudanças.
"Os carros vão estar mais próximos na pista", disse Jean Todt, presidente da FIA. "Hoje é um dia empolgante para o esporte. As regras criarão as condições para corridas mais competitivas, com mais ultrapassagens", declarou Stefano Domenicali, da Liberty.
A apresentação contou com um trecho gravado: um segundo protótipo foi exibido em plena reta de Silverstone para os pilotos. "Parece bem old school", disse Ricciardo, da McLaren, referindo-se à asa traseira. "Tem uma aparência muito agressiva", opinou o ferrarista Leclerc. "Espero que atinja o objetivo de tornar as corridas mais excitantes", afirmou Hamilton, da Mercedes, do alto de seus sete títulos mundiais.
A cerimônia de 30 minutos foi encerrada por uma apresentação da banda inglesa Jungle. Muito prazer.
Estou com Leclerc.
À primeira vista, essa "nova era" significa um carro com visual mais agressivo. O novo F-1 é mais limpo de apêndices aerodinâmicos, tem rodas de 18 polegadas e traz, principalmente, mudanças nos aerofólios. A asa dianteira passa a ter apenas quatro elementos. E a asa traseira é menor que as dos carros atuais.
O corte das asas traseiras tem relação direta com o mantra de proporcionar mais ultrapassagens e, em tese, faz todo sentido.
A ideia dos engenheiros é que o assoalho passe a ser o grande responsável pela pressão aerodinâmica dos carros. É o retorno do efeito-solo, oficialmente banido em 1982, mas que passou a ser mais e mais explorado pelas equipes nos últimos anos por meio de brechas no regulamento.
Assim, a tarefa de "grudar" os carros no chão fica menos dependente dos aerofólios traseiros, que podem ser reduzidos. Asas menores geram menos turbulência aerodinâmica. A consequência esperada disso é o aumento do número de ultrapassagens.
As novidades chegam com uma temporada de atraso. Inicialmente, o plano da Liberty era que o novo pacote de regras fosse implementado em 2021, mas a pandemia adiou tudo.
As cabeças por trás dessa "nova F-1" são Ross Brawn e Pat Symonds, engenheiros que transformaram a Benetton em equipe campeã mundial nos anos 90. Hoje eles comandam o painel técnico de 12 especialistas montado pela Liberty.
Ex-parceiro de Brawn na Benetton e na Ferrari, hoje também integrante do painel, Nikolas Tombazis resumiu o espírito das mudanças: "Queremos tornar mais possível que um carro persiga o outro e que possa batalhar por posições. Queremos pneus que deem aos pilotos a chance de disputar posições sem se preocuparem com degradação ou com apenas uma janela curta de uso para esse ataque. São carros mais simples que os atuais porque vários componentes foram removidos e porque as asas dianteiras são mais limpas".
É, de certa forma, uma volta ao passado em nome de corridas melhores. Brawn, Symonds e Tombazis entendem muito do recado.
Estou otimista. O conceito é bom, tem tudo pra dar certo.
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