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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Contra tudo, Hamilton faz corrida espetacular e vence em São Paulo

Lewis Hamilton percorre a volta de desaceleração em Interlagos carregando a bandeira do Brasil  - Fórmula 1
Lewis Hamilton percorre a volta de desaceleração em Interlagos carregando a bandeira do Brasil Imagem: Fórmula 1

Colunista do UOL

14/11/2021 15h35

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Hamilton trocou motor e foi punido. Hamilton fez a classificação com uma asa irregular e foi punido. Hamilton foi tirado da pista pelo rival.

Hamilton não se abateu. Em Interlagos, o inglês fez uma das grandes provas de sua carreira. Largando em décimo, venceu pela terceira vez no Brasil e pela 101ª vez na F-1, marca tão emblemática quanto irônica: em solo brasileiro, igualou todas as vitórias brasileiras na categoria.

Mas, mais importante no momento, reduziu a vantagem de Verstappen no campeonato de 21 para 14 pontos. Respirou. Voltou a ver no horizonte a possibilidade de virar o Mundial.

"Vamos continuar em frente, vamos continuar acelerando", disse o inglês pelo rádio, antes de pegar a bandeira brasileira com um fiscal e levar seus torcedores à loucura. Na comemoração, soltou o cinto de segurança, o que lhe rendeu uma multa de 5 mil euros, cerca de R$ 31 mil.

"As coisas continuam acontecendo contra a gente, mas a gente segue lutando", completou o vencedor, em entrevista para Massa, ao sair do carro.

Foram exatos 728 dias de espera. Quase dois anos sem F-1.

Interlagos foi recompensado.

O GP de São Paulo assistiu a um duelo de gigantes. Verstappen e Hamilton, os duelistas pelo título, aceleraram forte, jogaram com estratégia, deram uma demonstração prática de porque são fora de série, de porque este campeonato empolga tanta gente mundo afora.

Na largada, asfalto muito mais quente do que no sábado, 53°C. Dos 20 pilotos, apenas Tsunoda optou por usar os pneus macios, todos os outros escolheram os médios.

E Verstappen foi muito bem. Não quis dar margem para problema, acelerou forte, fez a primeira perna do S lado a lado com Bottas e assumiu a ponta na segunda. Pérez aproveitou o embalo e também passou o finlandês. Um pouco mais atrás, Sainz mandou Norris para fora da pista. "Eu estava espremido, não tinha o que fazer", disse o espanhol pelo rádio.

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Max Verstappen, da RBR, ganhou a posição de Valtteri Bottas, da Mercedes, na largada
Imagem: CARL DE SOUZA/AFP

O show de Hamilton começou cedo. Passou quatro carros na primeira volta e cruzou em sexto. Na segunda volta, passou Sainz e pulou para quinto. Na terceira, deixou Leclerc para trás: quarto colocado. Na quinta, superou Bottas, que quase parou o carro na reta para dar passagem. Sim, de décimo para terceiro em apenas cinco voltas.

"Obrigado, Valtteri", lançou o inglês pelo rádio.

Na sexta volta, Tsunoda tsunodou e acertou Stroll no S. Pedaços de carro voaram pela pista, obrigando a entrada do safety car. O top 10 àquela altura da prova tinha Verstappen, Pérez, Hamilton, Bottas, Leclerc, Sainz, Vettel, Gasly, Ocon e Ricciardo.

A relargada veio na 10ª volta. Verstappen saiu bem e contou com a defesa de Pérez, que segurou atrás de si um Hamilton alucinado e fritando pneu.

Na 11ª, o holandês tinha 1s2 para Pérez, que tinha 0s7 para Hamilton.

Foi quando Schumacher e Raikkonen se encontraram, esbagaçando a asa dianteira do alemão. Novo safety car, agora virtual, com relargada na 14ª volta.

Pilotando com a faca nos dentes e com mais velocidade nas retas, Hamilton partiu para cima de Pérez. Na 17ª, encostou. Na volta seguinte, deu o bote e passou por fora, na entrada do S do Senna. Mas o mexicano fez valer seu salário e deu o trocou na Reta Oposta.

O inglês, claro, não se conformou. Na 19ª, repetiu a manobra: ultrapassagem por fora, no mesmo S. A torcida em Interlagos explodiu. Desta vez, o inglês impediu qualquer contra-ataque e segurou-se na posição. Um show de habilidade, um show de pilotagem.

Pronto. Ficou no mano a mano.

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Max Verstappen, da Red Bull Racing, e Lewis Hamilton, da Mercedes, disputam primeira posição
Imagem: NELSON ALMEIDA/AFP

Verstappen tinha, então, 3s8 sobre o inglês. Duelo franco, aberto, com os duelistas pelo título trocando voltas mais rápidas, marcando um ao outro.

"Está começando a escorregar agora", avisou o holandês na 25ª volta. "A traseira do carro está solta", completou Hamilton, como se tivesse escutado o rival.

Na 27ª, um momento-chave da corrida. A Mercedes, que tanto errou em estratégias neste ano, deu um xeque na Red Bull. Hamilton entrou nos boxes e colocou pneus duros. Verstappen fez a mesma troca na volta seguinte e retornou imediatamente à frente do inglês, mas com os compostos mais frios. Ficou ruim para ele.

Hamilton pisou forte, cravou a melhor volta até aquele momento, reduziu a folga do holandês para apenas 1s6.

Na 31ª, novo safety car virtual, com pedaços do carro de Stroll caindo em plena reta. Sorte de Bottas: a Mercedes chamou o finlandês para os boxes, que se aproveitou da situação e ganhou a posição do Pérez.

Assim que a disputa foi reiniciada, Hamilton encheu os retrovisores de Verstappen. Nas retas, a Mercedes era mais rápida. No miolo do circuito, o holandês conseguia respirar um pouco, mas sofria para manter o rival fora da zona de acionamento do DRS.

Na 41ª volta, a Red Bull tentou dar o troco da primeira janela de pits. Chamou Verstappen para os boxes, na tentativa de evitar a troca de posições. Jogo novo de pneus duros para ele, que foi atrapalhado por Latifi na entrada e na saída do pit lane.

Hamilton assumiu a liderança, a dúvida passou a ser o momento de seu pit.

Aconteceu na 43ª. Colocou também pneus duros e voltou atrás de Verstappen, o que despertou sua indignação. "Não eram esses pneus", gritou o inglês, que havia sugerido os médios. "Ainda há um longo trecho pela frente", respondeu seu engenheiro.

A tréplica de Hamilton foi se lançar para cima de Verstappen. Na 47ª volta, encostou: 0s5.

Na 48ª, Interlagos ficou de pé. Hamilton passou no fim da Reta Oposta, Verstappen não cedeu, ambos saíram da pista, posições mantidas até então. A FIA abriu investigação, mas deixou pra lá. Decisão acertada. Foi uma disputa dura, mas não vi deslealdade.

Hamilton recolheu, chiou da falta de ação dos comissários, preparou novo bote. Que veio na 58ª volta, exatamente no mesmo local, a Curva do Lago. Verstappen se defendeu.

Na volta seguinte, enfim, a ultrapassagem do ano!

Hamilton entrou na Reta Oposta colado no rival. Tirou pra direita. Mergulhou. Passou. Consagrou ali sua sexta vitória no ano.

Verstappen mudou duas vezes de posição, foi advertido, precisou se resignar. A partir daí, em nenhum momento voltou a ficar próximo do inglês.

"Foi uma boa batalha. No final eu não tinha ritmo suficiente, mas foi bem divertido", disse o holandês, ao fim da prova. "Temos ainda pontos na liderança. Hoje foi um dia para minimizar o prejuízo, sigo muito confiante para as próximas provas."