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Fábio Seixas

REPORTAGEM

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Após vexame da Bélgica, F-1 vai discutir mudanças nas regras

Michael Masi, diretor de provas da FIA, durante o GP da Bélgica, 12ª etapa do Mundial de F-1   - Reprodução/F1TV
Michael Masi, diretor de provas da FIA, durante o GP da Bélgica, 12ª etapa do Mundial de F-1 Imagem: Reprodução/F1TV

Colunista do UOL

31/08/2021 10h09

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Mecânicos trabalhando sem saber se o carro poderia ir pra pista, pilotos sem saber se disputariam uma corrida, direção de prova sem saber se dava a largada, torcedores sem saber se veriam carros em ação.

Ninguém sabendo nada.

A histórica patacoada do GP da Bélgica revelou brechas inexplicáveis e falhas graves no regulamento da categoria máxima do automobilismo. E a FIA, sempre tão soberba, sentiu o golpe.

Em comunicado nas redes sociais, Jean Todt, presidente da entidade, já marcou até data para a discussão. "Em conjunto com os times, vamos rever as regras, ver o que aprendemos e entender como podemos melhorar. A questão da alocação de pontos será acrescentada à próxima reunião da Comissão de F-1, em 5 de outubro", escreveu o francês.

"Teremos de olhar para muitos pontos na nossa próxima reunião", disse o australiano Michael Masi, diretor de provas da F-1 desde 2019. "Estamos naquele estágio do ano em que trabalhamos com as equipes para desenvolver as regras para o ano seguinte. Teremos que revisitar cada episódio do final de semana e entender o que cada um pensa."

Serão reuniões intensas, certamente. Não faltará assunto.

A começar pela situação vivida por Pérez. O mexicano aquaplanou a caminho do grid, bateu e danificou a suspensão dianteira direita. Não participou da primeira volta de apresentação. Com a demora para uma nova tentativa, porém, a Red Bull trabalhou freneticamente no seu carro para colocá-lo em condições de correr. Mesmo sem saber se poderia.

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A Red Bull de Sergio Perez, que bateu ainda na volta de apresentação para o GP da Bélgica, em Spa
Imagem: KENZO TRIBOUILLARD/AFP

Após a primeira consulta do time, Masi rejeitou o retorno de Pérez à prova. "Ele não voltou aos boxes por seus próprios meios", argumentou pelo rádio. "Apoio mecânico só conta se está havendo uma corrida", rebateu Jonathan Wheatley, diretor esportivo da equipe.

O diretor de prova, então, disse que ele e os comissários "dariam uma olhada nas regras".

Mas o Regulamento Esportivo é vago neste ponto. O artigo 4.8.1 estipula que "todo carro que não completa a volta de apresentação e que não chega com seus próprios meios ao grid não pode começar a corrida do grid".

Ok, a equipe então alegou que o mexicano poderia sair do pit lane.

Mas entraram em jogo outros dois artigos, o 4.8.11 e o 4.8.14. que dizem que todo carro largando do pit lane deve participar da volta de apresentação e que esta volta precisa ser descontada da distância original da prova.

Foram horas de debate entre a direção da Red Bull e a direção de prova, até que Pérez foi autorizado a largar.

Mas ele teria que ter uma volta descontada, certo? Não foi o que aconteceu, porque os comissários entenderam que a volta de apresentação não foi completada.

Como não, se foi uma passagem completa pelos 7 km da pista? Onde está isso no livro de regras? Não está. E a Mercedes, claro, reclamou na hora.

"É uma peculiaridade que não foi antecipada pelo regulamento", admitiu Masi.

Mas ainda havia o grande tema do dia. Largar ou não largar, eis a questão.

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Momento em que a direção de prova encerrou o GP da Bélgica
Imagem: Reprodução/F1TV

O Regulamento Esportivo simplesmente não cogita a possibilidade de cancelamento de uma etapa do Mundial. No máximo, fala em "suspensão" de uma corrida já iniciada. Por isso, os esforços da FIA em tentar tudo para dar um aspecto de normalidade ao caos.

Para fazer o que fez em Spa, Masi precisou juntar três artigos do regulamento: o 4.8.14, que estipula voltas atrás do safety car em situações críticas, o 4.14, que determina fim de corrida em caso de risco físico, e o 3.2.4, que estabelece que se um GP for encerrado com mais de duas voltas completas e menos de 75% da distância, vale metade dos pontos.

Aqui entra outra questão que pode mexer com o Mundial: os pilotos não deram "mais de duas voltas completas". Retornaram ao pit lane ao fim da segunda volta. Por isso, a classificação oficial do GP aponta apenas uma volta para todos os pilotos.

Nos bastidores, muita gente acredita que a Mercedes pode tentar anular o GP, que afinal tirou cinco pontos da vantagem de Hamilton para Verstappen.

"Foi o dia mais frenético da minha carreira", resumiu o australiano.

Com tanto buraco para tapar, com tanta discussão para acontecer, com tanto trabalho pela frente, é um dia que ainda está longe de terminar.