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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Verstappen vence GP mais curto da história

Max Verstappen, da Red Bull, ergue o troféu após vencer o GP da Bélgica de Fórmula 1 - CHRISTIAN HARTMANN/REUTERS
Max Verstappen, da Red Bull, ergue o troféu após vencer o GP da Bélgica de Fórmula 1 Imagem: CHRISTIAN HARTMANN/REUTERS

Colunista do UOL

29/08/2021 14h03

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Não houve corrida. Mas o regulamento diz que sim.

O GP da Bélgica, 12ª etapa do Mundial de F-1, foi de um anticlímax histórico.

A região de Spa-Francorchamps foi atingida por uma chuva forte e intermitente neste domingo. Após sucessivos adiamentos, a direção de prova decidiu por um teatrinho: fez os 20 pilotos largarem atrás do safety car e, depois de quatro voltas, determinou bandeira vermelha.

Fim de prova, com metade dos pontos distribuídos para os pilotos. Foi o GP mais curto da história, superando o GP da Austrália de 1991, que teve 14 voltas.

Vitória (ou meia vitória) para Verstappen, seguido por Russell e Hamilton. Com o resultado, o inglês vai a 202,5 pontos, contra 199,5 do holandês. Sim, provavelmente vamos ter que nos acostumar com esses números quebrados até o fim do ano.

A bagunça deste domingo começou antes mesmo da largada: Pérez escorregou e bateu na Les Combes, a caminho do grid. Fico imaginando o bom humor de Marko ao ver a cena, dois dias após o anúncio da renovação de contrato do mexicano...

Com muita chuva às 15h locais, horário original da largada, o início da prova foi adiado quatro vezes: para 15h10, 15h15, 15h20 e 15h25, quando enfim veio a volta de apresentação.

Mas o cenário era crítico, como os pilotos fizeram questão de deixar claro.

"Está escorregando muito", logo disse Hamilton pelo rádio. "Mal posso ver o carro na minha frente. E está aquaplanando", relatou Norris. "Está impraticável", avisou Giovinazzi. "Não consigo ver absolutamente nada", reportou Russell.

É. Não tinha jeito. Bandeira vermelha, todos de volta para os boxes. E seguiu-se então uma longa espera, com muito disse-que-disse, muita polêmica sobre a possibilidade de Pérez participar da corrida, muita indefinição da direção de prova.

O único ponto que ficou claro é que, mesmo numa categoria tão antiga e de nível tão elevado como a F-1, o regulamento ainda é cheio de vácuos e brechas para interpretações.

Com a suspensão consertada, Pérez foi liberado a correr, saindo do pit lane. Às 17h locais, 12h no Brasil, o cronômetro da prova foi fixado em uma hora _a direção usou o "motivo de força maior" previsto no Código Esportivo Internacional da FIA para encurtar a corrida. Permanecia, porém, a incerteza sobre a retomada da prova.

Foram sucessivos adiamentos até que, às 13h07 de Brasília, a direção de prova anunciou a largada para dali a 10 minutos. Correria nos boxes, pilotos calçando as luvas, mecânicos tentando acertar tudo de novo outra vez.

Eis que finalmente, três horas e 17 minutos depois do horário original, a prova foi retomada, com os carros deixando o pit lane atrás do safey car.

A pista ainda estava bastante molhada, mas em condições de receber corrida. E, a cada passagem do pelotão de carros, a situação ia melhorando. Mas, após quatro voltas, veio nova indicação de bandeira vermelha.

Ficou clara a intenção da direção de prova. O artigo 3.2.4 do Regulamento Esportivo estipula que metade dos pontos devem ser distribuídos se "o líder completa mais de duas voltas ou menos de 75% da distância original".

Às 13h44 de Brasília, enfim, veio a confirmação de que não haveria um GP propriamente dito.

Foi um domingo de F-1 sem luzes apagadas, sem ultrapassagens, sem bandeirada.

Segurança é fundamental, isso é indiscutível. Mas tenho a impressão de que daria para fazer corrida naquela última tentativa. Daria, ao menos, para insistir mais.

O pódio foi das coisas mais sem graça que já vi nesses anos todos acompanhando a categoria. A exceção foi Russell, feliz da vida com seu primeiro pódio.

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George Russell, da Williams, comemora a segunda colocação no GP da Bélgica
Imagem: CHRISTIAN HARTMANN/REUTERS

"Não é assim que eu gostaria de ter vencido. Acho que daria para ter largado mais cedo. O crédito vai para os fãs, que ficaram aqui o dia todo", disse Verstappen, que agora soma 16 vitórias na carreira e 6 nesta temporada.

A volta das férias da F-1 terá de esperar mais uma semana. Por mais que o regulamento diga o contrário, a prova de hoje não valeu.